Setembro será decisivo para o Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) – que há três anos compartilha a gestão do HC com a UFPR – tem até o dia 11 do próximo mês para chamar 1.029 candidatos aprovados em concurso público e incorporá-los ao complexo médico. Caso contrário, a validade do concurso vencerá e os remanescentes não poderão ser contratados. A chegada dos novos empregados é determinante para que o HC consiga cumprir sua meta, de operar na capacidade máxima até o fim de 2017.
O aporte no quadro pessoal do HC é uma promessa antiga da Ebserh. O concurso foi homologado em setembro de 2015, para a contratação de mais de 1,7 mil empregados públicos. A menos de um mês do vencimento do certame, no entanto, o complexo hospitalar atua com apenas 745 funcionários ligados à empresa. Por meio de nota enviada à Gazeta do Povo, a Ebserh garantiu que os aprovados no concurso serão convocados a assumir antes do fim do prazo. A direção do hospital também dá como certa a chegada dos mais de mil novos servidores. Além das garantias da empresa de que os selecionados serão contratados, há uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF) para obrigar que eles sejam efetivamente chamados.
Para o Complexo HC, a chegada dos novos empregados será determinante. Entres as contratações por vir, estão 280 médicos, mais de 200 enfermeiros, além de outros especialistas e técnicos-administrativos. O aumento no quadro pode fazer com que o hospital concretize o seu projeto de expandir o atendimento à capacidade máxima. “Para nós, é importantíssimo que essas pessoas venham. Vai ser decisivo. Com isso, com certeza, teremos condição de operar em capacidade máxima”, assegurou a superintendente do Complexo HC, Claudete Reggiani.
A capacidade máxima significa que o Complexo HC volte a disponibilizar 650 leitos, reativando 230 vagas que hoje estão fechadas, principalmente por falta de pessoal. Entre as áreas a serem beneficiadas, estão todas as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) do hospital. A UTI Neonatal, por exemplo, que atualmente tem 25 leitos, deve voltar a contar com 35.
Novo contrato
Os novos empregados também serão decisivos para que o HC consiga bater as metas estabelecidas no contrato com a prefeitura de Curitiba, que começou a vigorar em agosto deste ano. O novo acordo prevê mais dinheiro ao hospital (R$ 11,2 milhões por mês, ante R$ 6 milhões do contrato anterior), que, em contrapartida, tem que ampliar os serviços. O HC precisará, por exemplo, oferecer 35 mil consultas por mês, das quais 7,5 mil deverão ser a pacientes novos.
“Foi um contrato que demorou cinco meses pra sair. Negociamos todos os detalhes. O [contrato] anterior era ruim, porque levava em conta metas de produtividade baseadas em 2010. Foram mais de 60 reuniões internas para estabelecermos as novas bases”, disse a superintendente do HC.
E é com esse contrato que o hospital espera contornar problemas graves, que vem se repetindo mês a mês: as sucessivas faltas de insumos básicos – desde luvas e seringas a cateteres e falta de manutenção em equipamentos. Recentemente, por exemplo, um aparelho de ressonância magnética que estava parado só voltou a operar porque a associação “Amigos do HC” levantou os R$ 380 mil, para pagar o conserto. A direção do HC reconhece os problemas e avalia que o aporte financeiro maior deve dar “uma folga” administrativa para garantir os serviços.
“No contrato anterior, estávamos sempre no limite. Tínhamos exames caríssimos que tinha pouca cobertura. Falta [dinheiro] mesmo para comprar insumos. Com o novo contrato, teremos uma folga para poder comprar mais”, apontou Claudete.
Críticas
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau Público do Paraná (Sinditest-PR), por sua vez, está cético em relação aos avanços propalados pela direção do HC. O coordenador-geral da entidade, José Carlos Assis, aponta que as contratações feitas via Ebserh até agora não implicaram em melhorias no atendimento e que o sucateamento a que o hospital evidenciado pelas constantes faltas de insumos podem impedir os avanços.
“A entrada dos novos [empregados] não mudou nada. Não se abriu um leito”, disse. “A gente não imaginar onde vão colocar esse pessoal [os mil funcionários a serem incorporador] para trabalhar, porque não tem nem material, nem condições físicas. É bizarro, surreal”, completou.
O coordenador do Sinditest também questionou as novas metas definidas pelo HC. Assis aponta que, em alguns setores, há limite de duração para as consultas e que o sistema vem gerando pressão excessiva – e até casos de assédio moral – nos funcionários. Para ele, um hospital público e universitário não pode ser gerido sob a lógica empresarial.
“Com as metas, veio o aumento dos cargos de chefia e o dinheiro acaba ficando neste bolo. Cria-se a propaganda de que está atendendo mais, mas é uma falácia. Não há qualidade, nem condições para isso. O HC está perdendo seu foco acadêmico, que é a formação de seus médicos”, avaliou o sindicalista.
Para além disso, Assis prevê a estagnação do financiamento do HC, também por causa da aprovação da PEC 55, que impõe um teto para o crescimento dos gastos públicos, e pela gestão via Ebserh. “É um modelo que deu errado no Brasil inteiro e, pelo que temos até agora, vemos que aqui não vai ser diferente”, finalizou o coordenador do Sinditest.
No lugar da UPA
Recentemente, a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) da Matriz, que funcionava em dois andares de um dos prédios do HC, foi fechada. No lugar, o hospital deve abrir uma unidade referenciada – uma espécie de centro de emergência voltado para pacientes que foram atendidos no HC e que receberam alta nos últimos 30 dias, mas que tiveram intercorrência após sair do hospital. Além disso, deve funcionar no mesmo espaço um pronto-atendimento para casos de acidente vascular cerebral (AVC) e dor toráxica.
O Complexo HC
O HC é o maior hospital público do Paraná. Oferece atendimento 100% gratuito, via Sistema Único de Saúde (SUS), no nível terciário, ou seja, em casos de alta complexidade. O hospital tem, hoje, cerca de 3,1 mil funcionários, entre as áreas médica, administrativa e assistencial. Atuam na unidade em torno de 260 professores de medicina, 250 voluntários, 307 residentes de medicina e 109 da residência multiprofissional. Além do HC, o complexo compreende também a Maternidade Victor Ferreira do Amaral, que disponibiliza 50 leitos.