Coronavírus

Líder de uma das mais violentas rebeliões em Piraquara e fundador do PCC, ‘Geleião’ morre por covid-19

Rebelião na Penitenciária Central do Estado em Piraquara, em 2001. Foto: Foto digital/Rodolfo BŸhrer.

O presidiário José Márcio Felício, 60, o Geleião, um dos principais fundadores da facção criminosa PCC e também responsável por uma das mais violentas rebeliões da Penitenciária Central do Estado (PCE), ocorrida em 2001 em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, morreu na manhã desta segunda-feira (10) no Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário, na capital paulista, após complicações da covid-19.

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Geleião era o último dos fundadores do grupo ainda vivo e, desde 2002, havia se tornado inimigo facção liderada atualmente, segundo a polícia, por Marco Camacho, o Marcola.

Hipertenso, ele estava no sistema prisional havia mais de 40 anos. Ele foi internado no centro da capital em 9 de abril após ter o pulmão comprometido em 50% e inspirava cuidados. O quadro dele se agravou, foi intubado, mas acabou morrendo às 6h30.

Agente morto e cabeças cortadas na PCE

No dia 6 de junho de 2001 tinha início uma das maiores rebeliões da Penitenciária Central do Estado (PCE), em Piraquara. Sob o comando de Geleião, cerca de 300 presos comandaram as ações que resultaram em quatro mortes – a do agente penitenciário Luciano Aparecido Amâncio, que tinha 30 anos e de mais três detentos – além de seis dias de tormento para os outros 25 agentes da unidade prisional que acabaram reféns.

Durante os dias da negociação, na qual pediam a transferência de presos para outros estados, os agentes foram tratados sem violência no início e depois, passaram a ser torturados e ameaçados. Após as autoridades descobrirem que um agente havia sido morto, as conversas não evoluíram e para “consertar” esta morte, os líderes da facção ordenaram que três presos fossem executados. Dois tiveram as cabeças cortadas. A decisão piorou a tensão dentro da penitenciária e dificultou ainda mais as negociações.

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A rebelião terminou após seis dias, com os 25 agentes liberados em diferentes momentos e com 23 detentos transferidos para outros estados. E a história que marcou a vida dos profissionais da PCE virou livro, “Penitenciária: Estágio para o inferno” foi publicado em 2012 pelo agente penitenciário e sobrevivente José Vicente Bittencourt.

Caçado pelo PCC

A transferência de Geleião ocorreu sob forte esquema de segurança policial, por equipes do Baep (ações especiais), porque o criminoso é jurado de morte pela cúpula da facção, desde ter sido expulso da quadrilha, em 2002, e desde então vem sendo caçado pelos rivais.

O PCC chegou a contratar rivais para matá-lo, quando ele esteve no presídio federal de Campo Grande (MS). Uma das tentativas, interceptadas pelos serviços de inteligência do governo paulista, aconteceria quando Felício estava na enfermaria do presídio.

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Antes dessa transferência, Geleião cumpria pena no presídio de Iaras, inteiror de São Paulo (285 km da capital), destinado a abrigar a pessoas ameaçadas de morte no sistema prisional, como condenados por crimes sexuais, pedófilos e estupradores.

De acordo com integrantes do Ministério Público e da Polícia Civil, a expulsão de Felício coincidiu com a assunção ao poder de Marco Camacho, o Marcola, atualmente na Penitenciária Federal de Brasília.

Depois de ser expulso do PCC, Geleião fundou outra facção criminosa, o TCC (Terceiro Comando da Capital), junto com César Augusto Roriz Silva, o Cesinha, outro ex-fundador do PCC e morto por companheiros de prisão em 2006.

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De acordo com o procurador Márcio Sérgio Christino, autor do livro “Laços de Sangue – A História Secreta do PCC”, Geleião foi um dos principais chefes do PCC e, depois de expulso, contribuiu para a condenação de Marcola ao revelar os bastidores da facção.

“Ele foi o idealizador e principal criador do PCC, sigla que ele inventou. Carismático, inteligente, fisicamente intimidante (quase 1,90), foi preso logo após completar a maioridade e permanece preso em razão de crimes cometidos dentro do sistema prisional. Fez a primeira delação premiada de que se tem notícia, quando uma legislação precária mal tinha sido criada”, disse.

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