O tráfico e uso de drogas é feito sem problemas no pátio de sol da Penitenciária Estadual de Piraquara (PEP I). Alguns detentos estão até jurados de morte por conta das dívidas. A situação está tão crítica que agentes penitenciários foram autorizados por suas chefias a fazer fotos e filmagens com celulares, para provar o ilícito. Mas os agentes dizem que, apesar dos avisos às chefias, até agora não viram ações efetivas que acabassem com o crime, praticado de forma descarada na frente dos funcionários.

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As imagens do vídeo mostram dois grupos de presos, compartilhando grandes “cigarros”, como se fossem drogas enroladas em folhas de papel. Num dos grupos, os detentos aparentam compartilhar o fumo do material, enquanto no outro, os presidiários parecem cheirar o que há dentro do cigarro.

No dia seguinte ao que ocorrem as visitas, presos ficam alvoroçados a irem ao pátio de sol, nas conhecidas “feirinhas”, onde negociam as drogas, celulares e, principalmente, roupas e sapatos de marca trazidos pelos familiares na visita. “As regras não permitem ostentação dentro da cadeia”, explica um agente penitenciário, que acredita que qualquer produto diferente daquele oferecido pelo Estado (comida, higiene, roupas e sapatos) deveriam ser proibidos.

Monitoramento

Reprodução
Rabiscos servem pra mostrar o que pensam os detidos. Confira no vídeo a reunião dos detentos no pátio.

A Secretaria de Justiça (Seju) informou que tem conhecimento do tráfico de drogas no pátio e também de que agentes são coniventes, por medo ou corrupção. Além das vistorias constantes da Polícia Militar nas celas para recolher produtos proibidos, a Seju diz que o setor de inteligência vêm monitorando tudo, num trabalho diário e permanente.

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Os nomes de presos e agentes envolvidos com o crime são conhecidos, mas segundo a assessoria de imprensa da Seju (apesar dos vídeos gravados pelos agentes penitenciários confirmando o crime), a grande dificuldade é pegar uma prova consistente contra os envolvidos, um flagrante ou uma confissão.

Sem estudo

Relatórios direcionados à chefia de segurança da PEP I mostram que ninguém manda nos presos faccionados reunidos naquela unidade. Só em setembro e outubro, os agentes elaboraram pelo menos 14 relatórios informando a recusa de detentos em seguir para a escola. Em algumas das listas, passam de 40 os nomes dos indisciplinados.

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Eles também se recusam a frenquentar o grupo de narcóticos anônimos, gritam com os agentes (há um caso de agente agredido por um preso, com um cabo de vassoura), jogam café quente nos funcionários, sem contar as inúmeras ameaças.

Gritos só pra amedrontar

Reprodução/vídeo
Cigarro é mercadoria no sol. Confira no vídeo a reunião dos detentos no pátio.

Os presos têm outra artimanha para intimidar os agentes penitenciários. Desde os últimos meses do ano passado, eles passaram a se reunir no final do horário do pátio de sol, na PEP I, para passarem orientações e novas regras da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Depois, rezam o Pai-Nosso e, por último, dão o grito de guerra da facção. Um líder fala a ,primeira metade da frase e o grupo responde o restante.

Todos no pátio são obrigados a participar. Todos dentro do presídio são obrigados a, pelo menos, se tornar simpatizantes do grupo, caso queiram sobreviver na cadeia. Cerca de 60% dos presos da PEP I são batizados na facção, que possui um estatuto que completou 10 anos em agosto do ano passado. Os outros 40% são de, pelo menos, simpatizantes. A assessoria de imprensa da Seju informou que tem conhecimento dos gritos e cerimônias de apologia ao crime. Sabe-se que os presos fazem isto para impor medo e o setor de inteligência do Departamento Penitenciário está monitorando tudo.

No início do ano passado, dois agentes penitenciários foram assassinados a tiros quando chegavam em suas casas, na Cidade Industrial e no Boa Vista. Segundo os colegas de profissão dos funcionários mortos, foi a mando do PCC, para impor medo e afrontar o Estado. Dois dos responsáveis pelos crimes foram presos.

Os detidos receberam um “salve” e foram promovidos a líderes da facção. Não bastasse os agentes estarem amedrontados por conta dos assassinatos e atentados (outros dois agentes foram baleados), a “promoção” dos criminosos deixou os funcionários acuados e sem ação. Um dos assassinos conseguiu liberdade na metade de dezembro.

Psicológico

Não bastasse a forma brutal de se adquirir obediência, a facção também usa outras maneiras de pressão psicológica contra os agentes. Picham imagens de armas, frases de apologia ao crime em paredes e portas.

Rebeliões serão investigadas

Enquanto a Secretaria da Justiça (Seju) encerrava a negociação e providenciava a transferência dos amotinados na Penitenciária Central do Estado (PCE), na noite de quarta-feira, outra rebelião aconteceu no Centro de Regime Semiaberto Feminino de Curitiba, no Atuba. Mais de 120 mulheres protestavam pedindo mudanças na segurança interna, que é muito rigorosa segundo elas, e igualdade de direitos com presos da Colônia Penal Agroindustrial de Piraquara. Elas mantiveram duas agentes reféns das 20h30 até a 1h, quando foi marcada reunião entre as presas e representantes da Seju.

No Centro, são duas agentes para quase 180 presas, conforme denunciou uma funcionária. “Quando uma vai almoçar ou vai ao banheiro, fica apenas uma na galeria. À noite, muitas vezes fica uma só, porque o efetivo é menor”, desabafou.

A rebelião na PCE durou 15 horas. O agente Arlindo Lourenço de Lima Neto, 43 anos, foi mantido refém, enquanto os presos aguardavam a transferência de 18 colegas de cela para Maringá, Londrina e Foz do Iguaçu. Perto das 5h de ontem, Arlindo foi atendido pelo Siate e liberado, ileso. Às 7h30, os presos saíram do presídio a caminho do interior do estado. Eles começaram o motim por volta das 16h de quarta-feira.

Resposta

A Seju, por meio de nota, informou que vai criar uma comissão de sindicância para investigar as cinco rebeliões registradas em um mês, para apurar “possíveis problemas administrativos, falhas de segurança e eventuais responsabilidades”.

Confira no vídeo a reunião dos detentos no pátio.