Absurdo

Menina de 10 anos era abusada pelo pai e pelo bisavô de 81 anos

Uma menina de 10 anos de idade está internada no Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, devido aos ferimentos provocados na região genital dela pelo que os médicos chamaram de “abuso crônico”. Ela é a personagem central de uma história chocante que só veio à tona porque a criança decidiu falar. A um policial militar, a criança entregou um bilhete com a frase “abusou de mim”. A partir daí, a sequência de fatos assusta até os mais calejados pela crueldade humana.

“Eu nunca tinha visto uma coisa assim”, desabafa o conselheiro tutelar Marcio Staes, que atua em Pinhais, na Região Metropolitana. É ele quem acompanha o caso, já que a criança é moradora da cidade.

Staes conta que tudo veio à tona na noite do último sábado (9), graças à denúncia de um policial militar. “Ele entrou em contato para pedir ajuda para essa menina, que ele conhecia da igreja. O PM foi até a casa da família, um ambiente sujo e podre, tanto que nem chuveiro tinha”. Foi lá que o policial recebeu um bilhete das mãos da menina, com apenas três palavras: ‘abusou de mim’.

Chocado, o policial gravou um vídeo no qual a menina detalha todos os abusos sofridos pelo pai, de 43 anos, e pelo bisavô, de 81. E tudo com a conivência da mãe, de 30 anos. Na gravação, a criança revela ainda que a irmã, de apenas oito anos, também já havia sido violentada.

O vídeo foi entregue ao Conselho Tutelar da cidade, que acionou a Guarda Municipal. “Nós fomos até a casa à noite mesmo e levamos todo mundo para a delegacia. Além dos pais, foram junto as duas meninas e mais dois irmãos – um menino de cinco anos e uma menina de um ano e 10 meses”. Por enquanto, não há informação de abuso contra os caçulas.

“Chegando lá, a orientação do delegado era de que, para prender os pais, era necessário comprovar os abusos com laudo médico. Eu saí de lá correndo com a menina até a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Pinhais e, lá, o médico pediu para que eu fosse com ela a um hospital de referência”. A suspeita era de que a pequena paciente estivesse com alguma doença sexualmente transmissível, devido à gravidade dos ferimentos na região íntima da criança.

Pequeno Príncipe

O conselheiro seguiu então para o Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba – referência nacional em atendimento pediátrico. No local, logo que soube do caso, uma pediatra examinou a menina e entrou em contato com o Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes (Nucria), da Polícia Civil. “Na hora mandaram uma guia de exames para o hospital e, por sorte, uma perita do IML (Instituto Médico-Legal de Curitiba) estava no Pequeno Príncipe por causa de outra situação e já constatou a violência sexual”. Staes então deixou o local com a certeza do estupro, mas sem a menina, que precisou ficar internada. O argumento foi o de que ela estava bastante debilitada por causa das lesões – antigas e recentes.

Família inteira foi levada para a delegacia de Pinhais.

Sem flagrante?

De volta à Delegacia de Pinhais, Staes contou sobre a perícia, mas o casal foi liberado. “Os investigadores ligaram para o delegado, mas ele disse que não tinha flagrante e nem provas do crime que, por isso, não poderia prender ninguém. Não tinha mais o que fazer. A Guarda nos apoiou muito, mas foi obrigada a liberar o casal”. As três crianças, no entanto, foram acolhidas pelo Conselho Tutelar e encaminhadas ao abrigo municipal.

O j,eito foi recorrer à Vara da Infância e à Promotoria da Infância. Depois disso, o caso foi informado à Promotoria Criminal, que depois de ouvir o policial como testemunha e analisar as provas, expediu os mandados de prisão contra pai, mãe e bisavô. “Os pais foram presos ontem (13), em casa, e o bisavô, que mora em Araucária, hoje (14). Eu não acreditei quando liberaram o casal. Acho que, apesar de tudo, tivemos sorte porque eles poderiam ter fugido nesse tempo em que ficaram soltos”.

A irmã

A outra menina, de oito anos, passou por exames de Corpo de Delito no IML na última terça (12). Segundo Staes, o laudo vai ser encaminhado diretamente à Justiça. Ela segue com os irmãos no abrigo do município e, por enquanto, não precisou de internamento.

Já a menina de 10 anos segue no Hospital Pequeno Príncipe sem previsão de alta. “Eu nem fui mais informado do estado de saúde dela porque todas as informações são encaminhadas diretamente à Justiça”.

Exploração

Além dos abusos, as crianças também eram exploradas pelos pais. “Eles obrigavam os filhos a pedirem comida em restaurantes, pedir nas ruas. É de partir o coração principalmente porque a menina, essa que está internada, tem um olhar vazio, um aspecto de muito sofrimento”.

Polícia Civil

Por meio da assessoria de imprensa, a Polícia Civil esclarece que “o suspeito não ficou preso no sábado à noite (9), pois a Polícia Civil trabalha conforme a Lei e, naquele momento, não existia flagrante e nenhum procedimento na delegacia com relação ao caso. Não há como prender sem provas ou realizar qualquer encarceramento sem medida judicial”.

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