O excesso de fios em postes de Curitiba é um incômodo constante na rotina dos cidadãos, seja pela questão estrutural, estética ou até mesmo pelo risco de acidentes. Não há uma estimativa do volume de cabos instalados nos postes da cidade, mas de acordo com o gerente da área de Projetos e Fiscalização de Compartilhamento de Estruturas da Copel, Oneil Schlemmer, a situação se agravou nos últimos anos por conta do aumento da procura por internet de alta velocidade e a popularização da fibra ótica. “As pessoas precisam de mais rapidez, até pelo home office. Isso aumentou ainda mais na pandemia”, afirma.
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Schlemmer explica que, usualmente, a rede conta com dois tipos de cabos: os metálicos, de concepção mais antiga, e a fibra ótica, fortemente expandida nos últimos anos. O limite é de quatro operadoras para cada poste, mas segundo ele, nem sempre esse limite é respeitado, já que algumas empresas acabam instalando mais fios. Somado a isso, há também a questão dos cabos soltos, que estão cada vez mais aparentes nas ruas porque operadoras instalam novos cabos, mas não retiram os antigos.
Um dos fatores determinantes para o excesso de fios nos postes é que empresas têm a obrigação de “espinar” os fios, ou seja, enrolá-los para que todos virem um só, e, na maioria dos casos, isso não é feito. “Quando não unifica os pontos, dá a impressão que tem vinte cabos, e de fato tem, porque pode ter o principal e mais cinco ou seis cabinhos finos”, diz. A consequência disso é uma possível incidência de fios piratas. “Se não espinar, alguma empresa pode passar o cabo sem o consentimento da Copel”, diz o gerente.
Outro fator que contribui para o emaranhado nos postes é a alta concorrência do setor, conforme aponta o presidente do Instituto de Engenharia do Paraná (IEP) e engenheiro eletricista Nelson Gomez. “São diversas empresas de comunicação que vendem serviços e elas querem pegar esse mercado. Onde você instala o fio, tem retorno maior”, diz.
Identificação dos fios é uma das soluções para reduzir o problema
Um dos entraves para solucionar o problema de excesso é que a Copel não pode cortar os fios porque eles são de propriedade das empresas. “Muitas vezes elas não tiram o cabo antigo e colocam o novo junto, aí a Copel não sabe dizer se está sendo ou não utilizado”, diz. “Se não tem problema de segurança, não posso cortar, porque pela regulamentação, se eu fizer, posso estar lesando os consumidores da empresa”, acrescenta. Desta forma, Gomez sugere que as operadoras identifiquem seus fios, para possibilitar a tomada de medidas cabíveis.
O engenheiro também afirma que a melhor solução seria enterrar os fios, já que, segundo ele, a fiação aérea é mais prejudicial ao meio ambiente e pode causar acidentes. Entretanto, o custo é muito mais elevado, cerca de dez vezes mais caro. “O cabo aéreo não é isolado, a manutenção é mais rápida”, diz. Enquanto o cabo protegido custa em média o dobro do preço e, nesse caso, o procedimento precisa ser feito pois, caso o fio entre em contato com a terra, haverá curto-circuito.
A chegada da rede 5G, segundo Gomez, eventualmente pode diminuir o número de cabos em postes, por ser uma tecnologia cara. “Não é igual celular, em que cada três ou quatro quadras tem uma antena. Com 5G vai ser uma quadra, com a tecnologia melhor, o que deverá diminuir a incidência dos cabos”.
Empresas podem ser multadas por excesso de fios nos postes
Em maio passado, a Copel criou o Departamento de Compartilhamento de Estrutura da Companhia de Energia, uma área específica para enfrentar esse tipo de problema. A estatal, em parceria com a Prefeitura de Curitiba, está autuando empresas para que retirem os cabos soltos ou ociosos. A operação terá início no Centro Histórico, na área de implantação do Projeto Rosto da Cidade, em trechos das ruas Riachuelo, Cândido Lopes, Jaime Reis, Kellers, João Negrão e Marechal Deodoro. Segundo Schlemmer, o projeto é contínuo, sem data limite, e não será restrito ao Centro Histórico.
De acordo com Schlemmer, empresas já foram notificadas com prazo para regularizar a situação. O custo da multa é cem vezes o valor do aluguel do poste, de aproximadamente R$ 600. Se a Copel tiver que solucionar a questão por omissão da operadora notificada, são somados à multa cerca de R$ 1,5 mil por regularização. A multa pode reincidir caso o problema não seja solucionado dentro do prazo de 30 dias.
O projeto também prevê o planejamento da transferência dos fios aéreos para dutos subterrâneos, na região central, onde já há infraestrutura que comporte a alternativa. Os trabalhos devem ser feitos “em curto e médio prazo”, mas com datas ainda a serem definidas, segundo a Copel. Além da parceria com a prefeitura de Curitiba, a Copel também está em contato com outras cidades do interior do estado reorganizar os fios.