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Fumantes têm maior chance de desenvolver quadros graves do coronavírus

Foto: Pixabay.

Por ser uma batalha que se trava principalmente nas vias aéreas e nos pulmões dos pacientes, a luta do organismo contra o novo coronavírus é fragilizada pelo uso massivo do cigarro. Tanto é assim que recentemente a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) trataram do tema em informes esporádicos.

Mesmo sendo a Covid-19 uma doença não totalmente esclarecida e sem evidências fortes sobre a sua relação com o tabagismo, a SBPT faz questão de assinalar que, na China, os quadros graves da doença foram mais prevalentes entre os fumantes. Foram esses pacientes também que apresentaram mais insuficiência respiratória e a necessidade de tratamento em terapia intensiva.

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Esse cenário foi observado especialmente entre pessoas dos grupos de risco: mais idosos e com doenças crônicas não infecciosas agravadas pelo tabagismo. “Entre pacientes com Covid-19 grave, os fumantes faleceram em maior porcentagem do que os que não fumavam”, diz boletim da sociedade, embasado em estudos científicos.

Isso aconteceria, segundo publicação recente da OMS (em seção de perguntas e respostas sobre o tabagismo e a Covid-19), porque condições que aumentam a necessidade de oxigênio ou reduzem a capacidade do corpo de usá-lo adequadamente, como o tabagismo, aumentam o risco para doenças pulmonares graves, como pneumonia. “Os fumantes também podem já ter doença pulmonar ou capacidade pulmonar reduzida, o que aumentaria muito o risco de doença grave”, alerta a OMS em uma de suas respostas.

Segundo o pneumologista João Adriano de Barros, do Hospital Nossa Senhora das Graças, o cigarro altera os mecanismos de defesa pulmonar e aumenta o risco para infecções das vias aéreas. “Há várias estruturas e células nos pulmões que acabam sofrendo alteração ou deterioração de suas funções na presença da fumaça do cigarro, seja pelas substâncias tóxicas encontradas nela, seja pela alta temperatura do inalado. Com estas alterações funcionais, há uma facilidade de agentes infecciosos, incluindo vírus, invadirem os pulmões, se proliferarem e consequentemente causarem doenças que podem ser de grau leve até muito grave, podendo demandar até mesmo de ventilação mecânica”, diz ele.

Outros fatores também são importantes nesta maior incidência de infecção em tabagistas. O cigarro interfere no controle das doenças pulmonares crônicas, particularmente asma e DPOC. “Desta forma, se o pulmão começa a funcionar mal porque a doença respiratória crônica está mal controlada, também acarreta alteração nos mecanismos de defesa pulmonar, facilitando infecções respiratórias”, fala.

Como o cigarro é um agente agressor, ele estimula a defesa do pulmão, promovendo inflamação crônica contra a fumaça do cigarro. “Quando isto ocorre, o pulmão perde a sua capacidade de se defender de vírus e bactérias, porque está se defendendo de outra agressão”, diz o pneumologista.

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De boca em boca

A OMS também aponta algo relevante sobre a provável maior vulnerabilidade ao contágio decorrente de hábitos dos fumantes. “O ato de fumar significa que os dedos (e possivelmente os cigarros contaminados) estão em contato com os lábios, o que aumenta a possibilidade de transmissão do vírus da mão para a boca”, diz o informe.

O pneumologista Barros diz ainda que quando o indivíduo apoia o cigarro em um cinzeiro ou em outra superfície que pode estar contaminada, ele também contamina o seu próprio cigarro.

Os equipamentos de fumar compartilhados estão no centro de alerta para o contágio, segundo a SBPT, pois aumentariam o risco de contaminação pelo novo coronavírus, especialmente se o narguilé e cigarros eletrônicos, por exemplo, forem divididos com pessoas infectadas, muitas das quais assintomáticas ou com poucos sintomas da doença.

“Produtos para fumar, como canos de água, geralmente envolvem o compartilhamento de bocais e mangueiras, o que poderia facilitar a transmissão da Covid-19 em ambientes comunitários e sociais”, diz a OMS.

“Materiais que passam em questão de segundos de mão em mão e boca em boca, são anti-higiênicos e deveriam ser proscritos das atitudes das pessoas que vivem em sociedade”, diz o pneumologista do Hospital Nossa Senhora das Graças.

Complicações

Entre as complicações de saúde que o tabagismo pode causar, segundo a SBPT, estão:

  • Aumento do risco das doenças cardiovasculares isquêmicas (insuficiência vascular periférica, infarto do miocárdio e derrame cerebral);
  • Doenças respiratórias (bronquite e enfisema);
  • Diversos tipos de câncer.

O tabagista também estaria mais suscetível a quadros mais graves do Covid-19 pelo motivo de que o tabaco causa inflamação das mucosas das vias aéreas e prejudica os mecanismos de defesa do organismo, tanto os sistêmicos, quanto os locais. “Por esses motivos, os fumantes têm maior risco de infecções por vírus, bactérias e fungos. Os fumantes são acometidos com maior frequência de infecções como sinusites, traqueobronquites, pneumonias e tuberculose”, diz o informe da SBPT.

DPOC

A DPOC, doença pulmonar obstrutiva crônica, muito ligada ao tabagismo e listada entre as comorbidades importantes no desfecho de mortes em caso de Covid-19, segundo dados do Ministério da Saúde, está relacionada à destruição do tecido pulmonar (enfisema pulmonar) e à inflamação crônica dos brônquios (bronquite crônica). “É uma doença irreversível e causa limitação crônica a uma pessoa pela falta de ar que é gerada. Alguns pacientes têm que usar oxigênio 24 horas por dia”, diz Barros.

“A DPOC se caracteriza pela perda da capacidade pulmonar irreversível, por este motivo seus portadores são grupo de risco. Neste caso da Covid-19, é importante pensar que um pulmão cronicamente anormal pode receber em questão de horas ou dias uma infecção viral grave e difusa. O portador de DPOC não tem reserva pulmonar suficiente para se defender ou suportar aquela agressão aguda e acaba evoluindo para insuficiência respiratória aguda”, diz o pneumologista.

Desta forma, segundo ele, habitualmente este paciente irá precisar de internamento e, se desenvolver um caso mais grave, de UTI com ventilação mecânica. “Finalmente, ele terá maior chance de mortalidade, por não suportar a deficiência respiratória que pode ocorrer, mesmo com a ajuda do ventilador”, diz o pneumologista.

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