A recuperação da restinga da nova orla de Matinhos, no Litoral do Paraná, que já recebeu 1,8 milhão de mudas nativas, deve beneficiar a praia, contribuindo para a manutenção das dunas e ajudando a manter o equilíbrio da biodiversidade do ecossistema. O plantio faz parte das obras de revitalização da orla e promete reconfigurar completamente o perfil da vegetação na cidade.
Os canteiros foram instalados como parte das intervenções do Instituto Água e Terra (IAT) em parceria com o Consórcio Sambaqui, grupo de empresas responsável pelo projeto após licitação pública. “A restinga é importante não apenas pela cobertura vegetal , mas também para ajudar na fixação da areia para formar os cordões de praias, que são estruturas de sedimento arenoso típicas das praias naturais”, explica o engenheiro florestal e consultor do Consórcio Sambaqui, Hiago Adamosky Machado.
As espécies foram plantadas em uma área de 5 hectares ao longo da extensão de 6,3 quilômetros da obra, ampliando em 100% a quantidade de vegetação existente na praia, que era de 2,5 hectares. O investimento nesse processo é de R$ 268 mil. Machado acrescentou que a vegetação criou um cenário ideal para a recolonização do ambiente por espécies de fauna, como corujas buraqueiras, que se alimentam de insetos e roedores que habitam as plantas.
O engenheiro florestal avaliou que a maioria das praias de Matinhos já não tinham restinga, e as poucas áreas em que havia faixa de areia suficiente para sustentar a vegetação sofriam ou haviam sido alteradas com a ocupação humana (antropizadas). “Foi um projeto de recuperação em grande escala. Fizemos o transplante direto das mudas para simular o cenário mais natural possível e trazer o melhor resultado para a recuperação e interação entre essas espécies”, acrescenta.
Machado também reforça que para garantir a recuperação apropriada da vegetação, os frequentadores da praia devem tomar alguns cuidados essenciais. “O ideal é respeitar a delimitação da restinga, acessando a praia apenas pelos caminhos apropriados e não descartando lixo nos canteiros. Além disso, é importante ficar atento à presença de espécies exóticas no local, como as plantas características dos jardins que às vezes são plantadas pela população. Ao verificar alguma dessas infrações, é recomendado acionar a Prefeitura”, aponta.
Espécies plantadas
Ao todo, seis espécies características da restinga foram incluídas nos canteiros: a Blutaparon sp. e Hydrocotyle sp., plantas halófitas com função de fixação do solo; a Canavalia sp., uma leguminosa que facilita a absorção de nitrogênio pelo solo; a Ipomea pes-caprae e a Ipomea imperata, que promovem a circulação de nutrientes; e a Cordia verbenacea e a Polygala cyparissias, que atraem abelhas para facilitar a polinização.
As espécies foram cultivadas ao longo de um ano em um viveiro em Matinhos preparado especialmente para a obra pelo consórcio, com capacidade para produção simultânea de 650 mil plantas. O espaço já não está mais em operação, já que produziu todas as mudas necessárias para a recuperação. Agora, será feito apenas o processo de enriquecimento nos canteiros com plantas transplantadas da restinga de Pontal do Paraná.
Obra de revitalização
A primeira fase da revitalização da Orla de Matinhos está 94,33% concluída e deve ser entregue no segundo semestre deste ano. O investimento do Governo do Estado é de R$ 354,4 milhões ao longo de uma extensão de 6,3 quilômetros, entre o Morro do Boi e o Balneário Flórida.
A intervenção inclui a execução de serviços de engorda da faixa de areia por meio de aterro hidráulico, estruturas marítimas semirrígidas, canais de macrodrenagem e redes de microdrenagem. Além do sistema de drenagem, as obras contemplam a melhoria da pavimentação asfáltica e recuperação de vias urbanas. Em uma segunda etapa, ainda sem previsão para ter início, será recuperado o trecho de 1,7 quilômetro entre os balneários Flórida e Saint Etienne.