Prestes a completar um mês, a greve iniciada pelos médicos contratados pela Fundação Estatal de Atenção Especializada em Saúde (Feaes) de Curitiba está longe de acabar — e a população segue sendo a principal afetada. Iniciada no último dia 27 de julho, a mobilização dos profissionais faz com que pacientes das Unidades de Pronto Atendimento de Curitiba (UPAs), o Hospital do Idoso Zilda Arns, a Maternidade Bairro Novo ou o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) tenham que esperar mais de cinco horas até que possam ser atendidos.
- Morte de paciente em UPA do Fazendinha é investigada
- Homem invade UPA no Sítio Cercado e promove quebradeira após guarda tentar contê-lo
- Prometida por Greca pro primeiro semestre, reabertura de UPA fica pro fim do ano
A demora se dá porque cerca de 40% dos médicos e demais contratados pela Feaes não estão recebendo pacientes nas unidades atendidas pela fundação, conforme dados do Sindicato dos Médicos do Estado do Paraná (Simepar). Os casos de emergência seguem sendo atendidos normalmente, mas quem não corre risco de morte precisa ter muita paciência para poder ver um médico. É caso da estudante Karolyne Alessandra, de 20 anos, que aguardava por quase quatro horas na UPA do Pinheirinho. “Eu estou grávida, com gripe e sentindo umas pontadas muito fortes no peito. Decidi vir na UPA pra saber se está tudo bem, mas só vim ficar sentada esperando”, reclama.
Ela conta que, ao chegar à unidade, viu a faixa na entrada informando que os médicos ainda estavam em greve. “E na recepção as moças falaram que a espera seria longa por causa disso”, comenta Karolyne. Ainda assim, ela diz entender a situação. “Não culpo os médicos porque eles também precisam de reajuste salarial”.
Mas nem todo mundo é tão compreensível assim. Uma paciente de 60 anos que preferiu não se identificar, por exemplo, afirma que a situação é um descaso com pessoas carentes que contam com a saúde pública. “Eu sei que eles precisam de melhores condições para trabalhar, mas não deviam pedir assim. Eles precisam lembrar do juramento que fizeram afirmando que iam cuidar das pessoas”, pontuou a supervisora de RH aposentada. Ela chegou à UPA do Pinheirinho às 11h e seguia aguardando até às 16h.
Pedido do sindicato
A greve se iniciou no fim de julho a partir do pedido de reajuste salarial e melhores condições de trabalho por parte dos médicos que atuam pela Feaes. De acordo com a diretora do Simepar, Claudia Paola Carrasco Aguilar, a solicitação inicial de reajuste para a classe foi de 10% e, durante as negociações, caiu para 4,5%. No entanto, não houve acordo. “Nós aceitaríamos os 4,5% que é apenas a reposição da inflação somado ao ganho real de 1%. Só que eles nos ofereceram 3% e ainda voltaram atrás nessa proposta, nos pegando de surpresa”, afirmou.
Com isso, a classe decidiu protestar para resolver o impasse salarial e aproveitou para solicitar contratação de mais médicos e a melhoria nos equipamentos disponíveis para atendimento das unidades. “Em 2013 nós tínhamos cerca de 800 médicos só para as unidades de saúde e hoje estamos com apenas 630 para atender as unidades e todos os outros postos de trabalho”, informou o cirurgião Alceu Fontana Pacheco Neto, que também é dirigente do sindicato.
Segundo ele, os profissionais trabalham sob muita pressão e precisam fazer horas extras regularmente para atender a demanda. “E os equipamentos que usamos estão sucateados. Tem monitor que não funciona e muitos pacientes são atendidos em cadeiras de plástico porque não temos onde colocá-los”, lamentou.
Sem solução
De acordo com a Secretaria de Saúde, a Feaes tem monitorado os quadros médicos em todos os locais de atendimento e não tem registrado faltas dos profissionais. Entretanto, observou a efetivação de uma “operação tartaruga” por parte de alguns profissionais que aderiram à greve, que estariam propositalmente demorando para realizarem os atendimentos, aumentando o tempo de espera nas UPAs.
Em relação à UPA Pinheirinho, a secretaria informa que não foi registrado tempo de espera superior a três horas nesta quarta-feira (23) para pacientes de baixo risco — ainda que casos como o da estudante grávida mostrem que, em alguns casos, a demora superou essa marca. Ainda segundo a pasta, na terça-feira passada (15) o tempo de atendimento ultrapassou sete horas no mesmo local. Essa diminuição no tempo é resultado de medidas tomadas pela prefeitura junto ao Conselho Regional de Medicina (CRM) e a Justiça do Trabalho, além da divulgação da greve para a população, explica a secretaria.
Em nota, a prefeitura informou que “espera que a greve seja finalizada para que não volte a ocorrer prejuízo ao atendimento à população de Curitiba”. Porém, não sinalizou nenhuma proposta de acordo com a classe médica.