Empatia, amor ao próximo e cuidado com a terra. Um senhor de 78 anos, morador do bairro Vista Alegre, em Curitiba, deixa de lado as dores no corpo e a dificuldade de locomoção para manter a rua de casa mais bonita aos vizinhos e para os animais que vivem nas proximidades do Parque Tingui. O simpático Durval Teixeira da Cruz, natural de Grão Mogol, norte de Minas Gerais, é exemplo de vida e de legado ao planeta.
A história de vida do Durval é como a de tantos brasileiros que deixaram o plantio para se aventurar em uma cidade grande. Filho de pais agricultores e trabalhadores na roça, a saída de casa foi motivada por sonhos e desejo de uma vida melhor.
“Eu tinha 10 anos de idade quando saímos para o interior de São Paulo, e depois norte do Paraná. Cheguei em Curitiba em 1975, ano da neve. Tinha o irmão Darci, já falecido, ele que fez o convite para trabalhar como servente de pedreiro aqui. Recordo que só sabia lidar com plantação, e ali começou uma grande aventura”, lembrou Durval, que naquela época já era casado e com cinco filhos.
Ao desembarcar na capital foi parar na Rua Frei Valentin Hella, no Vista Alegre. Um bairro tranquilo até hoje, próximo das Mercês e do Pilarzinho, com influência alemã nas construções, inclusive o bairro passou a ser conhecido como “Jardim Schaffer”, em homenagem à família Schaffer, que foi uma das primeiras famílias alemãs a se estabelecer na região.
“Aqui não tinha nada, era só mato. Trabalhei como servente de pedreiro, e depois virei motorista de caminhão de uma construtora, ficava cheio de cal. No começo da década de 1980, entrei na Auto Viação Marechal, e me aposentei. Por ter trabalhado muito tempo sentado, tive problemas no braço e pernas, um desgaste no quadril e para andar preciso de muletas. Ano que vem, farei uma cirurgia e quero andar de novo”, projetou Durval que ainda precisa de medicamentos contra Doença de Chagas.
“É Maluco”
Em 2010, aposentado e querendo manter a cabeça em dia, o morador da Rua Frei Valentin Hella, decidiu colocar a mão na terra e voltar às origens. Começou a limpar a beirada da pista de veículos que estava cheio de mato e entulhos jogados por motoristas de empresas de construção
“Era bambuzal e mato. Comecei a roçar nas laterais e plantei feijão, abóbora e mandioca, mas era muita pedra na beirada. As pessoas passavam e chamavam de maluco, era um velhinho cortando e mancando. Não pegou muita coisa, terreno muito sujo, mas segui firme até perceber que a cana-de-açúcar poderia dar retorno. E deu”, comemorou Durval que vende cada vara por R$ 1,50. “Esse ano deu uns R$ 2 mil, mas não faço pelo dinheiro, faço para ter algo na cabeça”, valorizou o grão-mogolense.
Local tem desde alface até abacate!
Durval é responsável pelo plantio em uma área de aproximadamente 500 metros do lado oposto da casa dele. No trecho, além da cana-de-açúcar, ele planta abóbora, banana, goiaba, abacate, tomate, pepino, cebolinha, jiló, brócolis, alface e outros alimentos.
Quem aproveita as opções são os animais que residem no Parque Tingui, bem próximo da Rua Frei Valentim Hella. “Pássaros tem de tudo, de tucano a gralha azul. Já teve até tatu que encontrei escondido”, comentou o aposentado.
Os moradores também podem aproveitar a colheita e a fama de louco é coisa do passado. “Agora buzinam, elogiam e parabenizam pelo trabalho. É uma distração, mexo na terra e recordo minha infância e meus pais”, completou Durval, um homem que pensa além das fronteiras.