Luta e lição de vida

Anos após crime do Morro do Boi, Monik Pegorari luta com todas as forças em tratamento

Monik Pegorari de Lima, 37 anos, vítima de um brutal criminoso, segue dando aula de como é mais fácil viver do que lamentar. Um exemplo que a covardia e a atrocidade dos homens jamais irão superar a vitória dessa guerreira, que luta para voltar a andar após 14 anos da tragédia do Morro do Boi, em Caiobá, no Litoral do Paraná.

No dia 31 de janeiro de 2009, Monik e o namorado Osíris del Corso foram baleados por Juarez Ferreira Pinto. Osíris morreu no local e Monik chegou a ficar 22 dias internada. Ela ficou paraplégica depois de ter sido atingida com dois tiros nas costas. O agressor, Juarez Ferreira Pinto, morreu em 2018 devido a problemas de saúde após passar alguns anos preso. Ele chegou a ser condenado a 65 anos pelo crime brutal contra os jovens.

Morando em João Pessoa, no estado da Paraíba, Monik está no último ano do curso de Farmácia na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Sempre solícita e de ótimo humor, ela bateu um papo de quase uma hora com Tribuna do Paraná, e mandou vídeos e fotos do seu tratamento realizado na fisioterapia. Contou dos projetos para o futuro, o sonho de andar e voltar a morar em Curitiba, citou a paixão pelo Athletico e relembrou os momentos de angústia, tensão e tristeza que enfrentou há 14 anos.

“Aquilo foi cena de filme de terror, sabe Jogos Mortais? Foi muito pior! Hoje, me conformo um pouco, mas sempre é bem pesado o dia 31 de janeiro. Foi coisa de psicopata, é sempre muito emblemático lembrar que o Osíris não está aqui, um cara sangue bom, às vezes penso que Deus recolhe os seus antes”, disse essa amante da vida em um papo com a Tribuna.

Monik Pegorari de Lima
Fotos: Colaboração/Tribuna do Paraná.

Tribuna do Paraná: Monik, como está sua vida em João Pessoa?

Monik Pegorari de Lima:  Eu vim morar aqui em 2012, muito influenciada pela Polícia que pediu para ir morar o mais longe possível do local do crime, pois o bandido estava vivo. Minha mãe morava aqui e meu pai no Mato Grosso do Sul. Comecei a fazer fisioterapia desde então. São seis horas por dia para buscar uma cura. Quero voltar a andar e estou fazendo de tudo para que isso ocorra um dia. Tenho fé!

Tribuna: E está cursando Farmácia?

Monik: Sim, eu estava cursando último ano em Curitiba quando ocorreu o acidente. A universidade não deu espaço e não estavam preocupados em ajudar. Aqui em João Pessoa, passei na Universidade Federal, e iniciei do zero novamente no curso de Farmácia. Acredite se quiser, estou no último ano”.

Tribuna: E como está a sua recuperação?

Monik: Estou ótima. Depois que fiquei na cadeira de rodas, percebi que tem pessoas que conseguem se adaptar, mas eu não. Nessa batalha faço coisas que ninguém faz. Se olhar minha ressonância, minha medula termina na cervical e vai começar de volta na lombar. Foi um arregaço, se o médico olhar o exame, vai imaginar que estou de cama e não faço nada. Hoje eu faço tudo, não tenho nada atrofiado. Minhas pernas estão grossas”.

Tribuna: Alguém auxilia você no dia-a-dia?

Monik: Tenho um funcionário, especialmente devido à sonda. Tem gente que consegue usar, mas não consigo. Brinco que todo xixi que faço, custa R$ 25, e olha que tomo bastante cerveja. Essa é a pior sequela, pois é a dependência que preciso lidar. Naturalmente esse profissional ajuda a trocar de roupa, a pegar algo no alto. A cadeira de roda limita demais”.

Monik Pegorari de Lima
Fotos: Colaboração/Tribuna do Paraná.

Tribuna: E o pulmão?

Monik: Eu não tenho parte do pulmão e nem o diafragma, então é preciso cuidar mais. O período mais pesado da covid-19 foi tenso. Se eu ficar gripada, é bem pior comparada a uma pessoa normal. Brinco até que quando o arroz entra no buraco errado, fico ruim o dia inteiro.

Tribuna: Fiquei sabendo que uma paixão sua está aqui em Curitiba. É o Athletico?

Monik: Faço parte da Embaixada do Athetico, que tem 48 torcedores aqui (João Pessoa). Assistimos todos os jogos e quando o clube está no Nordeste, eu viajo para acompanhar. Sempre fui da torcida Organizada Ultras e nunca desfiz esse vínculo. Fico longe dos amigos, mas sigo vivendo essa paixão que é o futebol.

Monik Pegorari de Lima
Fotos: Colaboração/Tribuna do Paraná.

Tribuna: E o trabalho de modelo?

Monik: Eu fazia antes do acidente e ganhava um bom dinheiro desde os 16 anos. Sigo fazendo até hoje, é um sonho de muita mulher, mas nunca quis ser a Barbie. Faço pelo dinheiro, mas sem muitos planos.

Tribuna: Há 14 anos ocorria a tragédia no Morro do Boi. Como é o dia 31 de janeiro para você?

Monik Hoje me conformo um pouco, mas sempre é bem pesado o dia 31. A sociedade mesmo lembra, pois foi muito agressivo. Foram cenas de filme, sabe os Jogos Mortais? Foi muito pior! Foi coisa de psicopata e sempre é muito emblemático. Lembrar que o Osíris não está aí em Curitiba, um cara sangue bom, às vezes penso que Deus recolhe os seus antes.  A gente perdeu uma pessoa muito importante, tenho um vínculo com a família dele até hoje. Converso com todos diariamente, minha segunda família.

Tribuna: O responsável por essa tragédia já morreu. Qual o sentimento que tem por ele?

Monik: Nunca tive ódio desse maluco, pois uma pessoa normal não faz aquilo. Foi coisa de psicopata, parecia que o capeta estava com ele. Não agimos de forma ríspida, e ele dava risada. Quando ele foi preso, fiquei aliviada, pois ele não faria novamente aquilo se estivesse solto com outras pessoas.

Juarez Ferreira Pinto chegou a ser condenado a 65 anos pelo crime do “Morro do Boi”. Ele morreu em 2018. Foto: Arquivo.

Tribuna: O livro Morro do Boi, das Sombras à Esperança foi lançado em 2015 contando do caso e muito da sua dedicação de voltar a andar. Ainda dá para comprar a edição?

Monik: Sim, inclusive ontem entreguei algumas edições no Correio. Quem quiser adquirir, entre em contato pelo e-mail (nikpegorari@hotmail.com). Também tem na Livrarias Curitiba e disponível na Amazon no formato Kindon por R$ 19,90. Isso ajuda bastante, pois toda a renda é revertida para eu utilizar no tratamento.

Tribuna: Monik, gostaria que deixasse uma mensagem ao leitor da Tribuna do Paraná. Você é um grande exemplo de superação. Parabéns!

Monik: A gente é passível de sofrer um acidente e o preconceito é muito grande. Trate o semelhante como gostaria de ser tratado. Outra coisa, se um médico falar que não tem cura, vá atrás dela. Meu sonho é voltar a andar, estar curada e voltar para Curitiba. Digo que sou curitibana raiz.

O crime do Morro do Boi

Osíris e Monik estavam na trilha, no Morro do Boi, em Caiobá, quando foram abordados por Juarez. Ele levou R$ 90 de Osíris e pediu para que Monik tirasse a roupa. O namorado interveio, foi baleado e morreu na hora. Monik também foi baleada e permaneceu 18 horas esperando por socorro.

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