Concorrência

Locadoras em extinção após auge em 2006

A concorrência das TVs a cabo e da pirataria, a mudança de hábito dos consumidores e o avanço tecnológico contribuem para a extinção das videolocadoras. Com a democratização do acesso à banda larga, assistir filmes pelo Youtube ou contratar serviços de vídeo por demanda, como Netflix, é cada vez mais comum. Empresas de TV paga lançaram modelos similares de locação pela internet, como a Now (Net) e a SkyOnline. Segundo o Sindicato das Videolocadoras do Paraná (Sindivídeo), dos 1.176 estabelecimentos existentes em 2006, quando houve a transição do VHS para o DVD, apenas 25% funcionam. Em Curitiba, o número caiu de 700 para 200 lojas.

Hoje, a qualidade da imagem não é o foco de quem recorre a downloads ilegais ou DVDs piratas, que custam praticamente o mesmo que a locação. Outro vilão é o preço dos aparelhos que rodam Blu-ray e televisores com imagem em alta resolução, ainda pouco acessíveis se comparados aos “quase descartáveis” players de DVD.

Jorge Luiz Hein, presidente do Sindivídeo, dá três anos para a grande maioria das videolocadoras físicas desaparecer, a exemplo do que ocorre com as lojas de CD. “A tendência é que fique uma ou outra loja”. Jorge abriu sua locadora em setembro de 1987, no Capão da Imbuia, quando os primeiros videocassetes chegavam às casas, mas fechou em 2011. Para ele, que guarda seu acervo de filmes em casa, uma das culpadas pelo problema são as distribuidoras, que não se preocupam em investir em dispositivos que impeçam a cópia das mídias. “O lucro deles vêm com o cinema”.

Blu-ray

As opiniões são controversas, mas há quem diga que a mídia Blu-ray está impulsionando o mercado de vídeo doméstico por causa da qualidade. Dos mais de 7 mil títulos do acervo da Blue View, no Santa Quitéria, boa parte é formada por essa mídia. A Blue View funciona há 25 anos e foi adquirida por Paulo Henrique Alberge em 2009. “A época de ouro das locadoras era o VHS. Era bem difícil de copiar e não tinha a facilidade da internet, a TV a cabo não era muito acessível. Hoje, o público que frequenta a locadora é aquele pessoal mais tradicional, que mora no bairro. E quem vem em busca de qualidade na imagem. Por isso investi em Blu-ray e jogos para Play Station 3. Apesar de os aparelhos para essa mídia ainda serem mais caros que os de DVD, a qualidade é muito grande”, opina.

Serviço pra manter no ramo

Felipe Rosa
João: café sazonal.

Sem contar com as grandes redes que se consolidaram na cidade há anos, como a Vídeo 1, a primeira do Brasil; da Cartoon, com três lojas; e da Blockbuster, adquirida pelas Lojas Americanas; os donos de locadoras de bairro agregam serviços para se manter no ramo.

Para não ter que fechar as portas, o empresário João Wagner Carvalho dos Santos abriu um café que divide o ambiente com as prateleiras de vídeos. A videolocadora funciona há mais 10 anos na Avenida Três Marias, no Orleans, e há cinco foi comprada por João. “O que realmente acabou com o ramo de vídeo não foi a pirataria, mas a TV a cabo”, comenta. Ao perceber que o negócio estava se esgotando, fez curso de barista e a mulher virou confeiteira. O resultado é o “Café com Sorvete”. “É um café sazonal. Servimos café no inverno e sorvete no verão. E temos a bebida sorvete com café”, explica. João conta que, quando está chovendo, seus clientes vêm em busca de vídeo. Quando está calor, tomam sorvete. Há também quem chegue com fome e saia com um DVD.

Futuro depende da internet

O dono da Blue View, Paulo Henrique Alberge, acredita que o futuro das videolocadoras, depende da velocidade da internet. “Se chegar uma internet de boa qualidade, de primeiro mundo, acredito que nem a tevê a cabo vai existir mais”, comenta. Apesar do cenário catastrófico, o empresário vislumbra algumas saídas. “Eu acredito que a janela entre o cinema e a videolocadora deveria diminuir em relação às videolocadoras. Hoje atualmente é de três meses. Muita gente vê que saiu do cinema e vem na locadora, mas não encontra filme. Então, vão para a pirataria”.

O proprietário da tradicional Vídeo 1, Luiz Fernando Ribas Filho, concorda: “esse espaço tem diminuído bastante em relação aos lançamentos para o sistema “premiere’ das TVs a cabo. Às vezes o filme passa quase simultaneamente no cinema. Antigamente isso não acontecia. Essa é uma grande desvantagem”.

Para contra-atacar, Paulo aposta na redução dos preços dos aparelhos Blu-ray. “O DVD é prático, rápido e barato e os aparelhos são vendidos a preço de banana. Mídia virgem tem em qualquer parte e qualquer computador tem gravador de DVD. Se houvesse a substituição por Blu-ray esse cenário mudaria, porque a mídia é até sete vezes mais cara que DVD. Uma mídia de Blu-ray virgem é o valor de um CD pirata no resultado final, enquanto na distribuidora o Blu-ray é 20% mais barato”.

Descontos atraem clientes fiéis

Felipe Rosa
Tatiane e Santiago alugam oito filmes por semana.

Mas ainda há quem alimente o hábito de locar uma dezena de filmes por semana. O músico Santiago Piemonte, e a esposa, a atriz Tatiane Iovanovitchi, frequentam a Blue View desde dezembro e são clientes fiéis, com 175 locações. Santiago diz que é atraído pelos descontos no aluguel e afirma que não se rendeu aos downloads ilegais. “Meu irmão gosta de baixar vídeos pela internet. Sou mais tradicional, alugo até oito filmes por semana”, explica.

Pioneiro garante tradição

Algumas locadoras resistem às dificuldades do mercado, caso da Vídeo 1, a primeira que chegou a funcionar 24 horas. O proprietário, Luiz Fernando Ribas Filho, conta que o pai foi um dos pioneiros do vídeo no País e fundou a empresa em 1980. Quando nem havia videocassetes no mercado, funcionava com o nome de Tape Club do Paraná. Associados cediam vídeos originais e pagavam mensalidade para compartilhar as fitas. “Como não tinha videocassete para vender, traziam de fora, quase como contrabando”, lembra Luiz Fernando.

Em 2011, a Vídeo 1 fechou a loja na Praça da Espanha, que deu lugar a um restaurante. Chegou a ter cinco lojas em Curitiba, mas agora só a da Rua Padre Anchieta funciona. “Estamos num momento de respiro. O mercado já está quase condenado. Em poucos países do mundo ainda existem lojas físicas”, reconhece o proprietário.

Especializado

Além da tradição, para ele o diferencial que ainda sustenta a Vídeo 1 é o atendimento especializado, as promoções e bônus e, principalmente, o acervo completo e considerado histórico, com mais de 20 mil títulos – desde os filmes independentes (“Cult”), de arte, e do mundo inteiro, além de coleções de diretores. Muitos deles são difíceis de se encontrar por aí. “Filmes raros, mudos, europeus e independentes americanos que não estão disponíveis nem nos cinemas, os “pirateiros’ têm dificuldade de encontrar”.

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