Miami, tradicional reduto de brasileiros nos Estados Unidos, será a 16ª cidade-irmã de Curitiba. Na próxima quarta-feira (6), a prefeitura fecha parceria com o condado de Miami – subdivisão administrativa que agrega os municípios no entorno da maior cidade do estado da Flórida, o equivalente a uma Grande Curitiba com governo próprio. Após assinatura do prefeito Rafael Greca, o projeto será encaminhado para aprovação da Câmara de Vereadores.
A parceria com Miami pode avançar dois desejos antigos de Curitiba em relação aos Estados Unidos. O primeiro é a instalação na cidade de um centro de emissão de vistos da Embaixada Americana. Atualmente, para obter permissão de entrada em solo americano, o curitibano precisa ir para os consulados americanos de São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Recife, além da própria embaixada em Brasília.
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Outra negociação que tende a ganhar força com a irmandade é a retomada do voo direto para Miami a partir do Aeroporto Afonso Pena. Entre 2013 e 2016, a companhia American Airlines operou o trajeto, com a capital paranaense como escala entre Porto Alegre e Miami. Porém, questões operacionais suspenderam o voo.
Além de facilitar a vida dos turistas que querem viajar aos EUA, a irmandade com Miami tem como foco trazer investimentos para Curitiba. “Queremos receber delegações de Miami e que as prefeituras de lá abram oportunidades para empresários curitibanos”, enfatiza o chefe da Assessoria de Relações Internacionais da prefeitura de Curitiba, Rodolpho Zannin Feijó.
Entre as oportunidades que a irmandade Curitiba-Miami pode render estão a vinda de eventos e a capacitação de profissionais curitibanos com equipes americanas, em especial na área de turismo. “Miami é referência no turismo e tem muito a nos ensinar”, reforça Feijó.
O que é uma cidade-irmã?
O assessor internacional da prefeitura enfatiza que a parceria a ser fechada com o condado de Miami ilustra bem o conceito de cidade-irmã. Criado em 1947 nos Estados Unidos para fomentar amizade, paz e cooperação entre diferentes culturas após a Segunda Guerra Mundial, o conceito ganhou outra conotação a partir da globalização nos anos 1990.
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A irmandade entre cidades desde então passou a ser uma cooperação estratégica, principalmente de negócios, entre municípios de diferentes países. Já são cidades-irmãs de Curitiba: Akureyri (Islândia), Assunção (Paraguai), Changzhou (China), Coimbra (Portugal), Columbus (EUA), Cracóvia (Polônia), Guadalajara (México), Hangzhou (China), Himeji (Japão), Jacksonville (EUA), Montevidéu (Uruguai), Orlando (EUA), Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), Suwon (Coreia do Sul) e Treviso (Itália).
“As relações internacionais são um braço estratégico da prefeitura para criar oportunidades de crescimento com investimentos externos, mas também de levar nossas experiências para fora”, enfatiza Feijó, comparando a atividade entre as cidades com o trabalho de diplomacia entre países.
“Vamos atrás desses contatos para depois abrir portas não só para nossas secretarias municipais no campo institucional, como também para comitivas de empresários. Nesse sentido, somos nós também que acionamos o Ministério das Relações Internacionais para resolver diversos trâmites”, aponta.
Ainda no campo econômico, outras irmandades de Curitiba que se destacam são com Changzhou, na China, e Orlando, vizinha de Miami nos Estados Unidos.
Feijó explica que a parceria de 2014 com a cidade de 3,6 milhões de habitantes na província de Jiangsu abriu boas portas de negociação na China. Changzhou é um grande centro comercial, com destaque para as indústrias têxtil, de alimentos e construção. “Através da irmandade temos acesso à Nova Rota da Seda, uma rota comercial internacional muito importante na China. Com isso estamos integrando o nosso setor privado com as indústrias chinesas”, explica o assessor de Relações Internacionais.
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Já Orlando enviou uma comitiva em 2019 para capacitar agências de turismo de Curitiba a captar e melhorar o atendimento a turistas que queiram visitar à cidade sede da Disney.
Irmãs pela cultura
Feijó explica que além de relações econômicas, a parceria também pode envolver questões culturais e sociais. Em Curitiba esse tipo de irmandade tem mais força ainda pelos laços culturais que a capital mantém com outros países por ter recebido diversas colônias de imigrantes. É o caso da irmandade desde 1992 com Cracóvia, segunda maior cidade da Polônia.
“Curitiba tem uma das maiores colônias polonesas do mundo e quer manter esse vínculo porque se trata de uma das próprias identidades da cidade”, argumenta Feijó, que cita as apresentações de grupos folclóricos curitibanos na Polônia, bem como a vinda dos grupos de lá como exemplo de intercâmbio criado pela irmandade.
Educação e esporte
No campo da educação/esporte, duas irmandades se destacam. A primeira é Suwon, na Coreia do Sul, país referência de como o investimento no ensino é essencial no desenvolvimento de uma nação. Segundo Feijó, a cidade sul-coreana oferece bolsas de capacitação a servidores da Secretaria Municipal de Educação, além de intercâmbio de trocas de experiências.
Já Columbus, capital do estado de Ohio, é sede de uma das universidades mais importantes dos Estados Unidos, a Ohio State University. A universidade é referência em ciência do esporte, área que Curitiba vem firmando parcerias com Columbus.
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Em 2018, a prefeitura intermediou uma troca de experiência entre integrantes da comissão técnica do time de futebol americano da Ohio State, uma das mais fortes da liga universitária de lá, com o time Coritiba Crocodiles para evolução da modalidade no Brasil. “Também queremos trazer atletas de Columbus para participar da Maratona de Curitiba”, complementa Feijó.
Experiência urbanística
Já a experiência que Curitiba mais compartilha com suas cidades-irmãs é no campo urbanístico. Referência no transporte coletivo, a capital é procurada por prefeituras de outros países, em especial vizinhas da América do Sul, como Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), Assunção (Paraguai) e Montevidéu (Uruguai). O principal interesse nesse caso é o sistema BRT – as canaletas exclusivas de ônibus criadas pelo ex-prefeito Jaime Lerner nos anos 1970.
Feijó cita o caso de Santa Cruz de la Sierra. Técnicos da Urbs (empresa municipal que administra a frota curitibana) e do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) estão em contato direto com a prefeitura da maior cidade boliviana. “Santa Cruz de la Sierra se inspira nos projetos urbanísticos de Curitiba desde que as duas cidades se tornaram irmãs em 1989. Eles também querem implantar o BRT lá”, afirma o assessor da prefeitura.
A prefeitura de Assunção, por sua vez, enviou uma comitiva semana passada ao Smart City para conhecer as experiências curitibanas do conceito de cidade inteligente para levar à capital paraguaia.