Você conhece os palitinhos Stiksy, os famosos salgadinhos da Elma Chips? Eles foram criados em Curitiba. Nem todos sabem, mas uma antiga casa no bairro do Bom Retiro foi palco para a criação dessa que é uma receita familiar artesanal que faz sucesso até hoje. Em 1959, as irmãs Elfriede Wagner e Maria Unger, casadas com Eugen Wagner e Viktor Unger, começaram a fazer em casa os petiscos que anos depois chamariam a atenção da multinacional PepsiCo, gigante alimentícia norte-americana que até então produzia apenas refrigerantes no Brasil.

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As famílias são de imigrantes alemães Wagner e Unger. E a ideia do palitinho foi inspirada em um salgadinho muito tradicional em Schwarzwald, na fronteira com a França e a Suíça: o Brezel. Ou, como ficaram conhecidos por aqui, os pretzels, que depois vieram a inspirar os palitinhos. Gerhard Wagner, 74 anos, filho de Elfriede, conta que a receita foi mandada por uma tia que trabalhava em uma fábrica de snacks na Alemanha.

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Tudo começou com um forno caseiro e uma receita simples que levava trigo, água e sal grosso misturados à mão e moldados em um moedor de carne adaptado. Era um plano B para os recém-chegados imigrantes: “meu pai veio para o Brasil em 1957 contratado como torneiro mecânico de uma grande empresa, mas a hiperinflação da época corroía todo o salário dele. Precisávamos de uma alternativa. Foi o início das vendas de salgadinhos Pretzel em Curitiba”, relembra Wagner. Na época ele era apenas um menino de nove anos de idade.

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Os salgadinhos começaram a ser vendidos de porta em porta e no Mercadorama, supermercado fundado em 1951 e que, em 2021, mudou de nome para Nacional. A procura pelos salgadinhos só foi aumentando. Em janeiro de 1962, as irmãs Elfriede e Maria inauguraram oficialmente a Padaria e Confeitaria Elma, em um galpão no bairro do Xaxim. O nome vem das iniciais das duas. Foi quando os palitinhos Stiksy começaram a ser fabricados.

Nessa época, o pai de Gerhard, Eugen Wagner, e o cunhado, Viktor Unger ampliaram a loja. A nova estrutura era maior e passou a abrigar uma máquina importada que produzia 40 toneladas de petiscos ao ano, vendidas para todo o Paraná e Santa Catarina. Em 1963, ocorreu o começo das vendas em São Paulo e Rio de Janeiro.

“Mas o tempo ali no Xaxim também não durou muito, e logo tivemos que ampliar de novo a fábrica”, conta Gerhard. Um prédio foi construído no bairro do Boqueirão, entre 1964 e 1965, com 450 metros quadrados.

Fábrica da Elma, no Boqueirão, em 1964. | Foto: Arquivo pessoal

Gerhard conta que o Boqueirão tinha só campo e mato, com muito espaço para abrigar caminhões, estoque e mais uma grande máquina importada. Mas, a crise financeira de 1966 e 1967 pegou a família de surpresa, mesmo com o início das vendas para o Rio Grande do Sul. “O mercado diminuiu, tivemos problemas para pagar os empréstimos que fizemos nos bancos estatais da época, foi um tempo muito difícil”, lembra Gerhard.

Curiosamente, ao invés de diminuir a produção e cortar gastos, a família aposta alto e arrisca decretar a falência completa. Em 1968, Eugen e Viktor conseguiram um novo empréstimo para importar equipamentos mais modernos e automatizados. A aposta acaba se mostrando acertada.

A economia melhorou e as novas máquinas puderam aumentar a produção para 200 toneladas ao ano. A fábrica também já tinha ganho uma ampliação de espaço para cerca de 900 metros quadrados. E como a indústria vive de novidades, Elfriede e Maria criaram mais um salgadinho derivado daquela receita original, e que até hoje é um dos mais vendidos: o Pingo D’Ouro.

Equipamento moderno importado da Alemanha para a fabricação de Pretzel, em 1969. | Foto: Arquivo pessoal

Mercado promissor

Em 1973, o especialista em planejamento estratégico Carlos Wagner (sem parentesco com a família) foi contratado pela PepsiCo para sondar indústrias que já estivessem produzindo snacks, assim a gigante já começaria com uma boa fatia do mercado. “Ela tinha um plano de investimento de 10 anos, e queria a liderança do setor o quanto antes”, conta.

A primeira aquisição foi uma fábrica de batatas fritas em São Paulo, tocada por um imigrante português. Depois veio a Elma, que chegou a disputar o investimento com a Filler, de Porto Alegre. Mas, estrategicamente falando, a escolha da Elma prevaleceu “por conta da logística mais fácil entre o sul e sudeste, da tecnologia, e havia muito espaço para expansão”, explica Carlos Wagner.

Pouco menos de um ano depois, a venda foi concretizada. E como um “prêmio pelo trabalho de tantos anos”, a multinacional manteve o nome adotado pelos fundadores: a Elma-Chips passou a existir apenas no Brasil.

Foto: Arquivo Pessoal

Nova mudança

As instalações do Boqueirão chegaram a ser ampliadas por mais alguns anos até a década de 1980, quando não havia mais para onde crescer. O pastor Marcos Ens, que sempre morou no bairro, conta que os caminhões ficavam enroscados nos fios da rua. “Não era raro eles passarem e levarem os cabos embora, sempre faltava luz por aqui”, lembra.

A Elma Chips foi então para uma nova fábrica construída próximo à Ceasa, na Cidade Industrial de Curitiba, e os galpões do Boqueirão ficaram abandonados por alguns anos até meados de 1993, quando a Comunhão Cristã Abba comprou o espaço. No entanto, Gerhard diz que muita coisa mudou na Rua Cascavel, 750: “hoje em dia nem parece que havia uma fábrica familiar ali”.

De familiar mesmo ficou apenas o nome, “um misto de nostalgia e alegria”, conta o senhor com uma voz embargada e emocionada. Segundo dados da Nielsen Consultoria, muita gente daqui não saiba que o maior mercado de Stiksy no Paraná começou com um forno caseiro em uma casinha no bairro do Bom Retiro.

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