Que sacanagem!

Funcionários que trabalharam no UFC são pagos com duas semanas de atraso

Com a crise que o país enfrenta, trabalhar se tornou sinônimo de sorte. Mas já imaginou trabalhar e não receber? Foi isso que aconteceu com alguns freelancers contratados por uma empresa de Curitiba, que prestaram serviços de segurança e limpeza no UFC no mês passado. Indignados, eles procuraram, na manhã desta quinta-feira (2), a reportagem da Tribuna do Paraná e só depois disso conseguiram o pagamento.

Os valores eram relativamente pequenos, não passavam de R$ 600 em alguns casos, mas importantes para quem trabalhou e precisava desse dinheiro até mesmo para pagar pensão alimentícia. A enrolação no pagamento vinha desde o último dia de evento, que aconteceu no dia 14 de maio, na Arena da Baixada.

Na manhã desta quinta, alguns desses trabalhadores se reuniram na Praça Rui Barbosa para protestar contra a empresa e contar os problemas que vinham acontecendo e ninguém sabia. “Eles nos disseram que pagariam do dia 23 ao dia 25, mas não pagaram. Jogaram para essa semana, aí eu recebi metade, mas muitos colegas não receberam”, disse John Lenon Carlos da Costa, de 28 anos, que trabalhou como segurança.

Ainda conforme o rapaz, os trabalhadores procuraram o Sindicato dos Vigilantes e aí algumas pessoas até receberam. “Com o sindicato pegando no pé, eles conseguiram o dinheiro na hora, parece que foi um milagre, mas teve gente que não recebeu. Eles não cumprem o que estava acordado. Somos freelances, mas conhecemos nossos direitos”.

Kelvin de Jesus da Silva, de 24 anos, também trabalhou como segurança do UFC. Para ele, a empresa devia R$ 580, mas também enrolou para pagar. “Sem palavras. A situação já está difícil e eles fazem isso? Fui quatro vezes até a empresa para tentar receber, mas nada. Disseram que pagariam só dia 29 de junho”.

A indignação era simplesmente para ter o que lhe era de direito. “Afinal, nosso trabalho foi feito, mas a parte deles eles não cumpriram. Eu pago pensão, se eu faltar com o pagamento o que acontece? Vou preso”, desabafou o Kelvin, que contou ter emprestado dinheiro para manter o pagamento em dia e evitar a prisão.

Vanessa Rodrigues de Oliveira, de 33 anos, trabalhou na limpeza do UFC e também não tinha recebido. “Trabalhei seis dias, em esquema de 12h por 12h, das 8h às 20h, sem descanso, sem horário de almoço. A comida às vezes tinha, às vezes não tinha, e quando davam você tinha que engolir a comida porque não dava tempo”, contou.

A indignação era geral na praça, até mesmo de quem já tinha recebido e estava lá apenas para prestar solidariedade aos colegas. “Só a gente sabe o que nós passamos. O trabalho foi muito duro, quase morri trabalhando, e agora nos enrolam assim para pagar? Como assim?”, comentou Vanessa.

A pressão dos prestadores de serviço, do sindicato e a presença da reportagem da Tribuna do Paraná em frente à sede da empresa fez com que todos os trabalhadores recebessem ainda pela manhã. Antes de efetuarem o pagamento, uma funcionária os atendeu na porta e ainda quis lhes dar sermão por “fazerem tumulto”. Lá dentro, de portas fechadas, os funcionários não questionaram o fato de os trabalhadores chamarem a reportagem. “Não discutiram, mas disseram pra mim que não queriam me ver nunca mais na frente deles”, contou Kelvin.

Com John Lenon foi a mesma coisa de Kelvin e eles saíram com a cópia de um recibo de pagamento. Já Vanessa foi a última a receber e ficou quase meia hora dentro da empresa. Pra ela, os funcionários também não falaram nada e pagaram tudo que lhes deviam. “Pelo menos nos pagaram, porque por mais que seja pouco, se a gente trabalhou, é porque a gente precisa”.

A reportagem da Tribuna do Paraná entrou em contato com a empresa e uma funcionária informou que os seguranças que não tinham recebid,o ainda eram patrimoniais, que fizeram o reforço da segurança durante a montagem e desmontagem do evento. Segundo informou a funcionária, os prestadores de serviço estavam cientes de que receberiam em outra data, mas o pagamento foi adiantado por causa do “tumulto” que eles provocaram.

Já o pessoal da limpeza, conforme informou a funcionária, já teriam recebido. Segundo informado, o pagamento teria sido marcado para quarta-feira (1º), mas alguns dos trabalhadores não teriam ido. O pagamento de todos os que não haviam recebido foi feito nessa quinta.

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