Os hipermercados, antes sinônimos de praticidade e reconhecidos por ofertar uma vasta gama de produtos, vêm sendo aos poucos substituídos pelos atacarejos na preferência dos consumidores. Esse fenômeno de crescimento vem sendo verificado ano a ano por institutos de pesquisa, e foi tema debates realizados nesta quarta-feira (6) durante o Mercosuper, feira voltada ao setor supermercadista do Paraná que está sendo realizada no Expotrade Convention Center em Pinhais (na Região Metropolitana de Curitiba).
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O presidente do grupo Assaí Atacadista, Belmiro Gomes, conversou com a Gazeta do Povo antes de participar do painel “O fenômeno dos atacarejos no Brasil” no Mercosuper. Ele deu mais detalhes sobre o projeto de aquisição de lojas da antiga rede Extra – duas delas em Curitiba, com previsão de reabertura entre agosto e setembro deste ano – e avaliou as mudanças de cenário que levaram o modelo do atacarejo a figurar como tendência no mercado para os próximos anos.
Modelo dos hipermercados precisa de uma reformulação
Citando pesquisas recentes, Gomes apontou que o modelo dos hipermercados vai precisar de uma reformulação se quiser se manter relevante pelos próximos anos. Enquanto o setor de Cash & Carry – espécie de “nome oficial” do atacarejo entre os analistas de mercado – registrou expansão de 15% no ano passado, os hipermercados amargaram recuo de 3,4%, segundo dados da Nielsen IQ.
“O que fez com que os hipermercados passassem a enfrentar dificuldades foi em grande parte o e-commerce e os especialistas. Há não muito tempo atrás, quem precisava de uma furadeira, um forno de micro-ondas, uma batedeira, um liquidificador, um eletroportátil, um utensílio doméstico, fazia essa compra em um hipermercado. A maior parte dessas vendas migrou para lojas especialistas ou para o e-commerce, os chamados produtos não perecíveis de alto valor agregado. Isso fez com que o hipermercado perdesse essas vendas, e com isso tivesse um acréscimo no custo operacional, uma vez que as despesas são quase todas fixas. Foi algo entre 15% e 23% de aumento, que foi repassado principalmente no setor de alimentos”, avaliou.
Gomes continua: “isso bate de frente com o modelo do atacarejo, que oferece uma variedade tão grande quanto de produtos, mas com preços cerca de 15% mais baratos. É difícil afirmar que é o fim desse modelo dos hipermercados, mas é algo que está enfrentando muita dificuldade, e não só aqui no Brasil, é assim no mundo inteiro. Não se imagina mais alguém comprando vestuário em um hipermercado. É complicado pensar hoje que a primeira opção de compra de um smartphone seja em um hipermercado. Hoje, normalmente, essas opções de compra passaram primariamente para as lojas especializadas e para o e-commerce”, comentou.
Primeiras lojas de atacarejo ficavam restritas às periferias das cidades
Quando surgiram, as primeiras lojas no formato atacarejo visavam um público alvo das classes D e E, explicou o presidente, que trabalha no setor há mais de 30 anos. Para oferecerem preços mais competitivos, estas lojas adotaram uma mistura dos formatos de atacado, em que os produtos ficam dispostos em grandes prateleiras, muitas vezes embalados nas mesmas caixas em que foram acondicionados ainda na indústria, com o varejo, possibilitando a compra por consumidores finais e em quantidades menores do que no modelo anterior.
Para comportar o grande volume de produtos, uma vez que nos atacarejos boa parte do espaço interno das lojas é ocupado também como estoque, os imóveis destinados a esse fim praticamente não eram encontrados nas áreas centrais das cidades. Isso fez com que os atacarejos ficassem concentrados às áreas afastadas dos centros urbanos. Para os compradores, os preços mais baixos compensavam as grandes distâncias que precisavam ser percorridas. Mas o cenário agora é outro, afirma Gomes.
“Os comerciantes estão geralmente adensados nas regiões centrais das cidades. É no centro onde também está a grande presença de consumidores. Na medida que o setor do atacarejo cresce e traz uma proposta interessante para esses clientes, eles respondem ‘OK, o preço é bom, mas se houver uma loja mais próxima a mim eu prefiro’. Um dono de restaurante, por exemplo, precisa sair para as compras pela manhã, mas tem que voltar logo para preparar as refeições. Isso repercute nos projetos que nós temos”, explicou.
Compra de lojas do Extra ajudou a quebrar “barreira imobiliária”
Entre esses projetos para a rede do grupo Assaí, Gomes destacou a compra de 70 lojas antes operadas pela rede de hipermercados Extra. O maior diferencial desses empreendimentos, explicou o presidente, é a localização central e o tamanho dos imóveis, que serão readequados para receberem a nova operação. Duas dessas lojas ficam em Curitiba, uma no Alto da XV e outra no Água Verde.
“Esses dois pontos”, avaliou o presidente, “há 10 anos não seriam tratados como óbvios para um atacarejo”. Segundo ele, as regiões centrais, e não as regiões mais distantes do Brasil, eram as últimas fronteiras para o setor. A aquisição das lojas que antes eram operadas pelo Extra, detalhou Gomes, foi fator decisivo para que essa barreira fosse quebrada.
“Nós temos lojas no Amazonas, em Macapá, Rio Branco, Boa Vista, Santarém, regiões bem distantes no norte do país. Essas não eram as últimas fronteiras para esse setor, e sim as regiões centrais das cidades. Havia essa barreira imobiliária, uma indisponibilidade de imóveis. Nós enxergamos que com essa aquisição teríamos a oportunidade de ter um número significativo de lojas, de colocar nossa bandeira, colocar a presença de marcas dentro do nosso projeto de expansão. É um salto importante que temos até chegar à meta de 300 lojas em 2023”, revelou o presidente da rede que conta hoje com 216 unidades, sem contar as 70 novas lojas.
Readequação das novas lojas vai gerar empregos diretos e indiretos
A negociação com o grupo GPA, controlador das marcas Pão de Açúcar e Extra, foi concluída em outubro do ano passado, mas as lojas de Curitiba foram operadas pelo Extra até o mês de dezembro. A partir do início de 2022 o Assaí deu início ao processo de desmobilização das lojas e de readequação dos imóveis. O trabalho deve se estender até o terceiro quadrimestre, quando as lojas estarão prontas para voltar a receber os clientes, e deve gerar muitos empregos diretos e indiretos.
“Além de uma massa importante de investimentos na reformulação dos prédios tem muita geração de empregos na construção civil. Todas essas lojas serão readaptadas e reformadas para acomodar a operação de atacarejo. Nós devemos gerar pelo menos 50% a mais de empregos internos diretos do que vinha tendo o hipermercado”, comentou.
Novas lojas são inspiradas em modelo dos EUA
O modelo padrão que será replicado nas novas lojas da rede será o da unidade da Tijuca, no Rio de Janeiro, convertida a partir de uma loja Extra. A inspiração, revelou o presidente, veio da rede de atacarejo norte-americana Costco, onde “todo mundo compra, independente da classe social”. Algumas mudanças foram feitas para que as lojas tivessem uma aparência interna diferente dos primeiros atacados, que mais se assemelhavam a galpões de um armazém e menos um supermercado.
“O aspecto das lojas é diferenciado. Para isso, trabalhamos na iluminação e no tráfego de empilhadeiras na área interna. Mudamos o padrão de qualidade do piso e oferecemos uma melhor climatização com ar-condicionado. Temos um grande sortimento de produtos, dos mais baratos aos premium, e contamos com um número maior de funcionários dentro das lojas, o que nos permite um nível superior de atendimento. São lojas que contam com serviços agregados que não havia no passado, como açougue e fatiamento de frios. Hoje é possível fazer esse atendimento voltado tanto para os comerciantes quanto para os consumidores, oferecendo bons preços, bons serviços e boa localização”, concluiu.