tribunal do júri

Júri de Carli Filho segue em Curitiba e juiz diz que ele ajudou a expor o caso

Julgamento do ex-deputado está marcado para 27 e 28 de fevereiro. Foto: Marcelo Elias
Julgamento do ex-deputado está marcado para 27 e 28 de fevereiro. Foto: Marcelo Elias

O juiz Daniel Surdi de Avelar defendeu oficialmente que o ex-deputado Luiz Fernando Ribas Carli Filho seja julgado em Curitiba. O júri popular está marcado para os dias 27 e 28 de fevereiro, na 2ª Vara do Tribunal do Júri da capital, mas a defesa de Carli Filho ajuizou um recurso, tentando transferir o julgamento para outra comarca do estado. A liminar foi indeferida, mas a Justiça ainda vai analisar o mérito do pedido. O ex-deputado é réu por duplo homicídio doloso (com intenção) por ter provocado a morte de dois jovens em um acidente de trânsito ocorrido em 2009. Carli dirigia em alta velocidade e havia consumido álcool antes de assumir a direção.

Juiz titular da 2ª Vara do Tribunal do Júri, Surdi de Avelar é quem deve conduzir o julgamento de Carli Filho, caso o procedimento seja mantido em Curitiba. Instado a se manifestar dentro do processo, o magistrado argumentou que “inexistem quaisquer das hipóteses previstas” no Código do Processo Penal (CPP) para justificar o desaforamento [transferência] do júri.

A defesa de Carli havia justificado o pedido para retirar o júri da capital, alegando haver “uma comoção existente na sociedade curitibana” e “a existência de campanha publicitária/política em desfavor do acusado”. O juiz, por sua vez, destacou que Carli Filho, como deputado estadual, era figura pública e que “a ampla cobertura dada pela mídia foi uma mera consequência de sua função e publicidade, feita em caráter jornalístico e informativo”.

Surdi de Avelar observou ainda que o próprio réu contribuiu para a “exposição midiática do caso”. O juiz mencionou um vídeo que Carli Filho divulgou em 2016, em que fala sobre o caso, e uma entrevista concedida pela mãe do acusado ao programa Fantástico, da Rede Globo.

“Assim, tratando-se de uma pessoa pública e que pessoalmente se manifestou sobre o caso na mídia, tem-se que as manifestações populares daí decorrentes também se mostraram plausíveis e dentro do padrão da normalidade”, assinalou o magistrado.

Estrutura

O juiz também menciona que já se passaram 8 anos e 8 meses do desastre que terminou com a morte de dois jovens – “sendo natural que o alegado clamor popular, daquela ocasião, tenha naturalmente perdido sua força com o longo decurso do tempo”.

Além disso, Surdi de Avelar destaca que Curitiba é a capital do estado e que tem a melhor estrutura para garantir a segurança e a isenção do julgamento. Ele cita, por exemplo, que os jurados são escolhidos por sorteio a partir de uma lista em que constam 1,5 mil nomes, enquanto a transferência para uma cidade menor implicaria em “um número de jurados para sorteio consideravelmente menor” – o que poderia implicar em “dúvidas, parcialidades e até mesmo manipulações indevidas”.

Entenda o caso

A colisão que matou Gilmar Rafael Yared e Carlos Murilo de Almeida ocorreu na madrugada de 7 de maio de 2009. Carli Filho ficou ferido no desastre e chegou a ser hospitalizado. Um exame feito a partir de material colhido no hospital em que ele foi atendido apontou que o então deputado estava embriagado – tinha 7,8 decigramas de álcool por litro de sangue: quatro vezes mais que o permitido. O resultado, no entanto, foi desconsiderado como prova pela Justiça porque Carli Filho estava desacordado no instante em que o exame foi feito.

Além disso, laudos do Instituto de Criminalística comprovaram que, no instante da colisão, o Passat dirigido por Carli Filho estava a uma velocidade entre 161 km/h e 173 km/h. O ex-deputado também estava com a carteira de habilitação vencida e sequer poderia estar dirigindo.

A defesa do réu tem apostado na tese de que a culpa pela colisão é dos jovens mortos. Segundo os advogados de Carli, o Honda Fit não respeitou a preferencial – que era a via por onde o carro do ex-deputado trafegava. No instante da colisão, o semáforo estava desligado.

Em fevereiro de 2014, a 1.ª Câmara Criminal do TJ-PR entendeu que havia indícios de que Carli Filho assumiu o risco de matar ao dirigir em alta velocidade e depois de ingerir bebida alcoólica.

Em maio de 2016, em mais um capítulo polêmico dessa história, Carli Filho divulgou um vídeo pedindo perdão às mães dos jovens mortos. Em resposta, Chistiane Yared reagiu imediatamente, dizendo que o ex-deputado estava “sete anos atrasado para o enterro” do filho dela e que não percebeu sinceridade no pedido de perdão.

 

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