Com os bares fechados e shows suspensos no Paraná por causa do coronavírus, músicos de Curitiba têm contornado a crise com apresentações em condomínios clube da capital. Em vez do palco, o som é montado à beira da piscina, nas quadras esportivas e pátios que dão de frente para as sacadas dos moradores. Isolados e seguindo recomendações de distanciamento social para evitar o contágio da covid-19, as performances musicais fazem a alegria da vizinhança e trazem conforto na quarentena. Não há quem não se anime para dançar nas sacadas.
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Uma dupla de músicos que já se apresentou em nove condomínios e teve um show compartilhado nas redes sociais da prefeitura de Curitiba disse que, além de vaquinhas entre vizinhos para garantir o cachê, um condomínio chegou a arrecadar 400 quilos de alimentos e até uma geladeira para doar à instituições carentes. “É muito gratificante poder alegrar as pessoas neste momento”, disse Semar Lopes (@semarlopes), 53 anos, que se apresenta junto com o renomado baterista Endrigo Bettega (@endrigobettega), 50 anos. “Somos a dupla Los Bagrinhos, porque nós dois somos de Paranaguá”, contou.
Segundo Lopes, os convites para tocar nos condomínios surgiu depois que eles fizeram uma apresentação na sacada da dentista do Endrigo. “Eu vi nas redes sociais um cara tocando na sacada e isso nos motivou a também querer tocar numa sacada. Com isso, veio a ideia de oferecer shows desse tipo”, revelou. A dentista tinha um grupo de aplicativo de mensagens com várias pessoas de outros condomínios próximos do dela e postou a apresentação dos dois. “O negócio se espalhou e foi parar nas redes da prefeitura. A última vez que vi, tinha mais de 100 mil acessos”, disse Lopes.
O condomínio que arrecadou os alimentos e a geladeira fica no Campo Comprido. O síndico Luiz Francisco de Matos Neto, 38 anos, disse que a opção dos condôminos para o cachê do Los Bagrinhos foi a divisão direta na taxa do condomínio, sem vaquinha, mas que quase todos os moradores resolveram participar da arrecadação de alimentos de forma espontânea. “Foi muito bacana. Tinha gente de outros prédios acompanhando, gente da rua também, cartazes de agradecimento nas janelas e um vizinho que estava se mudando deixou a geladeira como contribuição”, contou.
O baterista Endrigo Bettega disse que as apresentações levam o nome de ‘A Grande Sacada’ e que ele é o ‘bacterista contra o coronavírus’. “Brinco que vou matar o vírus com as baquetas”, explicou. Para Bettega, que está na estrada há 35 anos e já passou por muitas experiências, inclusive internacionais, levar entretenimento para as pessoas neste momento é algo diferente. “Eu me emociono. Nós não cruzamos com ninguém para montar o som no condomínio, ficamos sozinhos, isolados na beira da piscina, quadras, até que começamos a tocar e as pessoas se comovem. Lá pelas tantas, alguns descem e nos levam bombom, vinho e até churrasco. Um de cada vez, sem aglomeração. Dá pra ver que as pessoas estão respeitando a quarentena”, disse.
Quem também está espantando a crise da pandemia é o músico Ale Gomes (@alegomesmusico), 45 anos. Ele toca sozinho e, às vezes, acompanhado. No caso do Ale, as apresentações surgiram depois das lives que ele começou a fazer nas redes sociais. “As pessoas viram e passaram a me pedir para fazer essas lives na casa delas. No caso, nas áreas abertas dos condomínios”, contou ele, que já fez quatro shows. “Eu não combino um valor de cachê, pois o que vale é o rolê, a sensação de estar ajudando as pessoas a passar por esse período. Mas sei que elas se organizam, fazem vaquinhas, e fazem questão de nos gratificar. É muito legal para os dois lados”, disse.
Mas, segundo o próprio Ale, nem sempre as apresentações agradam toda a vizinhança. No Uberaba, um dos shows dele teve que acabar antes da hora. “Bateu polícia por causa das reclamações de som alto, vindas das casas ao redor do condomínio. Agora, por experiência, uma apresentação de uma hora e meia é o suficiente para não incomodar ninguém. O horário para começar também tem que ser no início ou no fim da tarde”, apontou.
Enquanto os músicos se empenham em fazer o melhor show, os moradores só se divertem. Alguns fazem churrasco nas sacadas, outros descem no pátio e assistem a tudo mantendo distância por causa do coronavírus e, também, há quem apenas aproveite para tomar um drink e curtir a apresentação como se estivessem em um bar. “Tem que gritar toca Raul, senão não tem graça”, brincou o casal Vania Cardoso Leite, 33 anos, e Daniel De Souza Francischetti, 37 anos, moradores de um condomínio do Mossunguê, onde o Ale Gomes tocou na tarde do feriado de Tiradentes, na última terça-feira (21), ao lado da cantora Angela Soul (@angelasouloficial), 34 anos. Na ocasião, houve transmissão ao vivo da apresentação pelo Facebook da cantora. “É uma forma de divulgar”, conclui Ale.