Em um mundo conectado onde é possível fazer compras, passar por uma consulta médica e trabalhar de maneira virtual, os relacionamentos também passaram para o meio digital. Nesse contexto, os aplicativos de namoro ganham protagonismo. O Tinder, por exemplo, afirma que tem 10 milhões de usuários ativos em todo o Brasil.
“Antigamente os comportamentos eram analógicos, isso vale para relacionamentos, consumo, trabalho e amizade. O mundo digital e o mundo presencial, para as novas gerações, não têm fronteiras e tudo é muito rápido, ao prazo de um clique. E essa dinamicidade também está nos relacionamentos. Os aplicativos são como um catálogo, olho informações objetivas, seleciono e começo a conversar”, esta é a perspectiva do doutor em Psicologia Clínica, Paulo Cesar Porto Martins, professor da PUC-PR.
Ainda segundo a plataforma, o perfil de usuários é de jovens adultos, na faixa dos 25 anos, sendo mais popular entre os homens, com 60% dos cadastros, do que entre as mulheres, com 40%.
“O mundo mudou, não vou entrar no mérito do que é errado ou certo. No digital tudo é muito rápido, muito descartável. Sempre avalie o quanto você vai se entregar e deixar se apaixonar por alguém que você ainda nem viu pessoalmente. É preciso ter cuidado com a superficialidade. Se você está se relacionando com uma pessoa online, considere que é um ser humano do outro lado, que tem emoções. Antes de se entregar emocionalmente, conheça melhor a pessoa. Inclusive de maneira presencial”, complementa o professor.
Pode dar namoro
Em um relacionamento há um ano e cinco meses, a analista de operações Ana Cozzer conheceu o namorado, André Fardin Rosa, pelo Tinder. Tudo começou quando os colegas do trabalho sugeriram que ela tentasse os aplicativos.
“Por aplicativo sempre temos uma facilidade maior de selecionar e aceitar ou não falar com alguém, o que sinceramente achei ótimo. Na vida real não existe muito essa opção, então nesse quesito achei bem mais confortável, não fica um climão quando você não se interessa pela pessoa. Óbvio que existem os pontos negativos, mas acho que no offline também é possível alguém fingir ser o que não é”, relata.
Ela tinha medo de cair em golpes ou se decepcionar, então criou uma série com 39 critérios para dar um “match” com alguém. Eles foram divididos entre “obrigatórios” e “preferências”, desenvolvidos com base em relacionamentos anteriores e autoanálise. Para quem procura o amor pelas plataformas, Ana deixa algumas dicas:
“Antes de tudo, procure ter clareza do que está buscando e de tudo aquilo que você não quer também. Isso vale para encontrar alguém no mundo virtual ou fora dele, inclusive. Feito isso, assim que iniciar a conversa com alguém, procure informações sobre aquela pessoa na internet e redes sociais. Você pode descobrir sobre a vida acadêmica e profissional da pessoa, se está envolvida em algum processo na justiça e também ver se têm amigos em comum. Não foi meu caso, mas se tiver, eu recomendo entrar em contato com algum deles e perguntar de onde conhece aquela pessoa”, recomenda.
Médicos, artistas, jovens e corpo de academia: este é o perfil dos golpistas nos aplicativos
“Infelizmente, hoje o que mais existe é perfil fake nas redes sociais e muitas vezes é difícil de identificar. Uma das possibilidades é pegar a foto que a pessoa usa no aplicativo e jogar no Google, assim dá para ver se ele corresponde a outros perfis. Quem usa os aplicativos de namoro pode e deve procurar o nome da pessoa em outras redes, como o Instagram, Facebook e até mesmo o LinkedIn”, recomenda o delegado José Barreto, responsável pelo Núcleo de Combate ao Cibercrimes da Polícia Civil.
As vítimas costumam ser homens e mulheres, entre 40 e 50 anos, solteiros ou viúvos. Os criminosos exploram a carência para ganhar confiança e pedir dinheiro. Alguns dos pretextos mais conhecidos são que os golpistas vão enviar um presente, mas precisam que a pessoa que vai receber pague o frete ou ainda que estão no exterior e precisam fazer um depósito no Brasil.
“Se você for marcar um encontro pelo Tinder ou qualquer aplicativo de namoro, o primeiro cuidado é avisar para alguém, mãe, pai ou amigo. Diga onde você vai, que horas e que vai encontrar alguém que conheceu online. Além disso, a gente sempre orienta que escolha locais públicos, um shopping, um restaurante, que tenha outras pessoas por perto. Não se recomenda que vá direto para a casa da pessoa sem antes conhecê-la pessoalmente. Na casa de alguém que você não conhece, não tem como pedir socorro, por exemplo”, complementa o delegado.
A recomendação é sempre desconfiar, não compartilhar dados pessoais ou imagens íntimas. Outro ponto de preocupação da Polícia Civil é com o uso da inteligência artificial.
“A internet traz uma vasta gama de ferramentas para modificar informações e imagens. Todo cuidado é pouco ao conhecer alguém pela internet”, diz Barreto.
Quem for vítima de algum tipo de crime, seja financeiro ou sexual, deve tirar capturas de tela de todas as conversas, além de anotar datas importantes. As informações podem ser colocadas em um pen drive e a orientação da Polícia Civil é que a pessoa procure uma delegacia para registrar o caso.