Depois de um ano cheio de notícias desesperadoras por causa da pandemia de coronavírus, 2021 pode trazer consigo pelo menos a esperança de que as coisas comecem a melhorar. Mas esperança, neste caso, pode ser sinônimo de pessimismo e não de otimismo. Isso porque, conforme a secretária de Saúde Marcia Huçulak, a vacina contra a covid-19 chegará aos poucos. “Conte com o uso de máscara, mesmo com vacina no país, por pelo menos todo o ano”, alertou a secretária à Tribuna. Nesta quinta-feira (14), o prefeito Rafael Greca confirmou que a vacinação começa na próxima quarta-feira (20), para os grupos prioritários.
Em entrevista para a Tribuna do Paraná, Márcia Huçulak contou que a cidade está pronta para a vacinação e que só basta chegar a vacina, o que deve começar a acontecer entre o final de semana e o começo da próxima semana. “Temos seringas, nossos freezers estão esperando. Estamos até com plano de vacinação elaborado, discutido, só esperando a chegada da vacina”. A prefeitura, inclusive,
Assim que Curitiba tiver a vacina, o primeiro grupo a receber as doses será o dos profissionais da saúde que estão na linha de frente. “Mas somente aqueles que realmente estejam lidando com a doença de perto. Depois, passamos para os idosos acima de 80 anos, que são os que mais internam, e vamos partindo para as idades inferiores”, explicou Márcia.
A secretária explicou que este plano de vacinação parte dos idosos, pois 78% das mortes por coronavírus em Curitiba foram de pessoas acima de 60 anos. “É a nossa preocupação. Porque de cada 100 idosos que pegam covid, 54 internam. Já no caso das outras idades, esse número é bem menor: de 0 a 29 anos, é apenas 1% dos internamentos”.
Mesmo com a chegada da vacina, Márcia Huçulak alerta que a imunização total não deve ser rápida. “Vai depender da quantidade, porque entre idosos e profissionais da saúde, são mais de 300 mil pessoas. Lembrando que precisamos de duas doses, então se precisamos de imunizar pelo menos 400 mil pessoas, precisamos de 800 mil doses para este ano. Precisamos pensar por grupos. Para esse ano com certeza queremos vacinar todos acima dos 60 anos e até talvez as pessoas abaixo dessa idade com comorbidades, mas tudo ainda é incerto”.
Ao todo, Curitiba tem pelo menos 30 mil idosos acima dos 80 anos, 150 mil hipertensos e 60 mil diabéticos. Todas estas pessoas precisam ser vacinadas o quanto antes. “Nosso desafio não é permitir que continuem vivos, apenas, mas sim que possam viver bem. É isso que vamos buscar”.
Em meio às polêmicas envolvendo a chegada da vacina, a secretária de Saúde tem uma certeza: não vamos deixar de usar máscara tão cedo. “Em 2022 acredito que vacinaremos todo mundo, talvez eu possa estar pessimista, mas temos muitos desafios pela frente. Talvez só ano que vem possamos deixar de usar as máscaras”.
Festas de fim de ano e aumento de casos
Uma das principais preocupações da secretaria municipal de Saúde era com as festas de Natal e Ano Novo, tanto que por diversas vezes a própria Márcia Huçulak disse que não era para que as pessoas se reunissem. Os números de casos confirmados começaram a subir, mas a secretária afirma que o boom ainda pode acontecer nesta semana.
“Na semana de 26 de dezembro a 1 de janeiro, tivemos 4.075 casos e 88 mortes. Do dia 2 de janeiro ao dia 8, já foram 4.450 casos e 102 mortes. Houve aumento, mas acreditamos que janeiro possa ser ainda mais triste, tudo vai depender das próximas semanas”, disse a secretária de Saúde.
Conforme alertou Márcia, o que o vírus gosta é de aglomeração, por isso as próximas notícias podem ser muito tristes. “O que mais tivemos neste final de ano foi aglomeração. Gente que não se cuidou. A gente já sentiu esse baque, mas agora muita gente voltando das festividades podemos entender o que de fato vai acontecer”.
Volta às aulas
Além da preocupação com os casos, a possibilidade de uma nova onda, ainda mais forte, de infecção, continua entre as preocupações da secretaria municipal de Saúde. “É por isso que continuamos a contar com a ajuda das pessoas. Podemos dizer que o curitibano, de modo geral, tem colaborado e muito. Mas precisamos manter esse cuidado justamente porque se voltarmos a ter aglomerações, as coisas podem piorar mais uma vez”.
A volta às aulas já está marcada. Pelo menos 140 mil crianças e estudantes da rede municipal de ensino de Curitiba vão começar o ano letivo de 2021 no dia 18 de fevereiro, em um modelo híbrido. Desta forma, parte dos estudantes irá presencialmente às escolas e os demais acompanharão os conteúdos por meio de video-aulas, como tem ocorrido desde abril.
Para a secretária de Saúde, é realmente a hora de voltar. “Estando num ambiente preparado e já sabendo o que devemos fazer, a segurança é maior. Até porque não temos mais como segurar as crianças em casa, nem todos os pais estão em home office e temos que evitar um outro problema também, a evasão escolar. Acima de ensinar, a escola pública tem um papel social muito importante e precisamos saber disso”.
Márcia destaca que, em um ano de trabalho, os médicos já puderam aprender mais sobre o vírus. “Em crianças, raramente vão ter casos graves e muitas são assintomáticas. As crianças também transmitem menos, a capacidade de transmissão é 7 vezes menor que a do adulto. Entendemos que um ano de escolas fechadas tem um comprometimento para a criança, pois estamos perdendo uma boa oportunidade de ensinarmos cada vez mais os adultos: as crianças aderem às máscaras, por exemplo, mais fácil que os adultos”.
Na última segunda-feira (11), houve a informação de que a alta de casos confirmados em crianças poderia ser motivo de preocupação. A tendência de elevação nos casos foi confirmada até pelo Hospital Pequeno Príncipe, que percebeu pelo menos 56% mais atendimentos nos últimos dois meses de 2020 e começo de 2021, se comparado com os primeiros oito meses da pandemia. Apesar disso, Márcia acalma a população. “Para nós, isso ainda se mantem estável. Até porque agora já conhecemos o vírus e sabemos que ele não atinge gravemente as crianças”.
Outras doenças continuam no radar da secretaria de Saúde
Durante todo o ano passado, enquanto as notícias dos efeitos provocados pela pandemia se espalhavam, muitas pessoas relativizavam a situação e questionavam dados sobre outras doenças. Márcia Huçulak deixou bem claro que a Saúde de Curitiba não parou de atender todas as outras inúmeras situações. “A nossa preocupação, por exemplo, com AVC, infarto, as doenças cardiovasculares, continuaram muito evidentes. Isso porque temos, por dia, uma média de 5 mortes. Todos estes casos não deixaram se der atendidos, mesmo com a pandemia”.
A secretaria de Saúde continuou também, ao longo de todo 2020, mantendo os atendimentos do Mãe Curitibana e teve que atuar de uma forma ainda mais próxima, pois muitas gestantes deixaram de se consultar. “Tinham medo. Tivemos que trabalhar isso também, para que mantivessem seus exames em dia e não acabassem prejudicadas”. Da mesma forma se deu com os hipertensos e diabéticos. “Estes passaram por videoconsultas, pois tínhamos que mantê-los atendidos e também seguros em casa”.
O controle de endemias, como a prevenção à dengue, também se manteve. “Claro que não pudemos fazer muitas das nossas ações, como ir de casa em casa, mas percebemos que as pessoas nos ajudaram e queremos que continuem assim. Nosso levantamento apontou que Curitiba teve menos de 1% de casos de dengue, o que é realmente muito bom”, comemorou.
Para o próximo ano, além de se preocupar com a vacinação contra o coronavírus e todos estas frentes, Márcia Huçulak já estima também um outro problema pela frente. “Teremos que atender a toda essa demanda reprimida de outros problemas de saúde, principalmente porque muita gente se isolou e deixou de acompanhar e fazer exames. Isso tudo pode acabar despertando muitos alertas, que também precisarão estar em nossos radares”.
Outra questão que tem sido muito preocupante para a secretaria municipal de Saúde é a questão psicológica e emocional das pessoas, tanto as que foram atingidas pelo coronavírus, como também as que ficaram isoladas em casa. “Sabemos que esse vírus trouxe muitos problemas, vai deixar sequelas em muitos pacientes, que teremos que continuar cuidando, e também problemas neurológicos para muitas pessoas. Essa também vai ser nossa preocupação a partir de agora”, comenta Huçulak.
Em contrapartida, a vacinação contra a poliomielite teve baixa adesão e isso gerou preocupação. “As pessoas pensam que o vírus foi extinto, mas ele pode voltar. Dependemos, sim, da vacina para que nossas crianças continuem crescendo saudáveis e sem risco de paralisia”, alertou Márcia.
De tudo o que já viveu profissionalmente no ultimo ano, Márcia Huçulak tira a lição de que o pior já passou, mas precisamos nos manter atentos. “O curitibano é cuidadoso, não joga nem lixo no chão e ajudou muito no controle do vírus em nossa cidade. Tivemos, sim, momentos de tensão. Mas não chegamos ao colapso, conseguimos evitar isso. Precisamos que continuemos todos assim para que nosso ano seja mais leve e que consigamos sair dessa”, concluiu a secretária.