Portas lacradas!

Lojas fechadas no centro de Curitiba levantam questionamento: Cadê a clientela?

Foto: Gustavo Marques/Tribuna do Paraná.

Aceita um desafio? Ande em qualquer rua do Centro de Curitiba e não encontre uma loja fechada. Eu escrevi um, mas não vai ser difícil achar mais estabelecimentos com a porta abaixada em pequenas ou extensas avenidas. Os motivos para essa realidade, que ocorre em praticamente todas as grandes cidades, preocupam autoridades de vários setores da sociedade. Falta de segurança, altos valores de locação, aumento da população de moradores em situação de rua, custo no deslocamento e fortalecimento de compras nos bairros e internet são fatores que reduziram a procura das pessoas em investir na região central.

Em algumas localidades do Centro como a Cruz Machado, a quantidade de lojas fechadas impressiona. No trecho da esquina com a Praça Tiradentes, seguindo rumo à Ébano Pereira, apenas um estacionamento está aberto. No restante da rua tudo fechado, uma sensação de abandono e de perigo ao caminhar em um trecho em que o comércio um dia foi de sucesso. Confira as imagens na galeria abaixo.

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Uma das últimas lojas que esteve na Cruz Machado foi a tradicional Mercearia Viana, que hoje está em outro local, na Cândido Lopes, pertinho da Biblioteca Pública do Paraná. Segundo a Thaylline Veronese, uma das proprietárias da Viana, a mudança no endereço ocorreu devido ao alto valor de locação e enorme quantidade de pessoas pedindo ajuda.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

“Esses dois fatores fizeram a gente procurar outra opção. Hoje pagamos menos pelo aluguel e a loja é maior. A mudança foi satisfatória, uma pena que a Cruz Machado esteja assim”, lamentou Thaulline. Relembre aqui uma matéria especial com os segredos dos pães que agradam uma clientela fiel há décadas.

Caminhando mais ao Centro, ali na XV de Novembro, ou mesmo em ruas pequenas como a Pedro Ivo, José Loureiro, Saldanha Marinho, Ermelino de Leão, o comércio também encontra dificuldades e não é difícil encontrar lojas fechando.

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“Tá muito difícil, o aluguel é alto, a segurança não existe, e as pessoas estão buscando o bairro para comprar. Não existe mais tanta procura das famílias em vir ao Centro para encontrar um produto. Fora que a pessoa gasta no ônibus ou estacionamento que é caro. Não compensa insistir, estou vendendo por metade do preço os produtos e vou fechar”, disse Alessandro Martins, comerciante de uma loja de roupas.

Centro Vivo

Há 25 anos, a Associação Comercial do Paraná (ACP) concebeu o Projeto “Centro Vivo”. A ideia avançou bem durante bom período, mas a pandemia de covid-19, reforçou a ideia da própria ACP de reativar a campanha.  A partir disso, um comitê foi criado para desenvolver ações em atrair o Centro como espaço de convivência e compra do curitibano com estratégias e parcerias.

“Esses problemas são comuns em outras grandes cidades. Os bairros criaram oportunidades de negócios e o centro foi prejudicado. O estacionamento é caro, tem o trânsito que dificulta, o próprio IPTU e o aluguel são altos. Estamos trabalhando em conjunto com a prefeitura, a Câmara Municipal de Vereadores, Universidades e o Sindicato da Habitação e Condomínios do Paraná para encontrar soluções. É algo corajoso, leva tempo e boa vontade de muitos”, valorizou Antonio Gilberto Deggerone, presidente da ACP. 

Apesar dos problemas, a procura por um imóvel comercial no Centro não caiu. O Sindicato da Habitação e Condomínios do Paraná (Secovi-PR), aponta que a pessoas têm interesse em abrir negócio em ruas tradicionais da cidade. Em junho, o Centro liderou a lista de bairros mais buscados com 27,8%; em maio, continuou liderando com 22,7%, em abril, também permaneceu na mesma posição com 29,4%, ou seja, durante todo esse período permaneceu como o bairro mais procurado para negociações de imóveis comerciais.

Quanto ao valor médio de locação cobrado em junho foi de R$1.875,67, de acordo com o Instituto Paranaense de Pesquisa e Desenvolvimento do Mercado Imobiliário e Condominial (Inpespar), integrante do Sistema Secovi-PR.

Para a prefeitura de Curitiba, essa procura por imóveis comerciais no Centro foi percebida pelo crescimento de aberturas de empresas nos últimos anos. Em 2021, foram 575; 711 em 2022 e 455 de janeiro a julho de 2023 (contra 418 no mesmo período do ano passado).

Além disso, a prefeitura de Curitiba informou que o número de fechamentos é menor do que de aberturas, ou seja, tem mais comércio abrindo do que fechando no Centro. Em 2021, foram 543; 2022 foram 539, e 2023 de janeiro a julho 339 (contra 333 no mesmo período do ano passado,  uma diferença pequena, de seis empresas, representando 1,8%). 

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

E a segurança no Centro?

A segurança do Centro é um tema recorrente para quem convive na região. Comerciantes têm reclamado de problemas com moradores em situação de rua, furtos e assaltos, recentemente a própria presidente da FAS se envolveu em uma polêmica com relação a um pedido para que a Guarda Municipal acompanhasse equipes para “dar medo” na população de rua. Uma ocorrência que chamou a atenção nos últimos meses ocorreu com a retirada na surdina de uma placa de bronze de 1984, em homenagem a Jesus Alvares Terzado, fundador da Confeitaria das Famílias. 

“O Centro está terrível, temos que lavar todo dia a frente da loja, pois isso aqui virou um banheiro público. Quando estamos atendendo, entram os moradores em situação de rua na loja pedindo dinheiro, xingam, se jogam no chão. É o dia inteiro na XV, os assaltos e brigas”, alertou o gerente Ederson Adancheski.

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Roubo de placa de bronze foi flagrado por câmeras de segurança. Foto: Reprodução.

A aí, Polícia?

Questionada sobre as reclamações de comerciantes com relação à violência no Centro de Curitiba, a Polícia Militar do Paraná (PMPR) informou que tem realizado constantemente ações na região para evitar pequenos furtos e utilizando estratégias para deixar o local mais seguro. Mateus Ferreira,  1º Ten. QOPM e comandante da 1ª Companhia do 12º BPM, responsável pelo comando no Centro de Curitiba, a corporação tem trabalhado incansavelmente para dar proteção a todos.

“A PM tem realizado o trabalho voltado a prevenção dos índices criminais e estudo técnico dos dados de furtos e roubos que faz com que a gente direcione nosso policiamento aos locais com maior incidência de violência. As pessoas que ali transitam se sintam mais seguras com a presença da Polícia Militar. Reforço que o apoio da sociedade ao ligar para o 190 e denunciando é muito importante. Fique de olho em pessoas suspeitas, a PM tem efetuado diversas prisões, inclusive de pessoas que estavam foragidas da Justiça”, completou o comandante.

E aí, Guarda Municipal?

Em nota, a Guarda Municipal de Curitiba, informou que faz patrulhamento ostensivo preventivo em praças e órgãos públicos da cidade, enquanto também presta apoio às demais forças de segurança, sempre que necessário.

“Na região central, a Guarda Municipal também monitora câmeras de segurança conectadas à Muralha Digital. A corporação ainda participa de reuniões regulares com a Polícia Militar e demais forças, representantes da Associação Comercial do Paraná e da Administração Regional Matriz, visando desenvolver ações conjuntas na área de segurança. Em situações de emergência, os cidadãos podem solicitar atendimento através do telefone 153, ou do número 190, da Polícia Militar”, comunicou a Guarda.

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