Trabalho pro Conseg

No Batel, bairro mais rico de Curitiba, luxo atrai a violência e causa medo

Considerado um dos bairros mais ricos da capital, o Batel é localização de prédios luxuosos com apartamentos milionários.
Considerado um dos bairros mais ricos da capital, o Batel é localização de prédios luxuosos com apartamentos milionários. Foto: Arquivo/Tribuna do Paraná.

A angústia por soluções fez a advogada Ana Cecília David Parodi procurar alguma forma para aliviar a sensação de insegurança que sentia ao andar pelo bairro onde nasceu, o Batel. Hoje presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do bairro, Ana Cecília luta para resgatar a liberdade do morador do Batel. “É a liberdade de andar pelo bairro como quiser, sem ser vítima da violência urbana”, reflete.

Ana Cecília e os moradores do bairro conhecem bem de perto a insegurança da região. Considerado um dos bairros mais ricos da capital, o Batel é localização de mansões centenárias. Sempre foi considerado um bairro muito próspero. Além de ser residencial, o Batel também é ponto de encontro de jovens pois tem sua vida noturna agitada. Há também um Batel de grandes negócios, escritórios, comércios e serviços de luxo, shoppings, restaurantes.

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Por ser a região preferida do mercado de luxo, a circulação de objetos de valor acabaram chamando a atenção de criminosos. Um exemplo é a Gangue do Rolex, que atuava no bairro assaltando carros em busca dos relógios caríssimos. Felizmente, boa parte da quadrilha já foi presa pela Polícia Civil, trazendo alívio aos moradores.

Diante da realidade violenta, que vai de pequenos assaltos realizados por jovens menores de idade a quadrilhas especializadas em objetos de grande valor, Ana Cecília sentiu a necessidade de ver o avanço das questões de segurança no bairro. “A gente vê que o mundo avança a passos largos e que precisamos trazer mais oportunidades de crescimento aqui. Estávamos marginalizados quanto a presença de câmaras, policiamento”, revela.

Ana Cecília participa de sua segunda gestão no Conseg do bairro. Foi em novembro de 2019 que, junto com um amigo, que se candidatou como vice-presidente da chapa vencedora. Na época, o Conseg foi reativado depois de anos sem atividade. Já agora em 2022, ela resolveu dar um passo a mais e virou presidente, assumindo em março.

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Pandemia: o primeiro grande desafio

Assim que assumiu a liderança, Ana Cecília se deparou com o grande problema gerado pela pandemia: o aumento da pobreza. “A pobreza foi aumentando e quando não tem comida, a criminalidade aumenta. Então pensei, vou para as ruas agora. A gente recebeu apoio dos empresários, oferecemos comida para as pessoas e tentamos segurar o escalonamento da violência dessa forma”.

Junto a isso, Ana Cecília e a equipe do Conseg tentou fazer uma interlocução entre empresários e Prefeitura de Curitiba para que houvesse mais diálogo durante as restrições sanitárias da pandemia. No período mais crítico, de tempos de ‘lockdown’, muitos empresários do bairro fecharam as portas – investimento de anos, sonhos destruídos, famílias inteiras sem renda. “A gente lutou por uma reabertura gradual”, explicou.

Por coincidência, a gestão de Ana Cecília como presidente começou um dia depois do fim da obrigatoriedade do uso das máscaras em locais fechados. “A gente entendeu isso como algo significativo. A chapa veio renovada, com pessoas atuantes no processo durante a pandemia. Fomos eleitos com uma visão do desenvolvimento econômico para o estabelecimento da segurança pública e econômica do bairro”, defendeu.

Foto: Felipe Rosa / arquivo Gazeta do Povo.

Por um Batel mais seguro

Com quase um milhão de passantes por dia pelo bairro, o Conseg Batel luta pra transformar o bairro e deixá-lo mais seguro. “Fazer um bairro residencial mais seguro é mais fácil. Aqui há muito comércio, muito prédio social, as pessoas vem para cá. Nosso desafio foi reconhecido. Conversamos com entidades representativas, com Secovi, Abrasel, os shoppings todos, as redes de supermercados aderiram. Isso levou a ter 20 lideranças no grupo de WhatsApp, que repassam informações de segurança e demanda pública de 6 a 7 mil pessoas”.

Com o grupo, o Conseg está conseguindo fazer a identificação dos principais criminosos e agressores do bairro. “Estamos conseguindo atender os anseios de mobilização, do efetivo do patrulhamento ostensivo, e customizar soluções para quadras específicas”, garante a presidente.

As regiões no entorno das grandes concentrações de compras e comércio são os locais que mais demanda atenção. Entornos da Praça da Espanha até a Visconde de Guarapuava, nos cruzamentos da Ângelo Sampaio, Francisco Rocha são pontos onde os pequenos assaltos acontecem com mais frequência.

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Grandes casarões que viraram mocós

No Batel, conhecido pelas grandes mansões centenárias, também vê nelas um grande problema. São esses imóveis, que fazem parte de heranças e inventários, que estão se tornando verdadeiros mocós. “Dizer que o bandido não mora no meu bairro é uma mentira. Claro que mora, de algum jeito sim. Nos lugares onde parece ser mais tranquilo, há invasões de casas antigas. Para resolver isso, conversamos com lideranças da construção civil e com políticos para iniciar um novo debate sobre a melhoria da Lei anti-mocó”.

A ideia do Conseg é colocar um tapume de metal no entorno dessas casas, com a permissão da prefeitura, e fazer nesses tapumes uma propaganda institucional do projeto Bairro Seguro. “Junto com isso, a médio e longo prazo, atualizar a lei. Precisamos também de muito mais efetivo policial, para proteger os pedestres”.

Segurança para todos e todas

Cheia de ideias, Ana Cecília busca soluções para ter mais inclusão social no bairro, em que todos possam se sentir mais seguros: jovens, adultos, famílias. A presidente do Conseg, numa conversa com a delegada da Casa da Mulher Brasileira, descobriu mais um grande problema do Batel: pouquíssimos registro de violência contra mulher.

Num primeiro momento, os números dão a impressão de uma região calma. No entanto, a realidade parece diferente. Mulheres vítimas de seus agressores, com medo de denunciar. “Elas têm receio de se expor, a gente precisa evitar isso. A delegada me contou que, de todas as medidas protetivas, nenhuma terminou em violência seguida de morte”, explicou a presidente. Denunciar o agressor é fundamental.

Para ajudar e dar atenção a essas mulheres, o Conseg Batel tem conversado com empresas, para que se dê prioridade a mulheres, recolocá-las no mercado de trabalho. “Temos que dar atenção para as mulheres. Se a gente não se une, ninguém vai fazer pela gente”.

Onde achar o Conseg?

Caso queira ir em um Conseg próximo de casa para ser voluntário ou mesmo para fazer uma reclamação ou pedido, procure no site da Ceconseg o conselho mais perto da sua região, ou entre em contato via e-mail ( conseg@sesp.pr.gov.br) e telefone  (41) 3299-7928.

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