Curitiba e PR

Pediatras defendem a volta às aulas: “Maior erro da pandemia foi fechar as escolas”

Sala de aula com adoção de medidas de prevenção à covid-19. Foto: Gerson Klaina / Tribuna do Paraná

Em audiência pública realizada de forma remota pela Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) na tarde desta quinta-feira (8), médicos que atuam no sistema público de saúde do estado defenderam a volta às aulas presenciais em escolas estaduais e municipais, desde que respeitados protocolos de segurança para evitar a disseminação do novo coronavírus. O evento foi promovido pelo deputado estadual Homero Marchese (Pros).

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As aulas na rede pública estadual do Paraná e nas escolas municipais de Curitiba estão sendo ofertadas apenas de forma on-line. A rede particular foi liberada pelo governo estadual para adotar o modelo híbrido, com limite de 30% de estudantes em sala, mas alguns municípios paranaenses têm adotado regras mais rígidas e não estão permitindo aulas presenciais nas escolas privadas.

Em sua palestra, o pediatra Rubens Cat, professor do Departamento de Pediatria da Universidade Federal do Paraná (UFPR), alegou que a população mais carente tem sido mais afetada por essa situação e que a maioria dos trabalhadores essenciais tem filhos matriculados em escolas públicas.

“O aprendizado é o que menos me preocupa, isso pode ser recuperado. Mas a escola é um local protetor. Não temos como manter as conquistas de 30 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente sem escolas abertas”, afirmou.

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Cat argumentou que a escola protege cem vezes mais um aluno do que se ele estiver fora dela e que quem contamina pessoas de grupos de risco são os adultos da casa. “Em apenas 2% dos casos as crianças trazem o vírus para casa. A criança é transmissora de hábitos responsáveis: ela fala para o pai colocar o cinto de segurança quando entra no carro, para não beber antes de dirigir. Da mesma forma, vai cobrar para usar máscara, lavar as mãos”, disse o pediatra. “Em todo o mundo, todos os países em que as escolas foram reabertas com protocolos de segurança tiveram bons resultados.”

Cat mencionou um estudo financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Zurique, na Suíça, que mostrou que em 131 cidades de São Paulo não houve aumento do ritmo da pandemia de covid-19 quando foram retomadas as aulas presenciais em escolas estaduais no último trimestre do ano passado. O pediatra apontou que “a chance de transmissão na escola tem a ver com a transmissão na comunidade (ao redor)”. “Temos o alto risco de perder mais um ano escolar. É inadmissível. O maior erro da pandemia no Brasil foi fechar as escolas”, acrescentou.

Especialista defende retorno condicionado à prevenção

Maria Esther Graf, presidente da Associação Paranaense de Controle de Infecção Hospitalar e infectologista no HC e no Hospital do Trabalhador, relatou em sua palestra que em 90% dos casos de covid-19 registrados em escolas o vírus é trazido por adultos, e por isso seria um “contrassenso” condicionar a volta das aulas presenciais à vacinação dos professores.

“Os transtornos mentais de crianças que não estão indo à escola são uma epidemia dentro da pandemia. A conta já está chegando, mas em dez anos é que isso vai aparecer de forma irreparável”, afirmou.

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Graf destacou que o retorno precisa ser condicionado a medidas de prevenção: triagem, com aferição de temperatura e perguntar para crianças e pais se há pessoas com sintomas em casa; orientações para limpeza frequente das mãos e uso adequado de máscaras; lanche sempre em carteiras individuais, com higienização das mãos antes, após tirar a máscara e depois da refeição, e com supervisão de adultos; escalonar horários de recreio, para que todas as crianças não fiquem ao mesmo tempo no mesmo espaço; e criar comitês de saúde nas escolas, para monitorar casos suspeitos e pessoas da comunidade escolar que tiveram contato com quem teve infecção confirmada.

“A premissa é que a decisão é dos pais se querem que os filhos tenham aulas presenciais. É preciso continuar ofertando ensino remoto para quem não fizer essa escolha”, enfatizou Graf, que acrescentou que limites de ocupação de salas de aula e rodízios dependeriam da estrutura e do tamanho de cada escola: “Tem que ser avaliado caso a caso”, finalizou.

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