Entre costuras!

Heroína anônima: Dona Edite, costureira de Curitiba, é a mãe de duas gerações

Foto: Átila Alberti / Tribuna do Paraná.

Dizem que quando algumas pessoas convivem muito juntas elas começam a ter semelhanças: pode ser um jeito de falar, a forma de gesticular ou até mesmo a maneira de andar. É possível que os primeiros hábitos sejam moldados quando ainda somos crianças. Mantemos um olhar bastante atento e curioso sobre a pessoa com quem somos conectados antes mesmo de abrir os olhos pela primeira vez.

Alguém que muito provavelmente vai ensinar muito, acolher, tomar as dores, colocar os próprios problemas em segundo plano e, acima de tudo, amar. Talvez esses sejam alguns dos traços tão complexos e difíceis de serem traduzidos para explicar o que é ser mãe.

Uma dessas histórias de amor e inspiração é de Edite da Silva e Emily da Silva. Foi se inspirando na mãe – a quem ela descreve como melhor amiga -, que Emily decidiu aprender a costurar, pois desde cedo ela convivia com a mãe trabalhando por várias horas.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

“Desde criança vejo minha mãe costurar. Tinha dias que eu dormia e acordava e ela ainda estava costurando para poder entregar as roupas no prazo combinado. Entendo e gosto da costura pela minha mãe. Poder fazer algo para vestir quando era adolescente era mágico e exclusivo, nunca acharia alguém vestindo alguma roupa igual a minha”, conta Emily.

Dona Edite, como é carinhosamente chamada, tem 79 anos e costura há 64 anos, é uma mulher bastante simpática, carregada por uma energia e jovialidade que impressionam. Edite passa as manhãs e tardes trabalhando com costura em uma loja especializada no Shopping Pátio Batel, em Curitiba.

Apesar de ser uma grande paixão, a linha e agulha não entraram na vida de Edite da forma mais positiva. Em 1960, aos 15 anos, ela teve o primeiro contato com a costura por conta da morte da mãe, que faleceu durante o parto da irmã mais nova de Edite.

Adolescente e enlutada, ela precisou enfrentar a perda daquela que foi seu primeiro exemplo para conseguir ajudar os irmãos – dois mais velhos e três mais novos. “Criei meus irmãos com a minha avó. Costuro sempre, desde os 15 anos. A vida inteira. Naquele tempo, em 1960, era corte e costura. A gente ia para a escola de corte e costura e eu aprendi. Trabalhei muito tempo em Paranaguá. Em 1998 vim para cá [Curitiba]”, relembra.

Desafios da maternidade superados pela costura

Os desafios da vida de Edite também se estenderam para a fase adulta, quando ainda estava vivendo as experiências da maternidade. O marido dela morreu de forma inesperada após sofrer um infarto, quando Emily tinha cinco anos. Nesse momento, como quando tinha 15 anos, ela encontrou na costura a forma de sustentar a filha pequena. “Criei minha família com a costura. Primeiro eu criei meus irmãos, quando minha mãe faleceu. Depois eu criei minha filha”, conta.

Agora, já perto de assoprar as velinhas para comemorar os 80 anos, celebrados no dia 20 de julho, Edite segue firme e forte na profissão. Já faz oito anos que ela está no emprego atual. Antes disso, passou por outros shoppings da capital paranaense e também já trabalhou em casa, mas nunca saiu da área, afinal, como ela mesmo garante: “eu adoro costurar”.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

Edite traz uma lição valiosa de vida para todo mundo, pois mesmo passando por problemas nunca deixou de sorrir e apreciar os detalhes singelos das coisas. Prova disso é a saúde de ferro, um motivo de orgulho pessoal para ela. “Graças a Deus eu tenho saúde, consigo trabalhar. As meninas que são mais novas que eu que estão lá [loja de costuras], vivem mais doentes do que eu. Graças a Deus nunca fiquei doente, acho que uma ou duas vezes que peguei uma virose, mas nunca tive doença nenhuma, tenho muita saúde”, relata animada.

Provando que idade é só um número, ela conta dando risada que as companheiras de trabalho brincam que ela mente quantos anos tem.

A equipe animada da costura

Edite não trabalha sozinha. Em uma sala cheia de encomendas, fios, máquinas, tesouras e outros acessórios indispensáveis para as costureiras, trabalham com ela Sonia Aparecida Perdigão, Yone Camila Vesenick, Edivete Marli Grosskopf e Hiascara Mora.

Edite trabalha com as amigas, uma sintonia que garante muitas risadas e ambiente descontraído. Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

O que fica mais evidente nessa pequena sala não são as roupas que estão prestes a serem arrumadas, mas a sintonia que essas mulheres dividem. Na rotina estão garantidas muitas risadas, piadas e companheirismo.

Enquanto Edite posava para as fotos da reportagem da Tribuna do Paraná, as companheiras do trabalho não deixavam de brincar com ela. “Faz a Edite rir, Yone”, falavam Sonia e Edivete.

Yone, com quem Edite possui uma relação praticamente maternal, não perdia tempo e logo arrancava uma risada sincera de Dona Edite. E assim elas passam as tardes, entre provocações amigáveis e muito trabalho.

Toda essa energia faz bem para Edite, que afirma que não pensa em parar de trabalhar. “Eu adoro trabalhar, se eu fico em casa, as vezes pego férias, pego 20 dias e não vejo a hora de voltar. Eu sempre falo que enquanto eu tiver saúde, eu vou estar trabalhando”, garante.

Dona Edite: costureira, animada, mãezona e…fã de dorama

Apesar de ter tido apenas uma filha biológica, Dona Edite é uma mãezona, sempre pronta para dar conselhos e falar com sinceridade. São essas algumas das características que Yone atribui a ela. As duas se conhecem há quatro anos, quando começaram a trabalhar juntas e desenvolveram uma conexão bastante especial.

“Mais que uma colega de trabalho, ela é uma mãe pra mim. Com sua energia jovial e sua maneira clara de ver a vida, me ensinou muito e continua a me ensinar”, revela Yone.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

Com 40 anos, Yone fala com orgulho das atividades de Dona Edite: ela anda de ônibus sozinha, faz palavras cruzadas dentro do transporte coletivo, assiste filmes legendados e é fã de dorama – gênero de filmes e séries e origem asiática. “Ela chega aqui recomendando os filmes e doramas”, comenta Yone.

“Pego ônibus. Ando por tudo, as vezes minha filha não gosta, mas eu ando por tudo e não tenho medo”, confirma Edite.

“Tudo o que minha mãe faz na idade dela me inspira”

“Tudo o que minha mãe faz na idade dela me inspira. Sempre alegre, disposta, engraçada e danada também, fala o que pensa sempre”, descreve a filha Emily, que também acrescenta que enxerga na mãe o maior exemplo.

Emily possui dois filhos: uma menina de 14 anos e um menino de 17 anos. Viúva recentemente, ela mora com os adolescentes e com a mãe em Curitiba. “Como moramos todos juntos, o exemplo dela é diário, para mim e para meus filhos. Acho que para eles é normal ter uma avó prestes a completar 80 anos e ter toda disposição que ela tem”, conta.

Contente em poder conviver com eles, a família é uma preciosidade para a costureira. “Tenho um casalzinho de netos. É uma maravilha [ser avó]. Só tenho eles e minha filha agora, ela é filha única”, diz.

“No dia 20 de julho de 2024 minha mãe completará 80 anos de muita luta, mas principalmente de muitas vitórias”, comemora Emily.

Mulher, mãe, irmã, amiga, costureira: cada pessoa encontra uma forma diferente de definir a Dona Edite, mas na hora de descrever todos que a conhecem podem concordar que ela é fonte de inspiração e exemplo de amor, força e vitalidade.

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