Três anos de investigações da Polícia Federal (PF) revelaram um esquema bilionário ilegal gerenciado por 11 jovens de classe média, a maioria de Balneário Camboriú (SC), que logo conquistaram o coração financeiro do país, a Faria Lima, mantendo uma vida de alto padrão e muito luxo. Seis dos investigados estariam no esquema desde que foi criado, em 2020. O megaesquema tinha até um escritório em Curitiba.
A Operação Ouroanós deflagrada pela PF no último dia 29 revelou um esquema que logo evoluiu da lavagem para o tráfico de drogas a negócios ampliados, rapidamente multiplicados graças a crimes contra o sistema financeiro nacional com operação sem autorização, oferta irregular de valores mobiliários, exercício ilegal de assessoria de investimentos, fraudes fiscais e empresariais, num esquema coordenado por homens e mulheres agora sob a mira da justiça.
O negócio se mostrou promissor a partir da lavagem de dinheiro para traficantes paranaenses, migrou para o mercado financeiro e pode ter deixado vítimas pelo país.
O megaesquema, segundo a PF, logo deixou a cidade catarinense de Balneário Camboriú, onde está o metro quadrado mais caro do Brasil e houve sequestro de imóveis de luxo. A expansão foi para Curitiba, no Paraná, onde o grupo montou uma central de operações e, em seguida, desembarcou em São Paulo (SP), no centro financeiro do Brasil: a Avenida Brigadeiro Faria Lima.
A organização criminosa envolvia, de forma direta e gerencial, os jovens investigados. O que a PF quer saber agora é se ao menos outras 100 pessoas que trabalhavam e eram operadoras nas diversas empresas abertas pelo grupo têm envolvimento com o esquema que funcionava como pirâmide financeira. Ao todo, as empresas somavam cerca de 7 mil clientes registrados. A polícia procura pessoas lesadas pelas operações financeiras.
Entre os endereços visitados pela PF durante a deflagração da operação esteve o de uma empresa que opera com fundos regulados de criptomoedas na Faria Lima. A gestora nega qualquer envolvimento com o caso, disse que não foi alvo direto da operação, não houve apreensão ou alvos de prisão na sede e que não faz parte do grupo econômico investigado. A gestora disse ainda que atua em campos distintos e tem interesse no esclarecimento do caso, colaborando no que for necessário às investigações, que ainda podem ir longe.
Aeronave, imóveis de luxo, iates, milhões em contas e fundos
Naquela etapa da operação, foram cumpridos 28 mandados de busca e apreensão, 11 medidas cautelares contra 12 pessoas físicas – duas com o uso de tornozeleiras eletrônicas – e envolveu mais de 50 empresas, a maioria criada pela quadrilha investigada. Os cumprimentos ocorreram em São Paulo, Balneário Camboriú, Palhoça (SC), Curitiba e Porto Alegre (RS). As apurações revelaram que, como os negócios caminhavam bem, os investigados abriam mais de duas dezenas de empresas por ano durante o período de atuação.
A operação também resultou em quase R$ 500 milhões em bloqueios judiciais e 473 imóveis confiscados, junto com 10 embarcações, sendo dois iates de luxo (que somam mais de R$ 50 milhões), um jato e ao menos 40 veículos de luxo. Havia mais mais de 100 contas bancárias e fundos de investimentos milionários.
A organização é suspeita de movimentar cerca de R$ 1,3 bilhão em meio à lavagem de dinheiro para o tráfico de drogas até chegar às operações financeiras com distribuição de títulos e valores imobiliários, conhecido pela sigla de DTVM. Eram cerca de 7 mil investimentos em pelo menos 17 estados e fora do país, com ofertas públicas de contratos coletivos. Ainda segundo a PF, os contratos aplicariam uma suposta “arbitragem com criptomoedas” em remunerações fixas e variáveis que operavam sem controle e autorização dos órgãos necessários. A arbitragem é uma espécie de aquisição de um ativo digital em uma corretora, mas que é vendido muito rapidamente a outra que tem o preço mais alto.
Com a captação bilionária, os recursos transitavam em diversas contas de passagem em diferentes empresas numa espécie de blindagem patrimonial, “buscando esvaziar o patrimônio da instituição financeira clandestina”, considerou a PF.
A Polícia Federal identificou ainda que os suspeitos faziam uma espécie de centrifugação de valores. “Sistema esse em que são utilizados vários níveis em contas de passagem com fracionamento de transferências bancárias”.