Centenários

Pianos Essenfelder em Curitiba: história de falências e retomada

Interior de um piano branco da Essenfelder.
Foto: Átila Alberti / Tribuna do Paraná.

Com um superpoder de provocar os mais variados sentimentos e memórias, a música faz parte da vida de todo mundo. Protagonistas nas criações de canções, os instrumentos também possuem as próprias histórias. E, nesse caso, Curitiba tem um papel importante na ‘vida’ do piano nacional, pois na capital paranaense está a Essenfelder. Uma das maiores marcas do país, após uma recente retomada, voltou a atuar no ramo.

“Todo mundo que aprendeu a tocar piano aprendeu a tocar em um Essenfelder”. É essa frase que ouviu durante uma conversa com um representante em São Paulo e que ficou marcada na mente e coração de Alanderson Essenfelder, atual responsável pela empresa.

Foto: Átila Alberti / Tribuna do Paraná.

Com uma história centenária, a Essenfelder se consolidou como uma das principais fábricas de pianos do Brasil. Alanderson revela que foram feitos 45 mil exemplares ao longo dos anos. A empresa também já fechou. De 1997 a 2015 ficou fora de operação.

É natural que de 1909 – ano da criação da marca -, até 2024 muitas coisas tenham mudado. Por exemplo, da grande fábrica que ficava entre a Rua Mauá e Avenida João Gualberto e com quase 200 funcionários, hoje o escritório e depósito da empresa se concentram em um barracão no Boa Vista. Outra importante alteração são os pianos, que passaram a ser importados e não mais fabricados na capital paranaense.

O que não muda é o carinho que os clientes adquiriram pela marca. Alanderson comenta que depois que retomou a empresa ficou bastante surpreso ao ver que praticamente 70% do público que acompanhava as redes estava na faixa etária abaixo dos 30 anos. Ele atribui isso ao fato de que muitos instrumentos são herdados por várias gerações.

“Os pianos passam de geração para geração. Então professoras de Curitiba, São Paulo, que ensinam piano em casa, elas têm um Essenfelder. A pessoa [mais jovem] aprendeu em um, então lembra da marca, tem carinho pela marca. A coisa mais engraçada em ter uma marca antiga e reconhecida é que as pessoas se sentem donas. É um vinculo muito bacana que existe com os consumidores. É um pouco diferente do que vender roupas ou outros produtos de rotatividade maior. A pessoa cresce com aquele piano em casa, passa para outro [membro da família]”, diz.

Atualmente a Essenfelder trabalha com três modelos de piano digital e também com o piano acústico, que continua sendo o mais vendido. Em 2018 também foi desenvolvida a Essenfelder Educacional – um material com técnicas para quem quer aprender a tocar o instrumento.

A história da Essenfelder

Conforme conta Alanderson, a criação da empresa começou um pouco antes da família morar em Curitiba. Em 1889, o tataravô dele, Florian Essenfelder e a família saíram da Alemanha e se mudaram para Buenos Aires, na Argentina. Como na Europa trabalhava em uma fábrica de pianos, ao chegar no país vizinho Florian abriu uma oficina e começou a fazer afinação e reparos nos instrumentos.

Experiente no assunto, nesse mesmo ano Florian também fabricou um piano e começou a ensinar o ofício para o filho Floriano. Mais tarde também ensinou para Frederico, o filho mais novo.

A família seguiu em Buenos Aires até 1903, pois a falta de madeira de qualidade na capital dos hermanos começou a se tornar um problema. Por isso, os Essenfelder resolveram arriscar e se mudaram para o Rio Grande do Sul, levando a fabriqueta na bagagem.

“Reza a lenda que meu bisavô viu uma maçaneta de porta e achou que a madeira seria boa para produção de pianos. Ele foi atrás de onde era fabricada a maçaneta e descobriu que era de Curitiba. Ai o meu tataravô, o Florian, veio para Curitiba por primeiro e viu a araucária e as madeireiras da região. Trocaram a fábrica em 1909 de Pelotas para Curitiba”, relembra Alanderson.

Na capital paranaense conheceram a família Hauer, que resolveu investir no negócio. Formada a sociedade, surgiu a fábrica de pianos no formato em que ficou conhecida. Florian morreu em 1920 e Floriano assumiu o negócio até 1964, quando morreu. Depois, membros da família foram assumindo até 1997, ano em que a fábrica foi fechada por falta de vendas e problemas internos.

Uma canção de amor, loucura e nova tentativa

Quando a empresa fechou, Alanderson tinha apenas dez anos. No entanto, como ele mesmo diz que “a fábrica e os pianos sempre foram a conversa de dentro de casa”, continuou crescendo nesse meio. Até que em 2015 o pai passou a marca para ele. Com motivação de manter a história ativa, aceitou o desafio.

“O intuito do negócio em 2015 foi resgatar a marca, não deixar morrer. Eu fui militar e meu nome de guerra era Essenfelder. Ai não tinha jeito, né. Muita gente toca piano, mais pessoas do que a gente imagina. O pessoal falava ‘nossa, mas você é da família?’. Eu pensei ‘as pessoas lembram ainda’. Vou investir nisso”, conta.

Foto: Átila Alberti / Tribuna do Paraná.

“Fui para China atrás dos fabricantes e comecei a trazer pianos para o Brasil. Não para venda, mas para teste. A gente foi ajustando e escolhi os fornecedores. No final de 2017 comecei a vender. Achei que talvez não fosse dar muito certo, mas as coisas foram evoluindo e estamos aí”, completa.

Quase dez anos depois, ele tenta definir o que sente pela Essenfelder: “Eu acho que só pode ser amor. Porque eu larguei tudo, engenharia, exército só para cuidar disso, resgatar a história e manter a tradição da família viva. Então acho que amor é o que resume isso aí. Ou loucura”, brinca.

Fábrica de pianos em Curitiba foi afetada pela venda de rádios

Assim como a vida, as vezes o negócio desafina. Questionado sobre os desafios atuais, Alanderson comenta que história da Essenfelder também tem crises e problemas. Alguns bem curiosos por sinal.

A primeira vez em que a fábrica passou por uma crise financeira foi quando começaram a vender rádios nas lojas.

“A gente tem todo o histórico de vendas. Observamos que bem na época que começaram as vendas de rádio as pessoas pararam de comprar piano, pararam de comprar instrumentos. Diminuiu muito e a fábrica quase fechou. As pessoas começaram a achar que se elas comprassem o rádio não precisavam mais aprender a tocar piano, investir num piano, nem reunir os amigos para mostrar o filho, a filha tocando, [por exemplo]”.

Cerca de dois anos depois, quando a febre do rádio passou, as vendas de piano voltaram.

Outro desafio da Essenfelder foi em 1995, quando o ex-presidente do Brasil, Fernando Collor de Mello, abriu o mercado para importação. Foi a partir disso que a fábrica começou a caminhar para fechar as portas, dois anos mais tarde.

“Quando o Collor abre o mercado as pessoas começaram a ter acesso aos teclados eletrônicos, aqueles menores, de 61 teclas. Videogame, computador, isso [também] começou a ter acesso mais fácil. De novo pararam de comprar piano. Pulamos de uma venda de 200, 250 pianos por mês para 10, 15 pianos por mês. Não foi sustentável”, afirma.

Vivendo um mercado mais estável no mundo dos instrumentos, Alanderson relata que o desafio atual é manter o produto de qualidade e entender a necessidade das pessoas.

“Não é um mercado com muita concorrência. Acho que as crises passaram. A gente não tem perspectiva que isso mude. Porque quem compra piano acústico é quem quer um som natural e sempre vai ter uma faixa da população que vai procurar isso. E o piano digital o pessoal que tá aprendendo, que quer escutar com fone de ouvido. Então acho que já encontramos uma linha de estabilidade”.

Com uma filha de sete meses, Alanderson tem expectativa de manter ativa a história da Essenfelder. Mas ele garante que essa não será uma decisão dele e, portanto, ficará para o futuro.

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