A mercearia mais antiga de Curitiba consegue manter diariamente algo que todo comerciante sonha: fila e mais fila de clientes ávidos em pedir o produto na prateleira e pagar. A Mercearia Viana, localizada na Rua Cândido Lopes, pertinho da Biblioteca Pública do Paraná, segue mantendo a tradição familiar de propagar bom atendimento aliando qualidade e preço justo com 116 anos de fundação.
Para quem costuma passar pela região central, é impossível não perceber uma fila que se forma diante de uma prateleira recheada de pães, broas, bolos e outros tipos de doces como tortas, pudins, cucas, tranças e os famosos chineques.
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A espera de se fazer o tão sonhado pedido aos ligeiros funcionários que parecem ser maratonistas de tanto que percorrem o caminho dos pães, não prejudica a clientela na fila. Aliás, é o momento de se fazer amizades e bater papo.
Teresinha Bueno, moradora do bairro de Santa Felicidade há mais de 20 anos, compra na Viana e inclusive acompanhou a mudança de endereço promovida em 2017, quando depois de muitos anos a loja saiu da Cruz Machado.
“Venho buscar o pão todo dia e tem vez que venho ao Centro só para isso. A Mercearia representa algo importante, eu converso na fila com pessoas desconhecidas que estão aqui apenas levar o pão para a família. Não existe algo tão católico como a divisão do pão, e posso garantir que faz um bem enorme para uma senhora com mais de 70 anos”, disse a vó Teresinha.
Broa úmida tem receita da vó e segredo
Um dos inúmeros segredos para ter essa vasta clientela é a ótima exposição dos produtos, uma verdadeira Disney gastronômica. Os mais de 100 tipos de pães em prateleira é um convite ao prazer. Entre os destaques estão a broa úmida, utilizada na formação vencedora na carne de onça do Bar do Alemão, e o pão caseirão, receita familiar que custa R$ 10,50 e pesa 1,2 kg.
“É o produto da vó Iza, que faleceu há dois anos. O fermento é de batata, que descansa de um dia para o outro e o pão pesa mais de um quilo. Não se usa conservantes”, explicou Thaylline Veronese, 34 anos, uma das responsáveis pela loja e pela fábrica localizada a duas quadras dali.
Essa proximidade com a fabricação própria também passa a ser importante para o funcionamento da Mercearia Viana. Caso falte um tipo de pão, basta ligar para que o carrinho elétrico venha abastecido de guloseimas. O tradicional pão francês fica pronto em 20 minutos e chega quentinho na mão da freguesia. “São produzidos mais de 6 mil pães francês por dia. Teve uma vez que um senhor pediu 10 mil para um domingo, pois ele faria doação. Tivemos que movimentar toda a fábrica para atender o pedido”, lembra a Thaylline.
Clientela fiel
A grande parte dos clientes da Mercearia Viana é de pessoas acima de 50 anos. Um público fiel, criterioso e meio avesso a tecnologia. Essa característica de não estar tão ligado nas redes sociais ou mesmo no sistema delivery, faz com que os modelos de entregas em casa não avance.
Mesmo na pandemia da Covid-19, com as pessoas mais em casa, a Viana não aderiu a entrega de produtos. “Chegamos a pensar no delivery, mas não é o momento. Temos fila diária e se fizer isso, o cliente em casa pode ser prejudicado ou mesmo daqui. Se acaba o produto, um pão demora para fazer e tem o tempo de entrega. Há cinco anos, saímos no modelo do papelzinho que o cliente pegava no balcão e pagava no caixa. Hoje temos a informatização, mas tem dia que trava e retornamos ao modelo antigo”, comentou a proprietária.
Um dos clientes mais fiéis é o Luiz Hamilton, cirurgião-dentista, 65 anos. Na Viana, ele tem alguns privilégios que poucos possuem. Antes de ir retirar os pães e acompanhamentos, ele liga no telefone pessoal dos proprietários para fazer o pedido. “Eu compro em média duas vezes por semana. Conheço a família e tenho a liberdade de ligar e depois pego o pedido. Eu sou bem tradicional e quando sou bem tratado, eu volto. Eles sabem o meu gosto, confesso que não procuro em outros lugares. Eles conhecem minha preferência e facilita um monte” afirmou Luiz que saiu da Viana levando broa de cereal.
História
Em 1906, a leitaria Viana abriu as portas na Praça Tiradentes, esquina com a Cruz Machado, lugar que funcionou a loja da antiga Prosdócimo. Depois mudou-se para o número 41 da Cruz Machado. Em 1950, quando o estabelecimento foi comprado por Ari Jachalski, avô materno de Thaylline, saiu o nome leitaria e passou a se chamar Mercearia Viana, pois além da panificação, produtos de higiene pessoal e mesmo do ramo alimentício é comercializado.
Em 1986, com o falecimento de Ari, Gilmar e Adiair Veronese passaram a comandar o lugar. Só em 2002 foram sair do número 41 e foram para o outro lado da rua, no número 12. E agora, por conta do espaço, estão no novo endereço na Cândido Lopes. “É de família para a família. Mesmo com toda a tecnologia, não podemos perder as raízes. É um sonho, uma tradição que devemos continuar. O pai vem todos os dias e faz um bem enorme para ele”, completou Thaylline.
Serviço
Mercearia Viana
Rua Candido Lopes, 38, Centro – (41) 3222-8992 ou (41) 3223-6198.
Abre de segunda a sexta-feira das 6h15 às 19h45 e sábados das 6h15 às 15h