O temporal que resultou em inundação em Curitiba, na tarde de quinta-feira (21), foi registrado exatamente na mesma data de uma enchente ocorrida há 20 anos. Em 1999, também no dia 21 de fevereiro, um temporal atingiu em cheio as bacias do Rio Belém e Barigui, resultando na maior enchente dos últimos 40 anos na cidade. Na ocasião, anos atrás, a água chegou a 70 cm de altura na Boca Maldita, no Centro.
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Já nesta quinta-feira (21) foram dezenas de ruas alagadas e bloqueadas, quedas de árvores, enchentes em residências e aulas suspensas –mostrando que a cidade ainda não está totalmente preparada para enfrentar esse tipo de situação.
O que precisa ser feito?
Para o professor da PUCPR Marlos Hardt, mestre em Gestão Urbana, a solução para as enchentes na capital passa por uma combinação de fatores. Por isso, um planejamento básico para fazer com que a água das chuvas siga lentamente para dentro dos cursos dos rios em trechos urbanos é extremamente necessário.
“Fazer cumprir a obrigação da presença de reservatórios em construções prediais, para aproveitar a água da chuva. Incentivar os telhados verdes, paredes verdes, os jardins de chuva ou biovaletas. Essas soluções, a longo prazo, têm se mostrado eficientes em cidades como Berlim, na Alemanha, e Seattle, nos Estados Unidos”, aponta o professor.
As soluções sugeridas por Hardt dependem tanto do poder público quanto da iniciativa privada. “Não se pode isentar a sociedade do problema”, afirma. “A consciência ambiental precisa estar presente de maneira efetiva nas pessoas, como, por exemplo, não jogar lixo em qualquer lugar e manter programas de ensino ambiental nas escolas e universidades. São pequenas atitudes que fazem diferença”, explica.
O pesquisador Roberto Fendrich, do Departamento de Hidráulica e Saneamento da UFPR, que há três décadas estuda as enchentes nas cidades paranaenses, diz que é preciso agir adotando soluções inteligentes, principalmente diante do alto índice de impermeabilização do solo de Curitiba.
“Em 1999, quando aquela enchente ocorreu no dia 21 de fevereiro, o índice de impermeabilização na cidade era de 79%. Hoje, passados 20 anos, o índice é de 85%. Isso não tem volta. São asfaltos, construções e ocupações em beiras de rio. Obras pontuais vão apenas controlar as enchentes por um período. É preciso utilizar meios mais inteligentes para reter a água”, diz o pesquisador.
Fendrich menciona o uso de microreservatórios para coleta da água da chuva em residências, nos edifícios, nos estabelecimentos públicos e nas empresas. “Essa é a maneira mais objetiva para compensar a impermeabilização do solo.”
Balanço do que já foi feito
Segundo a prefeitura, em 2018, o Departamento de Pontes e Drenagem da Secretaria de Obras Públicas executou 1.852 intervenções de micro e de macrodrenagem, como reparos e construção de passarelas, pontes, implementação de galerias, desassoreamento, limpeza de rios, desobstrução e substituição de tubulação na cidade. As medidas foram adotadas para combater as enchentes, provocadas por grandes volumes de chuva que caem durante as estações quentes.
Nos últimos dois anos, há ainda um serviço permanente de limpeza dos rios e canais, para evitar o acúmulo de lixo, complementa o poder público.
Outra medida importante, esta adotada nos anos 1970, foi a criação de parques e bosques compostos por lagos com a função de reter a água das chuvas. A coleta do lixo reciclável soma-se a essas iniciativas voltadas a reduzir a carga de resíduos que contribuem para entupir bueiros, córregos e rios da cidade.
E os investimentos futuros?
A prefeitura diz que vai investir, até o final da atual gestão, cerca de R$ 480 milhões em ações para combater enchentes e alagamentos. A maior parte dos recursos vem do governo federal, com contrapartida municipal de R$ 2,4 milhões. Serão obras de macrodrenagem em rios e seus afluentes, dimensionadas para grandes vazões de escoamento, realizadas em galerias, canalizações, perfilamento de rios, lagoas de contenção e detenção.
Na área de macrodrenagem, a promessa é que os recursos sejam destinados à Bacia do Rio Belém. Há ainda recursos para obras nas bacias do Barigui, Ribeirão dos Padilhas e Atuba. E, ainda, para a elaboração de projetos na Bacia do Rio Iguaçu.
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