Com a liberação da BR-376 prevista para os próximos dias, no trecho do km 669, onde ocorreu um grande deslizamento de terra que soterrou carros, caminhões e matou duas pessoas, uma grande dúvida surge aos motoristas que vão utilizar a rodovia: ela está segura?

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Para responder a pergunta, a reportagem da Tribuna do Paraná entrou em contato com a Federação Brasileira dos Geólogos (Febrageo). A entidade acredita que a segurança na região depende das obras de contenção que serão realizadas e do monitoramento geológico adequado nas áreas de risco.

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A Fegrageo entende que é possível ter um tráfego seguro assim que a rodovia for reaberta, desde que haja acompanhamento técnico das encostas. “No geral, tem que fazer obras de contenção e realmente revisar o mapeamento. Estão afirmando que é baixo risco no local. Quem fez tem que mudar e rever, diz o presidente da entidade Fábio Augusto Reis, geólogo e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

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Reis afirma que há várias possibilidades de monitorar o entorno da rodovia. “Instrumentos online, instrumentos de análise visual no local. Tecnicamente, há várias coisas que podem ser feitas”, explica o professor.

O acidente poderia ter sido evitado?

A rodovia segue totalmente interditada há 10 dias. No local, obras de limpeza reforma da pista e contenção da inclinação da parte que sobrou do deslizamento são feitas por equipes. Desde o dia 28 de novembro, dia do acidente, a concessionária Arteris Litoral Sul, que administra o trecho, vem sendo questionada sobre a falta de medidas preventivas. O acidente poderia ter sido evitado?

Na semana em que aconteceu o deslizamento na rodovia, o Simepar registrou precipitação acumulada de 185 mm em um único dia na região. Na estação meteorológica Vossoroca, em Tijucas do Sul, a mais próxima do km 669 da BR-376, onde ocorreu o deslizamento de terra, foram 326 mm (milímetros) acumulados, enquanto que a média para o mês passado todo é de 126 mm.

Só na segunda-feira (28) choveu 185,4 mm. Foi o maior acumulado em um único dia de novembro entre as medições de todas as estações que registram o índice pluviométrico no Estado. O grande volume de água fez o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitir alerta de deslizamentos de encostas já no domingo (27), dia que antecedeu o acidente.

A concessionária informou que o risco de deslizamento naquela área do km 669 era baixo, conforme laudo realizado pelo corpo técnico da empresa em julho deste ano. Mas, para o presidente da Febrageo, a situação parece diferente na prática.

“Estranho a área ter um escorregamento daquele porte e ser de risco muito baixo. Essa serra é bem conhecida dos profissionais e geólogos, com histórico de eventos como esse. O que se questiona é como esse mapeamento de área foi feito. A empresa tem que divulgar. Também a tomada de decisão da estão de risco, em manter a rodovia aberta, no dia, mesmo com a quantidade grande de chuva no período de 72 horas. Ali é uma série de erros”, aponta Reis.

Ainda é cedo para um diagnóstico, conclui CREA-PR

Depois do grave acidente, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (CREA-PR) se manifestou sobre o caso. O geólogo Abdel Hach, membro do CREA-PR disse que ainda é cedo para fechar um diagnóstico da tragédia ocorrida. Assim como a Febrageo, ele defende a atuação de profissionais habitados com experiência e expertise na equipe de trabalho da concessionária.

“Agora, é preciso entender adequadamente o momento que vivemos para enfrentar os riscos e as consequências da atual situação, ajustando decisões políticas, públicas e de conduta profissional, se necessário, para que a segurança dos paranaenses se mantenha constante”, destacou Hach.

O geólogo disse que o CREA-PR cobrou informações da Arteris para saber se tinha e geólogos na equipe técnica da empresa. “O objetivo não é identificar causas ou culpados pelo recente episódio, mas dar luz ao compromisso social de segurança, responsabilidade e expertise técnica presente na atuação de profissionais habilitados dentro das profissões relacionadas às Engenharias, Agronomias e Geociências”, definiu.

Perguntas ainda sem respostas

A Tribuna procurou a concessionária Arteris Litoral Sul, que administra a BR-376, para saber quais serão os passos da liberação da rodobia, no trecho do km 669. Perguntamos se há algum geólogo na equipe da concessionária que trabalha na segurança da rodovia, também se houve outra avaliação mais recente das encostas, desde o laudo de julho, considerando as chuvas de novembro.

Outro questionamento foi sobre a segurança do tráfego. Perguntamos se, quando o trecho for liberado, há algum tipo de planejamento para monitorar a área e os outros 26 pontos de risco apontados por geólogos da UFPR.

Foi perguntado por que a concessionária não isolou completamente a área ao verificar a quantidade de chuva no trecho, considerando o alerta de deslizamento de terra emitido pelo Simepar no dia do acidente.

E, também, se estão sendo feitos testes de estrutura do local de asfalto no trecho, considerando o peso da quantidade de terra que deslizou por sobre a pista.

Arteris Litoral Sul responde à Tribuna

Em nota, a Arteris Litoral Sul reforçou que o km 669 da BR-376 “é acompanhado periodicamente pelo seu programa de monitoramento de encostas. Nos últimos dois anos, a concessionária atuou em 29 obras e serviços de manutenção de encostas, demonstrando a seriedade com que trata a segurança das pessoas que trafegam diariamente por suas rodovias”.

Sobre o trecho de barranco (talude) que deslizou, a concessionária informou que, houve vistoria, realizada “por uma certificadora independente e, por meio de laudo técnico, recebeu a classificação mais baixa de risco. O documento foi disponibilizado pela concessionária aos órgãos competentes logo após a sua emissão”.

Ainda em nota, a Arteris destacou que “qualquer afirmação sobre as causas do deslizamento é prematura, pois não conta com o embasamento técnico necessário”.