Mesmo com o alvará de funcionamento vencido há mais de um ano, a Rua da Cidadania Matriz, localizada da Praça Rui Barbosa, no Centro de Curitiba, continuava funcionando. Na madrugada desta quarta-feira (31), um incêndio atingiu o local e 18 dos 250 boxes do Mercado Público foram destruídos. A Prefeitura ainda apura o que causou as chamas e os comerciantes estão revoltados.
O incêndio começou pouco depois da meia-noite, em um dos boxes, mas em minutos o fogo tinha tomado conta de uma fila inteira das pequenas lojas dos comerciantes credenciados. “Nós acreditamos que foi um curto-circuito. E não foi por falta de avisar. Várias vezes já passamos os problemas que enfrentamos por aqui, mas nada foi feito”, desabafou a comerciante Cristina de França.
Moradores vizinhos contaram que os bombeiros chegaram rapidamente, mas de longe era possível ver o nível das chamas. Depois de aproximadamente meia hora de trabalho no local, o fogo tinha sido contido e os estragos já eram avaliados.
Pela manhã, todos os comerciantes instalados no Mercado Público suspeitavam que o curto-circuito tivesse provocado o incêndio. Apesar das suspeitas, a prefeitura não confirmou a causa. Isso deve ser investigado pela Polícia Civil. Já sobre a avaliação nas estruturas elétricas, uma empresa especializada deve ser contratada.
Alvará vencido
De acordo com o Corpo de Bombeiros, o último certificado de vistoria venceu no dia 18 de janeiro de 2016. Depois do incêndio, o prefeito Rafael Greca (PMN) determinou o fechamento da unidade até que se normalize a situação e a Urbs, órgão municipal responsável pelo equipamento público, confirmou a irregularidade e disse que vai tomar providências para destravar a liberação do documento.
A Urbs alega que o processo emperrou porque o Corpo de Bombeiros exige um projeto atualizado, o que não havia sido feito até então. Com o incêndio, a atualização entrou na lista de prioridade do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc). O projeto vai detalhar novos itens da unidade, como o Armazém da Família.
A Urbs afirmou, entretanto, que o sistema de incêndio da Rua da Cidadania Matriz era testado mensalmente e que a última avaliação foi feita na quinta-feira passada (24). Segundo o órgão, na ocasião, todos os equipamentos de segurança contra incêndio estavam funcionando normalmente.
Comerciantes revoltados
Há quase um ano, a Tribuna do Paraná esteve no Centro Comercial Rui Barbosa, que fica dentro da Rua da Cidadania, e detalhou os problemas denunciados pelos permissionários. Na época, todos reclamavam da aparência suja, do desconforto térmico e dos problemas estruturais. Nesta quarta-feira, depois do incêndio, os permissionários disseram que nada mudou desde quando a reportagem esteve no local.
Segundo quem trabalha no Centro Comercial, as coisas só pioraram. “Pra gente, só vem promessa. Enquanto isso, as falhas nas instalações elétricas só aumentam. Mandaram técnicos da Urbs para manutenção, mas nada que surtisse efeito”, contou Cristina.
Rosangela Rabelo Soares, que faz bijuterias e perdeu toda a sua produção no incêndio, estava desesperada. “Parece que a ficha ainda não caiu. É o meu ganha-pão, vendo aqui para comprar comida em casa e sobreviver. Não sei nem o que dizer”. A mulher, que trabalha há 16 anos no local, disse que é necessário que algo seja feito urgente. “E o que aconteceu hoje foi uma resposta aos nossos pedidos. Não estamos mentindo sobre o que vivemos aqui”.
Incertezas e sem detalhes
Ainda na manhã desta quarta-feira, o vice-prefeito, Eduardo Pimentel, esteve na Rua da Cidadania Matriz. Em entrevista coletiva, ele que também é secretário de Obras Públicas de Curitiba, não confirmou se o sistema elétrico da unidade já tinha passado por reformas anteriores.
Sem comentar as reclamações dos permissionários, o vice-prefeito afirmou que o laudo da perícia vai dizer o que aconteceu. A reforma realizada por um dos permissionários, que podia estar no local até 22h, vai ser investigada. “Estamos levantando o que foi feito nessa reforma para saber se teve ligação ou não”, explicou Pimentel.
Segundo ele, a prefeitura estuda a possibilidade de um possível ressarcimento aos permissionários que perderam tudo. Para evitar prejuízos diários até a reforma dos boxes, esses comerciantes vão ser realocados em outros espaços dentro do Centro Comercial.