Vivemos dias de batalhas contra o SARS-Cov-2, popularmente chamado de novo coronavírus, e numa guerra insana contra a falta de empatia. Enquanto os casos de infecção pelo Covid-19 (a doença causada pelo novo coronavírus) aumentam de forma angustiante dia após dia, muitos (mais do que a gente gostaria) tentam desviar o foco do que realmente importa, a vida humana, para um monte de coisas menos importantes.
Não há argumento capaz de dizer que a vida das pessoas é menos importante que qualquer outra coisa. A economia (e até o emprego) se recupera, uma vida perdida não. Na ânsia de expormos nossa opinião, deixamos de dar atenção para as pessoas que mais precisam de nosso apoio. Médicos e enfermeiros que lutam anonimamente e são os verdadeiros soldados dessa guerra.
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O perfil no Facebook da Universidade Federal do Paraná postou na noite de sábado (27) o relato da enfermeira Camila Gonçalves Azeredo, da equipe de enfermagem da UTI-Covid-19, do Hospital de Clínicas de Curitiba. Que o relato toque o coração das pessoas que ainda colocam o quer que seja na frente da vida de pessoas.
“Hoje faz 1 semana. E tomei coragem para escrever um pouco sobre meus sentimentos. Faz uns 2 meses que o medo da COVID-19 começou a tomar conta do meu pensamento e pensamento dos meus colegas. Lembrei daquela história de terror que minha mãe contava. A história do sapato preto que aterrorizava, pois a cada passo da história ele estava mais perto de casa trazendo medo e morte pelo caminho.
Aos poucos, fomos treinando e presenciando mudanças drásticas na organização do hospital. O medo foi crescendo. Duas semanas atrás eu fui ficando até mais tarde no hospital, sem almoço, cansada. Precisava treinar mais e mais. Sete dias atrás o Joaquim foi ainda meio doentinho morar com a vovó para ficar mais seguro. Levou todos os brinquedos que já faziam parte da decoração bagunçada da casa. O Cris ficou cuidando de mim e da casa. Eu fui cedida para a UTI COVID-19, referência para todo o hospital nesse momento. Mais e mais treinamentos.
A paramentação é quente, a máscara machuca, o óculos e o protetor facial embaçam. Não podemos tocar no rosto, não podemos beber água e nem ir ao banheiro depois de paramentados. Não podemos comer, não podemos sair para tomar um fôlego ali fora. Se eu sair do ambiente contaminado preciso jogar avental, luvas, touca e máscara no lixo. Precisamos poupar material, pois tudo isso é muito caro e o medo de faltar é grande. Não posso me dar o luxo de jogar um avental e uma máscara no lixo só porque eu quero fazer um xixizinho. Ganhei fraldas do marido. Não consegui usar nos primeiros dias. A bexiga explodindo e não consegui usar a fralda.
Na saída preciso de ajuda para tirar roupas e sapatos para não contaminar a parte limpa do setor. Banho com produto degermante pelo corpo todo. Aí meu cabelo está parecendo uma vassoura. Chego em casa, tiro toda a roupa do lado de fora com ajuda do Cris. A roupa vai direto para máquina e eu direto para outro banho. Chegou a parte boa. Comida quentinha que o marido fez e um cochilo na sala, às vezes até com direito a colinho do marido. Casa vazia sem o Joaquim. Tudo lembra o Joaquim.
Aprendi muito essa semana sobre meu trabalho e sobre meu corpo. Aprendi muito sobre meu casamento e sobre a fragilidade humana. Quando o telefone toca no setor, uma dor no coração. Alguém da família de algum paciente querendo notícias, pois não podem visitar, não podem vir ao hospital. Só recebem notícias por telefone e nem sempre são boas essas notícias. Deus me livre, por favor, de passar por essa angústia.
Que saudade dos meus colegas de CTSI. Que saudade da Mariely Roseira, minha amiga, minha irmã mais nova que não se importaria em ouvir cada desabafo meu nesse momento. Que saudade da minha família, da broa da bisa, dos almoços de domingo com as tias falando todas ao mesmo tempo.
De conversar na garagem cheia de plantas do meu pai, enquanto o Joaquim apronta ali pertinho da gente e a Andréia conta alguma história engraçada que aconteceu durante a semana. Que saudade de visitar a bisa e a vovó Mara. Do café da tarde com o tio Mô. Que saudades de vocês.
Se cuidem muito. Eu vou precisar muito de vocês depois disso tudo. Amo vocês.”
Camila Gonçalves Azevedo.
Assinamos embaixo do recado da UFPR e engrossamos o coro: “FIQUE EM CASA”. Pela Camila, pela sua família, pelo seu bem.
Como prevenir a contaminação por coronavírus
- Lavar as mãos com frequência/ ou utilizar álcool 70%, principalmente antes de consumir algum alimento;
- Utilizar lenço descartável para higiene nasal;
- Cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir;
- Evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca, higienizar as mãos após tossir ou espirrar;
- Não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas;
- Manter ambientes bem ventilados, evitar contato próximo com pessoas que apresentem sinais ou sintomas da doença;
- Evitar contato próximo com animais selvagens e animais doentes em fazendas ou criações;
- Pessoas com sintomas de infecção respiratória aguda devem praticar etiqueta respiratória (cobrir a boca e nariz ao tossir e espirrar, preferencialmente com lenços descartáveis, e depois lavar as mãos).
Baixe o guia de prevenção para compartilhar!
Imprima esse guia em PDF com informações sobre a prevenção do Coronavírus e outras doenças respiratórias virais: