“Não temos resposta, não temos água, mas a conta é precisa, chega no dia certo e não falha”. Esse é o desabafo de um dos moradores do Cajuru, em Curitiba, que está sem água desde segunda-feira (25). Ele e todos os outros que estão sofrendo com a situação já não sabem mais o que fazer.
Em algumas casas, os moradores estão apelando para familiares de outros bairros para poder, pelo menos, tomar banho. Enquanto a reportagem era produzida, na tarde desta quinta-feira (28), os moradores contaram que a água começou a voltar nas ruas, mas que o medo de ela acabar continua.
Moradora do bairro há 21 anos, Gisele Loth Pereira contou à Tribuna do Paraná que a situação não vem de hoje. “Nosso problema vem de muitos dias. Desde quando começou o rodízio, tivemos sempre problema no retorno da água, mas dessa vez passou dos limites.”
+ Leia mais: Nível dos reservatórios segue em 44% e rodízio continua na Grande Curitiba
Segundo a moradora da Rua Hibiscos, na segunda-feira o rodízio estava previsto para começar às 16h. “Como ia começar, a gente se previne, guarda água, mas meio-dia cortaram sem nenhum aviso. De lá pra cá, passou o período do rodízio, hoje já é quinta-feira, e nenhum sinal do retorno da água”, reclama.
Gisele comentou que, pelo menos da casa dela, já foram várias ligações para a Sanepar. “Dessa vez, esperamos um pouco para ligar na Sanepar, mas quarta-feira começamos a ligar e passam várias informações. Primeiro diziam que a água iria voltar logo, depois mudaram as respostas, cada hora davam uma informação. No fim, continuamos desde segunda-feira sem água”.
Na mesma rua, outras pessoas relatam uma situação parecida e tem gente que já não tem água sequer para as necessidades básicas, como higiene pessoal. “A gente não vence comprar água. Já pagamos um absurdo na fatura, se for comprar água mineral para cinco dias a gente não aguenta. Não podemos sequer usar o banheiro, não tem como passar um pano no chão, lavar roupa, a situação está crítica”, diz Gisele.
+ Leia mais: Lembra das “bikes” da Yellow? Que tal comprar uma delas?
Na casa de Alana Garcia, que mora na Rua João Gribogi, para tomar banho foi preciso ir longe, bem longe. “Fui até Fazenda Rio Grande para tomar um banho decente, porque estava tomando de balde e fiquei com medo de ficar sem água na caixa. Água para descarga não temos mais. Não temos mais água pra nada, esperamos que a chuva, pelo menos, nos ajude para podermos limpar a casa”, desabafou a jovem.
Segundo Alana, nesta quinta-feira uma equipe da Sanepar esteve na rua procurando por vazamentos, mas não encontrou nada. “Como tem uma obra num córrego aqui próximo, pensaram que poderia estar com vazamento ali, mas viram tudo e disseram que não era aqui. Enquanto isso a gente continua sem água”.
Água até veio, mas turva
Em outra rua, a Rua Dom João VI, a água até voltou. “Mas veio turva. Soubemos que estão fazendo algumas obras na região e a tubulação antiga está sendo substituída. Acreditamos que pessoas que trabalham nessa obra podem ter deixado passar barro ou algo do tipo, o que causou essa coloração na água. A Sanepar nos disse que estão verificando o que aconteceu, mas a água ainda continua turva”, detalhou o morador Renato Costa.
Segundo ele, que já vive no bairro há nove anos, sua rua também enfrentou problemas com o rodízio. “Tenho feito reclamações há quatro meses. Não questionamos o rodízio, sabemos que não esta chovendo, que temos que continuar economizando, mas as boas práticas nós estamos fazendo: coletando água do chuveiro, água da chuva, guardando água da máquina de lavar. Mas a Sanepar não está tendo consciência no rodízio. Não volta no momento em que tem que voltar. Toda vez a gente tem que ligar para perguntar quando vai voltar. Já chegamos a ficar sem água 58h depois que devia ter retornado”, desabafou.
+ Veja também: Transportadores escolares seguem na batalha para sobreviver mesmo com volta às aulas
Renato contou que já abriu pelo menos seis protocolos. “Ligamos no 0800, dizem que não tem nenhuma anormalidade, e que talvez devido a pressão e o consumo, a água não chegue imediatamente. Mas é inadmissível esperar tanto tempo. Mais uma vez, nós não questionamos o rodízio, mas questionamos a irregularidade e a falta de informação. Não temos resposta, não temos água, mas a conta é precisa, chega no dia certo e não falha”, completou.
O que diz a Sanepar?
Com relação à falta de água no Cajuru, a Sanepar informou que no sistema não há nenhuma ocorrência que justifique a falta. Nesta tarde, a Sanepar estava com quatro equipes fazendo investigação de vazamento oculto (quando a água não aflora).
Segundo a Sanepar, uma das equipes detectou que uma válvula de registro, que abre e fecha a distribuição de água de um dos setores do Cajuru, estava quebrada. “Já foi feita a substituição do dispositivo e o abastecimento já está sendo normalizado. Às 17h, a pressão da rede estava bem próxima do normal”.
Por conta dos problemas na região, a Sanepar decidiu suspender o rodízio programado para começar às 16h desta quinta-feira no Cajuru. A suspensão do rodízio visa dar condições para que essas pessoas possam retomar a rotina no uso da água, que havia sido prejudicada nos últimos dias.
Já sobre a água turva, a Sanepar informou que isso decorre de minerais, como o ferro e o manganês, presentes naturalmente na água e que acabam impregnando na tubulação. “Com o rodízio, em que os registros são abertos e fechados muitas vezes, pode haver o desprendimento dessas substâncias, que alteram a cor em pontos muito específicos da rede. Embora isso não traga nenhum problema à saúde, a Sanepar está trabalhando para evitar esse problema”.