Voo perigoso

Pipas viram preocupação em Curitiba e RMC na pandemia por aglomerações e cerol

Moradores de Fazenda Rio Grande, na região metropolitana, formam aglomeração em plena pandemia para soltar pipa no último domingo (17). Foto: Lineu Filho / Tribuna do Paraná

A simples brincadeira de soltar pipa virou motivo de preocupação em Curitiba e região metropolitana na pandemia de coronavírus. Muitas crianças, adolescentes e até adultos estão rompendo o isolamento social para soltar pipa nas ruas. A preocupação maior são os festivais, que chegam a juntar centenas de pessoas em pleno período em que a população deve evitar aglomerações por causa da covid-19.

No último domingo (17), a reportagem da Tribuna flagrou cerca de 100 pessoas soltando pipa no bairro Jardim Veneza, na cidade de Fazenda Rio Grande. Quase todas as pessoas, muitas famílias com crianças, não usavam máscara, o que, além do risco de contágio, vai contra o decreto do governo do estado que obriga o uso da proteção.

A venda de pipas em lojas especializadas comprova o tamanho do problema. Apenas uma dessas lojas consultada pela reportagem já vendeu perto de 50 mil pipas desde o início da pandemia em Curitiba, na metade de março. Achar pipa para vender na capital, inclusive, virou raridade.

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Há ainda outro fator que preocupa essa explosão pela procura de pipas: o cerol. A mistura de caco de vidro moído com cola aplicada na linha é proibida por lei pelo risco de acidentes, especialmente envolvendo motociclistas, que podem ter cortes profundos em contato com o cerol.

Em março, no início da pandemia, a Guarda Municipal de Curitiba não registrou nenhuma ocorrência envolvendo cerol, mas em abril os registros saltaram para 97 ocorrências. O mês de maio ainda nem terminou e já tem 109 ocorrências de cerol até segunda-feira (18). Dez destes casos foram só no último fim de semana.

IMAGENS DE AGLOMERAÇÃO PRA SOLTAR PIPA EM FAZENDA RIO GRANDE

Ainda neste mês, um motociclista sofreu 13 pontos na mão ao se defender da linha na Rua Niterói, no bairro Cajuru. Apesar do corte profundo na mão, a ação de defesa do salvou a vida do condutor da moto, pois se o cerol pegasse a região do pescoço, o acidente poderia ter sido fatal.

“Os números são preocupantes, pois podem colocar uma vida em risco, especialmente os motociclistas. Reforço que a Guarda Municipal está fazendo seu trabalho preventivamente evitando campeonatos e acidentes. Apelamos para o bom senso das pessoas”, pede o secretário municipal de Defesa Social e Trânsito, Guilherme Rangel, responsável pela GM.

Por que esse aumento?

O aumento na procura por itens para a confecção de pipas ou das peças já prontas não tem uma explicação concreta. Alguns comerciantes apontam que os pipeiros estão aproveitando os ventos favoráveis da estação. Outros acreditam que as pessoas estão cansadas de ficar em casa na pandemia e querem fazer um programa familiar.

O que é claro é o risco que essas pessoas correm ao se aglomerarem – a orientação das autoridades de saúde é de que as pessoas mantenham a distância mínima de 1,5 m com outras pessoas e sempre usem máscara para evitar o contágio da covid-19.

No fim de abril, aconteceram dois festivais de pipas em Curitiba. Na CIC, a Polícia Militar (PM) teve de ser acionada para orientar as pessoas a ir para casa. No bairro Sitio Cercado, a aglomeração chegou a deixar o prefeito Rafael Greca (DEM) bem irritado.

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“Não estamos vivendo um período de férias ao sol, nem de lazer prolongado. Estamos vivendo uma prolongada estiagem e um tempo de pandemia. Estamos com grave dificuldade. Isto é irresponsabilidade e irresponsabilidade em saúde publica pode ser homicídio ”, desabafou o prefeito Greca. No último domingo, mais uma aglomeração para soltar pipas flagrada pela Tribuna em Fazenda Rio Grande, na região metropolitana.

Os eventos são criados nas redes sociais. Rangel relata que a prefeitura tem recebido muitas denúncias de aglomerações causadas por pipas e que a Guarda Municipal está orientada a agir para impedir esta situação. Entretanto, admite o secretário municipal, nem sempre dá tempo de coibir esse tipo de aglomeração.

“Colocamos várias viaturas para monitorar isso, mas nem sempre a denúncia chega a tempo. É muito importante a população ajudar denunciando, pois assim acaba com a aglomeração e o uso do cerol, que pode até matar”, ressalta o secretário.

Pipas em falta

A Tribuna procurou lojas que vendem pipas, mas somente uma atendeu a reportagem. Uma das proprietárias da Arte Pipas e Fogos, no Bairro Alto, Andressa Nilo explica que o comércio do setor não está tendo mais produtos para vender pela enorme procura por pipas durante a pandemia. Por isso, muitas lojas estão fechadas.

Andressa afirma que desde o começo da pandemia nunca vendeu tantas pipas, chegando à marca de cerca de 50 mil peças comercializadas. Segunda-feira, quando falou com a reportagem, ela estava sem estoque.

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“O preço de cada pipa varia de R$ 0,30 a R$ 7. Ou seja, todos podem comprar. Este tipo de comércio é muito democrático e atinge todos os públicos. Chega criança, pai e até o avô que quer ensinar o neto a empinar pipa. As pessoas estão retomando brincadeiras antigas neste período”, comenta.

Andressa enfatiza que está seguindo todas as regras da prefeitura em seu estabelecimento para evitar o contágio da covid-19: limitação de pessoas na loja, distanciamento de 1,5 metro entre os clientes, máscaras de proteção, disponibilidade de álcool gel e cartazes de orientação para os clientes. A comerciante ainda ressalta que faz um apelo para todos os clientes se cuidarem. “Pedimos sempre que os clientes usem a máscara não só na loja, mas também na hora de brincar”, reforça a proprietária.


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