O capotamento envolvendo uma viatura policial na quarta-feira (9), na Rua Konrad Adenauer, no bairro Tarumã, em Curitiba, provocou uma discussão sobre a funcionalidade dos veículos utilizados pela corporação. Um especialista automotivo alertou em 2016 à Polícia Militar do Paraná (PMPR), sobre um problema na direção do carro Mitsubishi Pajero Dakar utilizado por policiais em todo o estado e não somente na PM (veja abaixo). Em inquéritos técnicos, a corporação decidiu substituir estes veículos em 2018 por modelos Chevrolet TrailBlazer, mas algumas viaturas da Pajero Dakar seguem nas ruas, como a que capotou no Tarumã.
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Para Leandro Jamcoski, 37 anos, consultor técnico automotivo com qualificação em provas esportivas de rally e com inúmeros cursos de direção defensiva, o Pajero Dakar ano 2013 com motor 3.2 turbo diesel, não possui irregularidades para o público em geral, mas quando utilizada por policiais em situações de emergências, o volante trava após a realização de uma manobra mais rápida, ou seja, uma curva mais acentuada pode provocar um capotamento.
Conforme imagens do acidente no Tarumã, percebe-se que a viatura faz a curva em uma rotatória e a traseira escapa. “O veículo apresenta travamento momentâneo do sistema de direção em manobras rápidas do volante tanto em operações de esterço como em operações de contra esterço. Também em manobras de mudanças bruscas de direção para evitar colisões, manobra esta conhecida internacionalmente como “teste do alce”, a viatura tem travamento momentâneo, o que faz a mesma iniciar a manobra, porém com resultado imprevisto de conclusão”, comentou Jamcoski.
A utilização deste modelo recebeu críticas por parte de policiais. Em 2016, das 26 viaturas de Rondas Ostensivas de Natureza Especial (RONE), 18 delas se acidentaram e as alegações foram sempre as mesmas sobre o travamento da direção. Em oito situações, o carro capotou. Após perceber o aumento deste número e por ter um preço considerado acima do desejado, o governo estadual alterou a frota e passou a usar o da Chevrolet Trailblazer.
No entanto, alguns modelos da Dakar ainda são usados, mas não em ocorrências que exijam uma perseguição ou outro tipo de ação que a velocidade possa ser determinante. A viatura que capotou está servindo a Rondas Ostensivas com apoio de motocicletas (ROCAM). “Se a velocidade estiver a 60km/h e perder a trajetória, o veículo irá percorrer 25 metros em 1,5 segundos, tempo de reação média de motoristas comuns. Se um condutor tem experiência como os policiais, a reação ocorre na metade deste tempo e ainda assim teremos 12,5 metros de veículo em condição crítica”, disse Leandro Jamcosk.
Manobra comum
Depois do capotamento e das imagens circularem pela internet, um dos questionamentos foi sobre a necessidade de dirigir em alta velocidade sem estar participando de uma ação de emergência. No caso ocorrido na quarta-feira, foi uma operação comum na região norte de Curitiba.
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Segundo o especialista, esta prática por parte do policial é normal até como uma forma de treinamento mental e física para quando for realmente utilizá-la em um acompanhamento tático. “A sensação que fica para quem acompanha o vídeo ou mesmo quando visualiza um carro policial é que está sempre em alta velocidade, mas não é assim. Toda vez que assume uma viatura alguns exercícios são realizados para ter uma adaptação mental em caso de emergência. São testes de verificação, uma simulação e que acontece em todos os lugares. Um procedimento comum que pode ser prejudicado pelo modelo do veículo”, afirmou o especialista com mais de 15 anos na função. Para ele, a viatura que capotou foi completamente perdida devido ao dano no teto. “Temos vários casos de acidentes com viaturas no Brasil e com condições semelhantes. Desta aqui de Curitiba, eu acredito que houve perda total”, completou o consultor técnico automotivo.
A Tribuna do Paraná procurou a assessoria da Polícia Militar e também da Mitsubishi, mas até o momento não obteve respostas sobre os questionamentos realizados.