Chapéu com 100% pele de lebre e apelido de xerife. Junto com ele, uma mulher de 1,62 m de altura, maquiada, com brincos, e um olhar atento aos mínimos detalhes. O casal Tito Barichello e Tathiana Guzella, delegados da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), está diariamente protegendo mais de 1 milhão de curitibanos e desvendando mistérios de crimes cometidos contra a vida. Um casal que deixou de lado vários momentos em família pra se dedicar a um trabalho incansável de proteger a sociedade e ter aliados diante de organizações criminosas.
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A história de Tito com Tathiana começou a 312 quilômetros de Curitiba. Naturais de Caçador, cidade localizada na região Meio-Oeste de Santa Catarina, a aproximação ocorreu longe de delegacias. Os dois eram empresários do ramo de plásticos e viraram namorados em 2003. Com o desejo de trabalhar com o Direito, Tito Barichello se formou pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e foi ser professor na universidade em que Tatiana cursava Direito, em Caçador. Não chegou a dar aulas para a então namorada, mas foi homenageado pela turma de Tathiana na colação de grau.
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“Começamos a fazer algumas ações juntos e a cidade de Curitiba nos atraia. Terminamos o mestrado e não queríamos perder o ritmo de estudo. O Tito vendeu a parte dele da empresa de plástico e confessou que tinha o sonho de ser delegado. Foi um choque na época e fomos amadurecemos a ideia. Começamos a estudar e surgiu um concurso em 2009 para delegado em Minas Gerais. A ideia era fazer para ter experiência e passamos na primeira fase”, lembra Guzella. No entanto, Tathiana engravidou e não conseguiu seguir no curso, pois o mesmo conta com aulas de tiro e defesa pessoal. Tito foi até o fim da preparação e iniciou carreira na cidade de Betim, na Grande Belo Horizonte.
Foi aí que apareceu um concurso para o Paraná e ambos decidiram fazer. Passaram com louvor entre os primeiros colocados. “Eu amamentava ainda o Marco Antônio e fui nomeada para a comarca de Mallet, no interior do Paraná. Na sequência, acumulei com a 4ª Subdivisão em União da Vitória. Abrangia 8 municípios e trabalha muito. Morava em um hotel fazenda e tive muita ajuda da minha mãe”, recorda Tathiana.
No caso de Tito, uma nova adversidade. A Comissão do Concurso o reprovou na documentação, pois um exame da esposa estava entre os documentos. “São muitos exames e uma folha ficou dentro da minha pasta. Entrei com uma ação judicial que demorou três anos. Nesse período, eu retornei para Betim e virei plantonista da delegacia. Ficamos novamente longe”, disse o delegado.
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Morar junto só ocorreu em 2016, quando Tito finalmente conseguiu trabalhar no Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente (Nucria), Central de Flagrantes e depois em Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba. Já Tathiana assumiu a Delegacia da Mulher e do Adolescente de São José dos Pinhais, também na Grande Curitiba. “Voltamos a morar juntos e sempre trocávamos ideia sobre os homicídios e as diligências. Antes não tinha a Lei do Feminicídio e teve todos aqueles crimes no condomínio Serra do Mar ”, relembra Guzella.
Chegada na temida DHPP
Em 2018, o delegado-geral da Polícia Civil do Paraná (PCPR), Silvio Rockembach, convidou a dupla para trabalhar na DHPP. A delegacia é responsável por investigar crimes contra a vida e os suspeitos não têm vida fácil por lá. São quatro delegados responsáveis por quatro núcleos regionais de Curitiba, o que corresponde à segurança de 500 mil habitantes.
Tito Barichello é o delegado da divisão leste, que abrange os bairros do Água Verde até o Alto Boqueirão, inclusive alguns considerados críticos como o Parolin e Uberaba. Já Tathiana é da área Centro-Norte, ou seja, vai pertinho da divisa com Pinhais, Colombo e Almirante Tamandaré. Apesar de conviverem no mesmo ambiente de trabalho, a rotina da dupla nem sempre é semelhante.
“Trabalhamos por demanda e escalas com plantões. Tem semana que fazemos plantão de 24 horas e mesmo assim prolongamos em diversos casos na investigação. O tempo para quem trabalha na Homicídios é extremamente importante. Fazemos suicídio para ver se tem indícios de homicídio, vamos em hospitais ouvir testemunhas e damos voz de prisão para os suspeitos”, reforçou Tito, destacando que na investigação de um crime cada segundo é crucial para a solução do caso.
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Chapéu de pele de lebre e maquiagem
Nas operações em que a DHPP é chamada, Tito e Tathiana são atrações pela forma atuante na ação. Têm a fama de não darem moleza para criminosos e são atenciosos com a comunidade. “As pessoas tiram foto, mas é preciso separar bem o assunto. Estamos lidando com crimes do maior bem que existe, a vida. É preciso foco, estudo e um olhar diferente. O sangue fala por si”, confidenciou Tito.
Além do trabalho, a dupla não esconde que a aparência é importante mesmo tendo um clima de terror e tristeza ao lado. Tito adotou um chapéu que era do pai (já falecido) para proteger o rosto do sol. “Eu ficava vermelhão e cheguei a adotar um boné, mas não combinou com gravata. Usei o chapéu a pedido da Tathiana, os investigadores gostaram e as testemunhas elogiaram. O chapéu é 100% pele de lebre. Veja aqui, já está velhinho até”, brincou o delegado.
Já a delegada não deixa de lado a maquiagem e os brincos, ou seja, o cuidado com o visual segue mesmo se tratando de trabalhar em locais de extrema violência na cidade. “Eu sempre gostei e não permito que a polícia altere algo que não sou. Eu estou sempre de brinco, é minha característica. Eu não me arrumo para o local, eu procuro estar bem comigo”, sinaliza Tathiana.
Fora da delegacia, o casal costuma ficar mais em casa ao lado do filho de 9 anos. Uma das paixões da família é o Athletico e os parques de Curitiba. “Não temos muita vida social, pois chegamos no fim de semana cansados. Os nossos programas envolvem o nosso filho e somos somente nós três aqui em Curitiba. Adoramos os parques de Curitiba e a família é Athletico”, disse Tathiana. Quanto a presença nos jogos, Tito é sócio do clube e frequenta as partidas em competições importantes.
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Rede Social e futuro político?
Tito e Tathiana não postam diariamente mensagens nas redes sociais, mas, somados, têm 65 mil seguidores no Instagram. Pouquíssimas postagens mostram a intimidade do casal, mas o que se percebe quando ocorre, é que o clima é descontraído. “Eu e delegado xerifão estamos aqui nesse domingo tomando um chimarrão e fazendo musculação. Estamos juntos para enfrentar a bandidagem de Curitiba”, em um dos vídeos publicados.
Com o aumento de seguidores e simpatizantes, é comum o casal ser questionado se a política é um caminho para o futuro. “Não faz parte do nosso projeto de vida e não sou filiado a partido político. Aliás, tenho admiração para quem se predispõe a ser candidato, pois isso envolve um desgaste e críticas. Nosso plano é um crescimento na Policia Civil, melhorar nosso índice na solução de ocorrências que chegou a 80% e, principalmente, manter essa confiança das pessoas”, completou o xerifão em um papo com a Tribuna.