A instalação dos tapumes anunciando as obras e a realização de um evento marcado para este domingo (9) em frente à área onde há décadas localizava-se o antigo Hospital Psiquiátrico Bom Retiro reacendeu a polêmica adormecida há anos sobre a construção da nova unidade do grupo Angeloni, no bairro Bom Retiro, em Curitiba.
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Desde meados de 2017, quando foi conhecida a destinação dos 17 mil m² adquiridos pelo grupo Angeloni — dentro dos 60 mil m² totais da área do antigo hospital –, diversas iniciativas foram realizadas pelo movimento intitulado “A Causa Mais Bonita da Cidade”, propondo a destinação e construção, pela Prefeitura de Curitiba, de um parque público no local.
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Um dos pontos que justificava o pedido é a presença de um grande maciço de bosque nativo nos limites do terreno, com a presença de nascentes e córregos, além da memória relacionada ao patrimônio arquitetônico do local, mesmo após a demolição do edifício que abrigou o hospital. Naquele ano, uma ação administrativa solicitando o tombamento da área chegou a ser encaminhada ao Conselho Municipal do Patrimônio Cultural. O pedido foi negado em 2018 sob a alegação de “falta de materialidade do objeto do tombamento“, no caso, o edifício já demolido à época — a demolição foi realizada em dezembro de 2012.
Últimos capítulos
No último dia 25 de julho de 2022, a Secretaria Municipal do Urbanismo emitiu o alvará de construção para a obra, destacando que a área de bosque presente no fundo do terreno de propriedade do grupo Angeloni — e que não compreende a totalidade do maciço vegetal localizado dentro do terreno do que foi o antigo hospital psiquiátrico, cuja segunda parte pertence a outro proprietário –, deverá ser mantido.
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Em nota, o grupo Angeloni reforça que os cerca de 4 mil m² de bosques nativos serão “preservados e mantidos” no projeto do novo hipermercado, “honrando o compromisso assumido junto aos órgãos ambientais”. A rede reforça, ainda, que o licenciamento para a construção da nova loja “inclui todos os estudos ambientais necessários”.
O Angeloni não divulgou informações sobre o projeto do novo hipermercado, tampouco o cronograma das obras. Confirmou apenas que já estão sendo realizadas as etapas de preparação do terreno para as mesmas.
O movimento
Como forma de marcar a mobilização popular em torno da causa da criação do parque e da construção do novo hipermercado, o movimento “A Causa Mais Bonita da Cidade” irá realizar, neste domingo (9), um evento em frente ao endereço do novo hipermercado.
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“[Será um evento] com crianças, famílias. Sempre trabalhamos o máximo possível com as pessoas, fazendo uma manifestação que seja pacífica, divertida e educadora para protestar contra o absurdo urbanístico que é a construção de mais um hipermercado no Bom Retiro”, avalia o arquiteto Geraldo Pougy, integrante do movimento.
O profissional diz receber com tristeza a notícia sobre o início das obras e ser uma pena que a cidade não tenha sido capaz de conduzir todas aquelas discussões de uma melhor maneira visando o interesse coletivo.
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Na avaliação dele, a destinação da área do hospital para este tipo de obra decorre de uma “sucessão de erros” que vem desde antes da desativação do hospital e consequente demolição do prédio que o abrigava. “Não tenho resposta sobre o que deveria ser feito. Mas [a condução deve se dar] sempre para preservar a qualidade de vida da cidade. E um novo hipermercado, pertinho de onde já há outro funcionando, não é do que o bairro precisa”, aponta o arquiteto e urbanista ao reforçar a impessoalidade e a exclusão que, para ele, são comuns a esse tipo de empreendimento.
“É uma intervenção urbana ruim para a cidade, o mais importante é marcar isso. O planejamento urbano oficial tem essa capacidade de [permitir] coisas ruins dentro da lei. Estar dentro da lei não significa que é bom, significa apenas que está dentro da lei. Às vezes, as pessoas confundem isso”, destaca Pougy.
“Elas têm que se manifestar, deixar claro que defendem uma cidade diferente”, acrescenta ao ser questionado sobre as próximas inciativas e o abaixo-assinado realizado pelo movimento, que reuniu cerca de 11 mil assinaturas físicas pela construção do parque entregue à Prefeitura de Curitiba, e sobre o qual “A Causa Mais Bonita da Cidade” alega não ter recebido retorno ou abertura para o diálogo junto ao poder público.