O chefe da Operação Lava Jato em Curitiba, o procurador Alessandro José Fernandes de Oliveira, 45, morreu nesta quinta-feira (20). A notícia foi confirmada em nota do Ministério Público Federal, que não informou a causa da morte. Oliveira tratava um câncer e deixa a esposa e dois filhos. O governador Carlos Massa Ratinho lamentou a morte do procurador e decretou luto oficial de três dias.
Ele substituiu Deltan Dallagnol na chefia da força-tarefa de Curitiba em setembro do ano passado, mas já integrava o grupo de trabalho desde janeiro de 2018, em ações que tramitam nas cortes superiores, trabalhando em casos de investigados com foro especial.
+Leia mais! Concurso da Polícia Federal vai parar nos tribunais. STF julga adiamento da prova
A força-tarefa foi dissolvida em fevereiro deste ano, mas alguns de seus integrantes -Oliveira entre eles- migraram para o grupo de atuação especial de combate ao crime organizado (Gaeco) do MPF para dar continuidade às investigações da operação.
Em nota, o MPF destacou que o trabalho de Oliveira ficará marcado pela “excelência e cordialidade”.
“Todos aqueles que tiveram o privilégio de conviver com Alessandro durante a brilhante carreira dedicada à defesa dos ideais do MPF trazem a marca de seu exemplo. Alessandro deixa ao Ministério Público Federal um legado de coragem e honradez”, diz o texto.
Ao tratar da atuação do procurador na coordenação da Lava Jato, a equipe contou que ele aplicou o lema “ninguém fica para trás” diante dos desafios enfrentados pelo grupo.
“[Ele] cativou colegas com seu espírito coletivo e com sua forma empática e sempre respeitosa de dialogar. E, mais uma vez, mostrou a excelência do seu trabalho”, finalizou a nota. O MPF decretou luto oficial de três dias.
Deltan postou uma homenagem ao colega nas redes sociais, na qual ressaltou que Oliveira não hesitou em assumir a coordenação do grupo, mesmo diante das dificuldades que a investigação já enfrentava na ocasião.
+ Leia mais: Ministério da Saúde inclui mais doenças na lista de comorbidades para vacinação
“Foi com coragem, espírito público e disposição para o sacrifício pessoal em favor da sociedade que Alessandro assumiu a coordenação no MPF da maior operação anticorrupção da história brasileira. Eu tenho especial razão para agradecê-lo porque foi a decisão dele que me permitiu ter mais tempo para dedicar à saúde da minha família quando isso foi necessário”, afirmou.
Cerca de um ano antes de assumir o comando da operação, Oliveira e outros cinco procuradores da equipe chegaram a deixar o posto, alegando incompatibilidade com medidas da então procuradora-geral, Raquel Dodge. Dias depois, Augusto Aras, que assumiu o cargo na sequência, convidou parte da equipe para voltar aos postos, entre eles Oliveira.
Numa nova crise, desta vez com Aras, em junho de 2020, Oliveira decidiu não seguir os três colegas que pediram para deixar o núcleo de Brasília. Na ocasião, Hebert Mesquita, Luana de Macedo e Victor Riccely entregaram os postos em resposta à tentativa da coordenadora, Lindôra Araújo, braço direito de Aras, de acessar dados sigilosos da força-tarefa em Curitiba.
Oliveira começou a carreira como procurador em 2004, em Marabá (PA), e no mesmo ano foi deslocado para Foz do Iguaçu (PR), onde permaneceu até 2007. Depois de uma passagem por Paranaguá, no litoral do estado, ele foi definitivamente escalado para atuar em Curitiba a partir de 2013.
+ Veja também: Dificuldade em comprovar comorbidade acelera fila da vacinação em Curitiba
Também foi conselheiro do Conselho Penitenciário do Paraná, de 2011 a 2013, e coordenador da Rede de Controle da Gestão Pública do Paraná, de 2012 a 2016.
Entre advogados, era descrito como linha dura, mas ponderado em relação aos casos. No gabinete, era conhecido por seguir os horários à risca e revisar todo o trabalho dos subordinados, além de manter a prática dos estudos.
À frente da Procuradoria Regional Eleitoral, cargo que ocupou entre 2013 e 2017, pediu a cassação de deputados paranaenses. Também coordenou em 2013 uma operação contra crimes eleitorais na qual foram cumpridos 72 mandados de condução coercitiva, prática bastante utilizada pela Lava Jato, mas proibida pelo STF (Supremo Tribunal Federal) há dois anos.
“Dedicação e ponderação são dois adjetivos que cabem bem para ele”, descreveu o advogado Gustavo Guedes ao jornal Folha de S.Paulo em setembro do ano passado. Ele acompanhou o trabalho de Oliveira na área eleitoral.
Ex-oficial da Polícia Militar, Oliveira passou a atuar nas áreas criminal e de combate à corrupção, em câmaras de coordenação e revisão do MPF.
Em 2018, ele atuou na Operação Research, que apurou fraudes de R$ 7,3 milhões em bolsas de estudos na UFPR (Universidade Federal do Paraná). Treze pessoas foram condenadas pelos crimes de associação criminosa, peculato e lavagem de dinheiro.
Na época em que assumiu a coordenação da Lava Jato, a Procuradoria do Paraná afirmou que Oliveira possui “reconhecida experiência no combate ao crime organizado”.
Oliveira se formou em segurança pública pela Academia da Polícia Militar do Paraná e em direito pela UFPR. Mestre em direito das relações sociais, foi professor de direito criminal e processual penal desde 1996 e também dava aulas na Escola Superior do Ministério Público da União.