A família do pequeno Leonardo Felipe da Silva, 2 anos e 7 meses, busca por justiça. A criança teve uma parada cardíaca e morreu horas depois de uma cirurgia de amígdala e adenoide no Instituto Paranaense de Otorrinolaringologia (IPO), em Curitiba. O laudo divulgado pelo Instituto Médico-Legal (IML) na última quarta-feira (8), ao qual a Tribuna teve acesso, revoltou ainda mais os pais da criança, pois afirma que o estômago do menino foi perfurado.
Leonardo fez a cirurgia no dia 24 de novembro de 2016. Conforme o pai, o menino vinha dormindo mal e, por morarem em Paranaguá, no litoral do Paraná, a família foi orientada a procurar o IPO, em Curitiba, pelas referências do hospital. “O médico que nos atendeu falou que precisávamos operar rápido o meu filho e marcou a cirurgia para dez dias depois”, conta Rogério Nilton da Silva.
Segundo o pai, todos os procedimentos pedidos pelo médico foram feitos. “No dia, ele não queria de forma alguma ser operado. Chorava, estava triste, parecia que estava percebendo que algo ruim iria acontecer com ele. Mas como era importante e estava tudo marcado, nós demos sequência e ele foi operado”.
A operação foi feita pela manhã. Ao sair da sala de cirurgia, Rogério disse que a mãe do menino, que é enfermeira, percebeu que a criança estava mole e um pouco diferente. “Mas disseram a ela que era normal, que estava tudo bem e que eles podiam voltar para a casa”, relata o pai. Mãe e filho saíram do hospital por volta das 13h e foram para a casa dos avós maternos da criança.
Piora no quadro
Mais tarde, a mãe começou a se assustar porque o filho não melhorava e não conseguia nem comer. “Ela procurou o hospital e eles disseram que era normal. Que deveria esperar, que ele melhoraria. Quando eu cheguei em Curitiba, ele já estava muito pior e falava que doía muito a barriga. Dava pra ver que o Leonardo não estava normal”.
Como tinha que voltar para Paranaguá, Rogério foi embora, mas quando chegou em casa, recebeu uma ligação. “Por volta das 21h, me disseram que meu filho tinha sofrido uma parada cardíaca e eu voltei”. Uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionada pela família, mas o menino não resistiu.
Desviando atenções
Segundo Rogério, logo que a equipe do Samu constatou o óbito, foi feito o contato novamente com o IPO e a família recebeu a orientação de que levassem o corpo do menino ao hospital. “Quando chegamos lá, o médico disse que poderia dar o atestado de óbito lá mesmo, que se levássemos o corpo ao IML o nosso filho iria ser aberto. Eu fui incisivo e disse que queria saber o que tinha acontecido com meu filho e que, por isso, ele iria sim para o IML”.
Enquanto estavam no Instituto Médico-Legal, pai e mãe receberam a orientação de procurar a Polícia Civil. “Nós percebemos que alguém estava tentando nos enganar. Fomos atrás da polícia, registramos o boletim de ocorrência na Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e as investigações começaram naquele momento”.
Investigações
O laudo afirma que a morte de Leonardo Felipe da Silva foi provocada por perfurações do estômago com peritonite aguda, uma espécie de infecção intra-abdominal generalizada. Ainda conforme o IML, um instrumento pérfuro-contundente teria causado a perfuração no garoto.
Desde o dia em que a denúncia foi feita, conforme apurou a Tribuna, o delegado responsável ouviu testemunhas, instaurou inquérito policial, mas as investigações ainda não estão finalizadas. De acordo com a Polícia Civil, o inquérito foi encaminhado para a Promotoria da Saúde, que possui um corpo médico especializado e também deve ajudar a avaliar a situação.
A decisão tomada pelo delegado faz com que, caso seja necessário, a promotoria também solicite encaminhamentos e diligências nas investigações. Conforme a Polícia Civil, as investigações estão avançadas, mas a Decrisa aguarda os trâmites judiciais, para que o inquérito seja devolvido e depois concluído.
Sindicância
Após tomar conhecimento pela imprensa do óbito de Leonardo, o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) abriu uma sindicância para apurar a conduta médica. “A sindicância tramita em segredo, conforme previsto no Código de Processo Ético-Profissional, e está em andamento. Havendo indícios de infrações éticas, é instaurado o respectivo processo. O CRM-PR informa que os documentos sobre o caso que forem apresentados pelas partes envolvidas ao Conselho serão anexados à sindicância e analisados por esta Casa”, explicou, em nota enviada à Tribuna.
Em nota oficial encaminhada ao jornal, o hospital IPO informou que o laudo do IML não aponta qualquer irregularidade no procedimento cirúrgico e, diante desta constatação, está tomando as medidas cabíveis para esclarecer o fato.
“Meu filho ninguém vai trazer. Pode até parecer clichê dizer, mas o que nós queremos é que a justiça seja feita. Não vamos desistir. Quem fez isso, tem que pagar”, fala Rogério. A família também pretende acionar a Justiça.