Uma mulher morreu e duas pessoas ficaram feridas após a espingarda calibre 12 de um policial militar da Ronda Ostensiva Tática Móvel (Rotam) do 23.º Batalhão disparar acidentalmente durante uma abordagem após uma confusão em um bar no Novo Mundo, em Curitiba, na noite de domingo (09).
A ocorrência que originou o deslocamento dos policiais até o bar na Avenida Brasília, esquina com a Rua João Ribeiro Lemos, foi registrada pela Polícia Militar às 21h40. Via telefone 190, o solicitante relatou que houve uma briga no bar e um homem armado ameaçava os clientes.
O motivo da confusão não foi informado, porém, os envolvidos foram retirados do estabelecimento. Segundo testemunhas, esse homem armado se identificou como sendo um policial militar, mas a informação não foi confirmada pela PM. “Essa pessoa não chegou a ser identificada. A ocorrência que se originou via 190, ficou no ar. Antes de ser feita a revista pessoal, aconteceu o fato lamentável”, afirmou o tenente-coronel Assunção, comandante do 13.º Batalhão que atende o Novo Mundo.
Mesmo não sendo a área de atuação, uma equipe da Rotam do 23.º Batalhão, ao retornar para a Cidade Industrial de Curitiba (CIC), região que atua, após ter encaminhado um menor infrator à Delegacia do Adolescente, ouviu no rádio a ocorrência de ameaça por arma de fogo e procurou prestar auxílio. “Pelo fato de estarem próximos do local e para evitar uma tragédia eles foram atender essa situação”, disse Assunção.
O tenente-coronel relatou que na chegada ao local os policiais se posicionaram de acordo com a técnica e o soldado Yago, responsável pela segurança da equipe, efetuou o “golpe de segurança”, procedimento feito para engatilhar a arma, e quando retornou, a arma disparou, sem mesmo estar com o dedo no gatilho.
Três pessoas foram baleadas – Sandra Mara Rangel, 42 anos, tia de Diogo Willian Rangel, 26 e Ana Carolina Munhoz, 27. Sandra foi atingida no rosto, foi encaminhada ao Hospital do Trabalhador, mas não resistiu. Diogo foi ferido na cabeça e está na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Evangélico em estado grave e corre risco de morte, segundo a assessoria do hospital. Ana foi encaminhada ao Hospital do Trabalhador e liberada em seguida.
RELATOS – A reportagem foi até o bar, mas estava fechado. O dono abre diariamente após as 18h. Funcionários de uma empresa relataram que de fato houve uma confusão e que o suposto policial sacou a arma, dizendo que ia chamar alguns “amigos”. “Quando a Rotam chegou, a briga já tinha terminado e o pessoal estava sentado aqui (em uma mureta do posto de gasolina). O cara apontou pra eles e a polícia veio abordar e deu nisso”, relatou. A testemunha contou que estava um alvoroço e as vítimas estavam com as mãos na cabeça quando o disparou aconteceu.
Após o tiro, o soldado foi colocado dentro da viatura porque as pessoas estavam revoltadas a ponto de capotar a viatura. Ele foi ouvido pela Corregedoria da Polícia Militar e encaminhado para avaliação psicológica. Um inquérito policial militar foi aberto e enquanto isso, o militar ficará afastado da área operacional.
De acordo com o comandante, ofícios foram enviados ao Ministério Público do Paraná e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) convidando-os a acompanhar os trâmites do inquérito policial. “Queremos transparência nas investigações, por isso fizemos esse pedido para que sejam esclarecidos todos os fatos”.
ARMAMENTO – A arma foi recolhida ao Instituto de Criminalística para exames de prestabilidade, que farão parte do inquérito. “Não podemos pré-julgar sem antes saber se o que houve foi defeito no mecanismo do armamento”, relatou Assunção, que confirmou que na posição que o soldado estava ao realizar o golpe de segurança, a arma estava na mira das pessoas. Esta arma é usada pelos policiais de unidades especializadas c,omo a Rotam pelo alto poder de fogo, e o golpe de segurança é dado para “intimidar”. Em apenas um tiro, vários esferas de chumbo são disparadas.
REVISÃO – A Polícia Militar afirmou estar revendo alguns protocolos de abordagem, segundo o órgão, antes mesmo do ocorrido. “Temos que analisar se há necessidade de dar o golpe de segurança com a arma apontada”, entre outras ações. As armas dos policiais também estão sendo encaminhadas para recall. Há relatos de policiais que tiveram falhas nas pistolas, até mesmo espingardas como a que disparou acidentalmente ser acionada somente com o solavanco dentro da viatura.