Mais um caso de tentativa de rapto de crianças aconteceu na grande Curitiba. Desta vez, foi em Campo Largo, na manhã desta quarta-feira (02). Se não fosse um motorista passar, ver o desespero da mãe e ajuda-la, a criança teria sido levada.

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A filha mais velha da vítima conversou com a Tribuna e contou o que aconteceu com sua mãe, Neuci Crichaki, 37 anos. A mulher seguia pela Via Veneza, a caminho de uma escola no bairro Rondinha, empurrando o carrinho com sua filha mais nova, de um ano e cinco meses, quando um Siena prata passou por ela devagar. Neuci estranhou, já que a placa do carro estava coberta com fitas brancas, mas continuou seu caminho normalmente. Porém o veículo voltou, parou ao lado dela e o motorista desceu.

Conforme a vítima relatou à polícia, o homem foi direto na bebê, uma menina loirinha e de olhos azuis, e a arrancou do carrinho. Com ela no colo, ficou argumentando com a mãe, insistindo para leva-la passear de carro. Já foi abrindo a porta de trás do veículo, onde havia muitas balas e doces no banco.

Em pânico, a mãe, chorando, insistia para que o estranho devolvesse a criança, que também já estava chorando no colo do suspeito. Neste momento, passou outro motorista, num carro branco, viu o desespero da mãe e desceu para perguntar o que estava acontecendo. A mãe contou e o motorista do carro branco, esperto, começou a questionar o suposto sequestrador se ele era pai da criança, o que ele queria com ela. Quando percebeu que a mãe falava a verdade, o homem do carro branco ameaçou chamar a polícia. O suposto sequestrador desistiu do “passeio”, largou a criança de volta no colo da mãe e foi embora, cantando pneu, sentido à Avenida Padre Natal Pigatto, rumo à Curitiba. Era um homem moreno, magro, com cerca de 1,70 metro de altura, com aparelho nos dentes.

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O pai da criança divulgou um áudio no WhatsApp, contando o que aconteceu e alertando outras famílias a ficarem atentas. E diante de boatos de que o áudio seria falso, ele divulgou outro, atestando a veracidade dos fatos.

Ouça os áudios!

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Polícia

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Apavorada, Neuci não conseguiu sequer chamar a polícia. Mas, no dia seguinte, foi acompanhada do marido à delegacia da cidade dar queixa. O delegado Cassiano Aufiero informou que depois de ouvir o relato da mãe, prontamente uma equipe foi ao local buscar pistas do suspeito. Neuci também foi encaminhada ao Instituto de Criminalística, em Curitiba, para fazer um retrato falado do suspeito, que deverá ser divulgado assim que ficar pronto.

O delegado pede a quem tiver informações do suspeito, que as repasse à polícia. O telefone da delegacia de Campo Largo é o 3291-6100.

Dificuldade de fazer BO

Enquanto a vítima de Campo Largo teve total apoio da delegacia local, outra mãe que sofreu uma possível tentativa de rapto a sua filha, no Atuba, terça-feira da semana passada (25), sequer conseguiu registrar a ocorrência. Ela procurou duas delegacias, que se negaram a registrar o fato. O caso dela, a empresária Angélica Breda, foi contado aqui na Tribuna, na última quarta-feira (02).

Angélica conta que, apavorada, não conseguiu nem pensar em chamar a polícia na hora. Mas depois, conversando com policiais conhecidos seus, foi orientada a registrar a ocorrência em alguma delegacia. Dois dias depois, foi ao 4.º Distrito Policial (DP), no Boa Vista, onde o policial informou que o crime deveria ser registrado em outra delegacia, responsável pela área da cidade onde ocorreu o fato. Além da orientação, o policial ainda mostrou um mapa na parede, dizendo que era “o único policial dentro daquela delegacia responsável por uma área com 300 mil habitantes. Porque se se eu sair ali fora pra atender uma ocorrência, a delegacia fica sozinha e meus presos estão sujeitos a fugir. Você acha que você está segura aqui (na delegacia)?”, conforme relata Angélica.

Seguindo a orientação do policial, Angélica foi ao 5.º Distrito Policial, no Bacacheri, dias depois. Porém lá, a recepção foi pior ainda. A policial que a recepcionou disse que não poderia registrar um BO ou uma Notícia de Fato (que é o registro de um acontecimento não necessariamente delituoso). “A policial ficava me dizendo que não tem crime no que aconteceu comigo. Me perguntava: Qual é o crime? Qual é a lei? Qual é o artigo do Código Penal? Mas não aconteceu crime. A Polícia Civil só faz a sua parte depois do ato acontecido. Mas então me diga qual é a lei que se enquadra seu crime?”, diz Angélica, que saiu de lá mais uma vez decepcionada, furiosa e sem registrar o ocorrido.

“Minha intenção era alertar a polícia para que tenha ciência do que está acontecendo. Afinal, estamos ouvindo outros casos de tentativas de raptos de crianças”, disse a empresária.

A Corregedoria da Polícia Civil ficou sabendo do ocorrido com Angélica e disse que irá tomar providências, para averiguar a conduta dos policiais.

O susto

Angélica parou num semáforo, no trevo do Atuba. Outro carro parou ao lado dela e um homem desembarcou. Ele foi direto na porta em que estava a cadeirinha infantil da filha de Angélica e tentou abrir a porta. Não conseguiu, pois as portas estavam travadas. Mas chegou a chacoalhar o carro forçando a maçaneta. Apavorada, Angélica buzinou, furou o sinal vermelho e acelerou pela BR-116. O veículo suspeito foi atrás dela, buzinando para ela um trecho do caminho, até entrar na entrada que dá acesso a Pinhais e Colombo. Angélica continuou pela BR-116, acreditando que o homem queria tirar sua filha do carro.

 

Bairro Augusta: só assalto ou tentativa de rapto?

 

No mesmo dia que Angélica passou pelo susto no Atuba, terça-feira da semana passada (25), outra mãe foi assaltada no bairro Augusta e desconfiou que o que o bandido queria era levar seu filho. A designer gráfica Suelen Valença, 32 anos, relata que seguia a pé pela Rua Casemiro Mitczuk, esquina com Rua Mafra, levando suas duas crianças – um menino de cinco anos e uma menina de sete – para a escola, quando foi abordada por um rapaz armado, que chegou por trás dela. “Primeiro ele me encarou e encarou meu filho. Ficou um tempo olhando pra ele. Depois é que ele olhou para o celular que eu tinha na mão e puxou o aparelho”, diz a mulher.

Veja o relato de Suelen no Facebook:

Mesmo depois de tomar o celular, o marginal voltou a encarar a criança, que se assustou, soltou da mão da mãe e deu um passo para trás. O bandido deu um passo a frente e se agachou na direção da criança, como se fosse pegá-la. “Eu me agachei e agarrei minhas duas crianças. Aí acho que ele percebeu que vinha alguém atrás de mim caminhando e desistiu. Entrou num Pálio vermelho, onde estava um homem ao volante e uma mulher no banco do carona, e foi embora”, disse Suelen.

Apesar do susto, Suelen conseguiu ver a placa do carro. Segundo os policiais militares que a atenderam em seguida, era um carro roubado no bairro Fanny, no dia anterior. O assaltante era um homem branco, careca, aparentando quase 40 anos, um pouco gordo. O que dirigia o Pálio parecia ainda bem jovem, branco, loiro e usando boné. A mulher tinha cabelo vermelho.

Apesar do crime ter sido registrado como roubo, porque o homem levou o celular da designer, ela acredita que poderia ser um rapto, pois a atitude do homem com o menino foi estranha.