A música “Acorda Pedrinho”, da banda curitibana Jovem Dionísio, é sucesso mundial. O clipe filmado em seis dias em um bar na Avenida João Gualberto, no bairro Juvevê, em Curitiba, possui curiosidades como o cinto de segurança acoplado ao balcão, placas em homenagens aos melhores clientes, e claro, a sinuca em que o Pedrinho tem fama de campeão. Sim, o personagem da canção existe e, às vezes, dorme de verdade numa cadeira do bar. Daí a inspiração pra composição da banda.
A Lanchonete Aquarius, mais conhecida como Bar do Dionísio, nome do proprietário, é um ambiente verdadeiramente raiz pros botequeiros. Balcão e piso de madeira, bebidas de todos os estilos, cores e preços, potes com iguarias como o rollmops (conserva enrolada com filé de peixe e cebola) e conversa fiada estão no cardápio de um ambiente totalmente democrático.
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No dia em que a reportagem da Tribuna esteve no Bar do Dionísio, Pedrinho estava tomando uma cervejinha no Luzitano. A rotina do Pedro Domingo do Prado, 64 anos, é de um aposentado de bem com a vida e querido pelos moradores do Juvevê.
Morador do Centro de Curitiba, Pedrinho diariamente se desloca de ônibus ao bairro da região norte da cidade. Trabalhou por longos anos como garçom no Luzitano e na Pastelaria Juvevê, locais que colecionou amizade e carinho.
Questionado quanto ao sucesso repentino com a explosão da música “Acorda Pedrinho” na internet, o personagem diz que curte o momento, mas confessa que está mais difícil tirar uma soneca nas mesas do boteco. “ Não imaginava o sucesso, mas tem hora que não é fácil. No ônibus, tem gente querendo fazer selfie. A vantagem é que algumas pessoas estão pagando uma cervejinha, mas agora está mais difícil dormir no bar”, brincou essa figura carismática do Juvevila, apelido carinhoso dado ao bairro pelos moradores.
O bar da música
Com o hit “Acorda Pedrinho”, o movimento no Bar do Dionísio ganhou notoriedade. A trajetória de Dionísio e da companheira Elizabeth como comerciantes começou em 1993, quando transformaram a loja de gesso da família em bar. Na época, surgiu como a terceira opção para a região que já tinha o Luzitano e a Pastelaria Juvevê, estabelecimentos que seguem ativos e atraindo clientes.
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“Nós temos uma parceria com os outros bares, pois temos as mesmas dificuldades. O importante que cada um tem seu potencial e o freguês sai ganhando. No Juvevê, as pessoas são bem tradicionais e gostam de valorizar o comércio local. Acredito que a mudança do gesso para um balcão de bar foi importante para a família, pois conseguimos criar quatros filhas”, disse Dionisio Macioski, com 66 anos.
Mesmo com o destaque nacional e internacional, no entanto, o volume de pessoas que agora entram e pedem algo para degustar não aumentou a receita do bar nos últimos dias. “O curitibano é ainda muito pé atrás com alguns lugares. Fazem a foto na frente, olham para ver se encontram o Pedrinho e seguem o caminho. Claro que tem gente que entra e pede algo, mas não são todos. Estamos felizes com a repercussão da música, pois a banda frequenta o bar e queremos o melhor para eles”, comentou Dionísio.
Apesar de não ter ocorrido um crescimento no movimento diário de pessoas no bar, o estabelecimento passou a receber cerca de 5 mil visitações diárias em seu perfil no Instagram (@bardodionisio), onde o número de seguidores subiu de 100 para quase duas mil pessoas.
Cinto de Segurança e placas aos clientes
Além de oferecer bebida e lanches, o Bar do Dionísio possui características que surpreendem. Está “meio” tonto pela bebida? No Bar do Dionísio pode ficar tranquilo, pois não vai se estatelar no chão ao cair da cadeira colada ao balcão, pois três cintos de segurança de Corcel podem ser acionados a qualquer momento.
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“Quando foi obrigatório o equipamento em todo o país, só se falava disso nos jornais. Aí bolei para colocar no balcão como uma forma de brincadeira e pegou. Comprei em um ferro velho, e a turma brinca com o Pedrinho quando ele dorme”, ironizou Dionísio.
Outro diferencial é a homenagem que os proprietários fazem aos melhores clientes. Placas de prata estão expostas em um dos cantos do bar, valorizando a dedicação daqueles que passaram horas contando suas experiências de vida. “Os que mais marcaram foi Doutor Daniel, um promotor de Justiça que sentava sempre no mesmo local e pedia uísque com água de coco. Virou referência, pois as pessoas pediam conselho para ele. Ganhou plaquinha, mas infelizmente faleceu com mais de 90 anos. Outro que marcou época foi Higino, um escrivão de polícia que todos gostavam”, explicou o dono.
Dias na UTI com covid-19
Ano passado, Dionísio foi diagnosticado com a Covid-19. Chegou a ficar cinco dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e quase foi intubado. “Foram 22 dias no total internado, um momento difícil para todos. Insisti muito que não fosse intubado e minha esposa bateu o pé. Graças a Deus não foi preciso fazer essa intervenção e saímos dessa”, relembrou Dionísio.
Apesar dessa vitória, o comerciante está preocupado com o futuro. Aliás, não somente ele, mas todos os locatórios dos bares próximos. A dona dos terrenos deseja aumentar o preço da locação ou mesmo vender os imóveis, o que pode resultar no fechamento do Bar do Dionísio.
“Em maio, ela disse que não teria mais interesse em alugar. Se aumentar, não vou ficar, pois estamos trabalhando somente para pagar o aluguel. Vamos torcer que essa fama ajude, se não der, pegamos outro local ou paramos”, desabafou Dionísio.