Preconceito

Passageira sofre injúria racial de motorista de aplicativo em Curitiba

Foto: Aniele Nascimento / Gazeta do Povo / Arquivo

A Polícia Civil de Curitiba abriu inquérito quarta-feira (12) para investigar um caso de injúria racial e ameaça que teria sido praticado por um motorista de aplicativo contra a estudante Isabella Cristina dos Santos, de 20 anos. Áudios com xingamentos gravados pelo homem, de 40 anos, foram divulgados pela estudante nas redes sociais e viralizaram.

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Nas ofensas, o motorista chega a chamar Isabella de “preta”, “vagabunda”, “escrava” e “verme”. A ocorrência foi na tarde de segunda-feira (10), quando a estudante e a mãe dela cancelaram uma corrida no bairro Portão. O aplicativo usado pelas duas, o InDriver, fornece o contato telefônico dos passageiros.

De acordo com o delegado Cassiano Aufiero, do 7.° Distrito Policial, o boletim de ocorrência foi registrado por Isabella terça-feira (11). Ela apresentou os áudios à polícia e as gravações deverão ser encaminhadas para a perícia.

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“A moça estava bastante abalada com a situação, assustada com as ameaças. Já abrimos inquérito de injúria racial e ameaça. Também já fiz o pedido de intimação do motorista para colher o depoimento dele, o que deve ocorrer semana que vem”, aponta o Aufiero.

Ainda segundo o delegado, a injúria racial é um crime mais grave do que a simples injúria. “Se, por exemplo, ele tivesse sido pego em flagrante cometendo injúria racial, ficaria preso sem direito a fiança”, aponta o policial. “Mas para uma conclusão ainda precisamos ouvir o que o homem tem a dizer sobre o caso”, finaliza.

Graves ofensas

Os trechos dos áudios divulgados por Isabella trazem ofensas pesadas. “Por que você pede o carro se você não precisa do carro? Sua filha da pu***, preta do cara***. É um verme! Gente como você a gente trata como verme! Não tem nada para fazer? Arruma um trabalho, sua arrombada! Fica fazendo o motorista de trouxa, sua otária!”, diz o motorista no áudio.

Na sequência, vêm as ameaças. “Teu endereço eu sei qual é, tá? Eu sei os dois endereços aqui que você colocou. A gente se cruza por aí sua arrombada, preta do inferno! Presta muita atenção, não brinca com motorista não. Qualquer hora dessas você vai tomar uma invertida, guria”, prossegue o motorista.

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O homem ainda diz que vai divulgar a foto da estudante em grupos de mensagens de outros motoristas. “Tua fotinha vai para o grupo dos motoristas aqui, para quando aparecer a tua cara na solicitação a gente bloquear. Sua arrombada! Preta do inferno! Vai arrumar o que fazer, escrava do cara***”, continuam as ofensas.

Sofrimento

Em conversa com a reportagem da Tribuna nesta quinta-feira (13), Isabella disse estar em choque. Ela nunca imaginou que o cancelamento de uma viagem de aplicativo terminaria dessa forma.

“Meus parentes me pedem para eu passar o áudio e eu aperto sem querer o play. Quando ouço tudo aquilo, volto a reviver a situação”, conta a estudante.

A história começa quando ela e a mãe decidem chamar um motorista pelo InDriver. “Estava chovendo, o motorista informou que estava no local, mas procuramos por uns 15 minutos e ele não estava. Decidimos cancelar a viagem e chamar outro motorista. Foi quando ele começou a mandar os áudios”, relata a moça.

Isabella conta que só não foi no mesmo dia na delegacia porque ficou chocada com o fato. “Cheguei em casa e só quis dormir”, revelou. Depois, decidiu postar a história no Facebook para nem ela, nem outra pessoa, ter que passar por “esse tipo de coisa”.

“É incabível isso que aconteceu. Meu conselho para quem passar por isso é não ter medo, se encorajar e, em seguida, ir na delegacia. Tem que divulgar, sempre”, enfatiza.

Não foi a primeira vez

Após divulgar o caso nas redes sociais, Isabella conta que chegaram outros relatos sobre o mesmo motorista. As pessoas dizem que ele falou grosserias e cobrou taxas extras em corridas.

Segundo Isabella, o motorista voltou a falar com ela depois da repercussão do caso, para se desculpar. “Foi um ato terrível que eu cometi, tenho total consciência que eu vou responder por isso”, diz um áudio do motorista enviado para a estudante após a repercussão do caso.

InDriver

Em nota, a plataforma InDriver diz que a história chegou até a empresa através da Isabella. De imediato, o motorista foi bloqueado do aplicativo. “A inDriver afirma seu compromisso com o respeito e segurança entre motoristas e usuários e reitera seu total repúdio a situações como esta”, diz a empresa em nota.

Sobre a liberação do contato telefônico dos passageiros, a empresa diz que utiliza diversos formatos de contato entre passageiro e motorista em outros países, por ser uma empresa internacional. Por isso, da liberação por conversa via aplicativo de mensagens facilita o contato quando necessário entre motorista e passageiro em vários países e por isso o mesmo é usado no Brasil.

A empresa também diz que estuda uma segunda opção de contato para proporcionar maior segurança e privacidade tanto ao passageiro como ao motorista no aplicativo.

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