Uma das mais tradicionais de Curitiba, a Feira do Largo da Ordem, que acontece aos domingos, foi palco de uma abordagem questionável envolvendo indígenas que expõem artesanatos. Informações repassadas pelos envolvidos revelam que foram duas situações distintas que aconteceram no último domingo (24) com a Polícia Militar (PM) e fiscais da prefeitura.
Na feirinha é possível encontrar barracas de produtos variados, como gastronomia e artesanato, e há bastante tempo um grupo que varia entre 10 e 20 indígenas expõem na feira. Como não possuem barraquinhas, eles apresentam os artesanatos em um pano no chão.
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Entretanto, uma situação incomum ocorreu no fim de semana passado. Quando a feira terminou no último domingo, as artesãs indígenas foram abordadas por um grupo de fiscais que representam a Prefeitura de Curitiba. Segundo contou as indígenas para a Tribuna, os fiscais afirmaram que a partir da próxima semana elas não poderiam mais expor os trabalhos na feirinha. Elas comentam que os fiscais falaram da seguinte forma: “Isso ‘tá’ virando bagunça, então vocês não podem mais expor aqui. Domingo que vem a gente não quer mais nenhum indígena expondo nesses espaços”.
Sem entender o que estava acontecendo, as artesãs recolheram as coisas e foram até a Casa de Passagem e Cultura Indígena de Curitiba (CPCI), espaço que é utilizado pelos indígenas que estão na capital. As vítimas contaram o que havia passado e os integrantes da casa acharam a situação estranha, pois a exposição dos produtos indígenas é permitida e acontece há anos.
“É a primeira vez que acontece isso. Nós recebemos vários indígenas do Paraná e de outros estados para fazer a venda do artesanato aqui. Tem uns que possuem banquinhas pequenas e tem aqueles que expõem em um pano no calçadão e sempre esteve tudo bem. Mas no último domingo houve esse ocorrido em uma das principais feiras de Curitiba”, disse um representante da CPCI que prefere não se identificar para a Tribuna.
Para piorar toda essa situação, a CPCI identificou que a Prefeitura de Curitiba não teve nenhuma relação com a proibição declarada pelos fiscais. “A gente entrou em contato com a Funai e ficou sabendo que não foi uma ordem da Secretaria do Turismo. Se fosse um pedido da prefeitura a gente ia dialogar com eles, mas esse pedido não veio deles”, afirmou.
Não se sabe de onde veio essa solicitação, mas a prefeitura confirmou que os indígenas podem continuar expondo os artesanatos nas feirinhas. “O que a gente quer reafirmar é que (essa atitude) não partiu da prefeitura. A gente não sabe o que ocorreu”, declarou.
Indígenas são abordados e revistados
Já a segunda situação que também aconteceu no último domingo (24) na Feira do Largo do Ordem envolveu dois indígenas que estavam expondo os artesanatos e dois policiais militares. Segundo os artesãos, eles foram abordados e as mochilas foram revistadas sem nenhuma explicação por parte da polícia.
Procurada pela Tribuna, a Polícia Militar (PM) explicou que não foi usada força física ou violência na abordagem e que é permitida a busca pessoal durante o trabalho preventivo. “Se o policial suspeitar ou receber alguma denúncia, ele vai fazer a abordagem e busca pessoal (revista). Se ele não usar de violência desnecessária, não há nada de errado nisto”.
O que diz a prefeitura
Em nota, o Instituto Municipal de Turismo (IMT) confirmou que não houve nenhuma proibição de comercialização de produtos indígenas partindo de seus funcionários da administração de feiras ou fiscais.
O IMT também informou que no último mês se reuniu com a Assessoria étnico racial, Urbanismo, IPPUC, Administração Regional, FAS e Casa de Passagem para “dar início a um estudo de alternativas para atendimento e valorização da exposição de produtos dos povos originários, dentro da Feira do Largo da Ordem.
Com a definição, a proposta será encaminhada para a FUNAI”.
A Casa de Passagem e Cultura Indígena de Curitiba usou as redes sociais para falar e repudiar o ocorrido. Confira: