“Um cenário de terror”. Foi assim que a advogada Rosana Santos, 32, resumiu a situação na qual se encontra o centro de Itaperuçu, município localizado a 24km de Curitiba, na manhã deste sábado (01). Atingida por um forte temporal na noite desta sexta-feira (30), a cidade amanheceu em destroços. Rodo em mãos, a moradora recebeu a Tribuna do Paraná em sua casa, localizada na Avenida São Pedro, uma das mais atingidas pela tempestade.
Sem estimativa do valor do prejuízo com o qual terá de arcar, a advogada é apenas uma entre os 1.500 moradores afetados pela tragédia, segundo a secretaria de saúde do município.
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“O tempo fechou de repente. Primeiro veio aquele vento muito forte e depois a chuva. Tudo durou menos de um minuto, mas o estrago está aí”, lamenta Rosana, apontando para as residências vizinhas à sua, situadas na Rua Gerônimo de Albuquerque. “Ninguém dormiu hoje. Todo mundo ficou pela rua com medo de uma nova ventania ou saques. É um pesadelo”, diz.
Sem luz, água, telefone ou sinal de Internet, a população – praticamente ilhada – se mobiliza para varrer os entulhos e limpar as calçadas completamente tomadas pelos destroços. Com faixas de isolamento, cones e carros, moradores e comerciantes isolam as vias que cortam o centro do município. No chão, pilhas de entulho se misturam a folhas, galhos quebrados e fios elétricos soltos. Sobre as casas, moradores improvisam como podem para tentar cobrir as partes destelhadas.
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Com uma extensão de aproximadamente 5km, a faixa urbana afetada pela tempestade vai de uma ponta à outra do município. Entre os bairros mais afetados estão Jardim Itaú, Santa Maria, Ocanha, Butierinho e a região central. Sem números exatos, a prefeitura da cidade ainda contabiliza a dimensão do prejuízo. É o que afirmou o secretário de saúde de Itaperuçu, Claudinei Costa. “Ainda estamos fazendo esse levantamento junto aos moradores e dentro das próximas horas faremos um cadastramento para ter uma ideia exata do número de afetados porém, até lá, não podemos precisar a extensão do dano”, afirmou.
Presente no local das 9h às 13h, a equipe da Tribuna do Paraná acompanhou parte da mobilização dos moradores durante a manhã de sábado e, ao longo de todo o período, nenhuma equipe da prefeitura, Defesa Civil ou Corpo de Bombeiros foi vista em apoio à população que, por conta própria, se organizou para socorrer os atingidos com maior gravidade.
Entre eles está Ivanilza Lins, 52. Moradora da Rua Gerônimo de Albuquerque, a diarista teve a casa quase completamente destelhada pelo temporal. “A água entrou, inundou tudo. As crianças ficaram apavoradas e meu marido foi atingido por uma das telhas na hora da ventania”, lembrou. Sem condições de passar a noite na própria residência, Ivanilza buscou abrigo na casa da filha, Janaína. “Teremos de ficar lá até que a situação se resolva. Não sabemos nem por onde começar”, lamentou. Com móveis, colchões, roupas e eletrodomésticos empilhados pelo quintal, a diarista torce para que uma nova tempestade não aconteça.
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Entre comerciantes, o mesmo medo. Rosangela Pigaiani é proprietária de uma distribuidora de doces localizada na Avenida São Pedro, apenas algumas quadras de distância da residência onde dois adolescentes morreram na noite da última sexta-feira. Com uma equipe improvisada, composta pelos próprios funcionários do estabelecimento, ela recolhia os destroços da calçada com uma pá. “É lamentável termos que fazer tudo sozinhos sem ajuda nenhuma das autoridades. Com a quantidade de impostos que pagamos, o mínimo era ter um respaldo nessa hora de emergência”, afirma.
O que diz o município?
Na noite de sexta-feira, o prefeito de Itaperuçu, Hélio Guimarães (PSD), teria afirmado à imprensa que pretende determinar estado de calamidade pública, o que liberaria a aplicação de recursos externos para reparação dos danos. Até o começo da tarde deste sábado, no entanto, a informação ainda não tinha sido confirmada.
Segundo o secretário de saúde do município, Claudinei Costa, a decretação é urgente e a prefeitura está tomando as medidas burocráticas necessárias à medida. De acordo com ele, equipes do setor de obras e saúde da prefeitura já iniciaram os primeiros trabalhos assistenciais, porém a ajuda do Governo do Estado será fundamental para recuperar Itaperuçu. “O município não vai conseguir se reerguer sozinho”, afirmou.
Sem possibilidade de acolher os desabrigados nas estruturas normalmente utilizadas nessas circunstâncias, a prefeitura conta com ajuda de entidades religiosas que, voluntariamente, abriram as portas aos desalojados. “O ginásio de esportes municipal e diversas escolas também foram destruídas pela tempestade. Por isso estamos contando com a ajuda da Igreja Católica, na Rua Crispim Furquim de Siqueira, cujo cenáculo foi cedido para a população e também da Igreja Assembleia de Deus, que está recebendo algumas pessoas”, disse.
Outro estabelecimento público afetado pelo temporal foi o hospital da cidade que, além de ter sido quase completamente destelhado, também sofreu alagamentos por conta da chuva. Com isso, os pacientes foram transferidos para outras unidades hospitalares localizados em Rio Branco do Sul, Almirante Tamandaré e Curitiba.
Simepar
De acordo com o Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), a hipótese de que a tempestade tenha sido, na verdade, um tornado, não está descartada. No entanto, é arriscado afirmar com certeza. Segundo o meteorologista Samuel Braun, os ventos que atingiram o município chegaram a alcançar a velocidade de 80km/h. A confirmação de que a tragédia tenha sido, de fato, provocada por um tornado, deve acontecer ainda nos próximos dias, após análise aprofundada da situação no município.
Sobre a possibilidade de novos eventos como esse, não há previsão de que se repitam nos próximos dias. Segundo o Simepar, deve chover em alguns locais, mas sem grandes problemas. “Este final de semana está mais tranquilo. Deve chover ainda, mas não há condições para temporal. Ontem tínhamos, mas foi um evento extremo e pontual”, Braun.
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