CRIMES

Poder, polícia e mortes: Briga para entrar na diretoria do Sindimoc já teve prisões e homicídios

Denilson Pires já havia sido detido pelo Gaeco. Foto: Arquivo.

A história do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc) tem episódios violentos, marcados por assassinatos, eleições turbulentas e cassações de mandatos. Como a Tribuna mostrou ontem, a atual gestão está sendo investigada por supostas irregularidades, como apropriação indébita, nepotismo e superfaturamento, em inquérito policial conduzido pelo Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce).

O primeiro presidente do Sindimoc, José Martins Costa, teve o mandato cassado em 1994. Neste mesmo ano, houve eleições e a categoria escolheu Aristides da Silva, mais conhecido como ‘Tigrinho‘, para presidência. ‘Tigrinho‘ foi assassinado em Itapoá, Santa Catarina, em 1998, crime até hoje não solucionado. O vice dele, Denilson Pires, assumiu o cargo e acabou eleito presidente nas eleições daquele mesmo ano. Ficou no cargo por dois mandatos.

Em 2009, enquanto Denilson ainda era presidente, o secretário geral do Sindimoc, Alcir Teixeira, conhecido como “Zico” (pai do atual presidente, Anderson Teixeira), foi morto num suposto assalto quando chegava em casa, no Xaxim. Outro crime que, até hoje, não teve autores identificados e ninguém sabe se realmente tratou-se de um assalto, já que “Zico” dizia ter descoberto irregularidades no sindicato e prometia levá-las às autoridades policiais. No ano seguinte, 2010, houve novas eleições. Anderson se candidatou. Cinco dias antes do pleito, sofreu um atentado a tiros em frente a sua casa, no Sítio Cercado. Ninguém se feriu. Anderson se elegeu presidente do Sindimoc.

Desvio

Também alguns dias antes das eleições, o então presidente do sindicato, Denilson Pires, que concorria à reeleição, e outros diretores da entidade, foram presos pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), braço investigativo do Ministério Público do Paraná (MP-PR), por supostas fraudes em sua gestão. Segundo a denúncia oferecida pelo Gaeco, eles teriam desviado cerca de R$ 8 milhões da entidade. À época, Denílson alegou que nenhuma irregularidade havia sido cometida durante a sua gestão, e acusou a chapa de oposição de calúnia.

A investigação do Gaeco virou ação penal, tramitando na 9.ª Vara Criminal de Curitiba, sob o número 000107012.2011.8.16.0013. Várias diligências foram feitas e testemunhas ouvidas. São réus nesta ação a antiga diretoria do Sindimoc e pessoas que já foram ligadas à entidade: Denilson Pires da Silva, Valdenir Dielle Dias, Valdecir Bolete, Ana Ilíbia Grein, Márcio Ramos, João Carlos da Rosa, Pedro Paulo de Macedo da Costa Lino, Nereide de Fátima Butinhoni, e Denis Kadri Jorge. A atual gestão do Sindimoc, presidida por Anderson Teixeira, informou que tem todo interesse em reaver os recursos que teriam sido desviados por ex-dirigentes.

Denilson e sua chapa foram soltos no dia da eleição, que foi muito tensa e precisou ser acompanhada pelo Gaeco, pelo Ministério Público do Trabalho e pela polícia, para que pudesse ser concluída sem problemas mais graves. A eleição seguinte, em 2014, também foi muito tensa, mas resultou na reeleição de Anderson.

Anderson Teixeira é o atual mandatário do Sindimoc. Foto: Marcelo Andrade.
Anderson Teixeira é o atual mandatário do Sindimoc. Foto: Marcelo Andrade.

Trabalhadores prejudicados

Não é só o Sindimoc que passa por investigação. No Ministério Público do Trabalho (MPT), a Tribuna encontrou outras investigações em andamento, por situações diversas que atentariam contra os direitos da coletividade trabalhista. Além destas denúncias formais, uma contadora experiente, que atende vários sindicatos, conta que já presenciou irregularidades em alguns e decidiu romper os contratos, sem denunciá-los, por medo. Ela pediu para se manter anônima. São desde coisas mais ‘simples‘ até outras mais graves.

Em um dos sindicatos que já atendeu, ligado à área de saúde, apesar de todos os sócios que pagam a mensalidade terem, em tese, direito a usar a sede de lazer, no litoral do Paraná, apenas a diretoria conseguiria utilizá-la. Já em outro sindicato, ligado ao ramo rodoviário, trabalhadores estariam sendo enganados na hora da homologação da rescisão de contrato. Os trabalhadores estariam recebendo menos do que teriam direito (confiando que os cálculos que o sindicato fez estão certos) e o que seria retirado do trabalhador seria, então, distribuído entre sindicato laboral e patronal. Os nomes destes sindicatos não foram divulgados a pedido da contadora, para que ela não seja identificada.

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