Eleição para presidência

Fim da era Ademar Traiano: Alep terá mudança na presidência após 10 anos

Deputado Ademar Traiano (PSD), presidente da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). Foto: Orlando Kissner/Assembleia Legislativa do Paraná

Após uma década como presidente da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), o deputado Ademar Traiano (PSD) vai se despedir do comando da Casa em fevereiro de 2025, mas segue seu mandato como deputado. Ele ocupa a presidência, sem interrupções, desde 2015.

A eleição para a nova Mesa Diretora está agendada para a próxima segunda-feira (12) em votação nominal durante a sessão plenária. A posse ocorre em fevereiro do ano que vem. A data para a eleição foi confirmada nesta terça-feira (6) pelo próprio Traiano. Pelo Regimento Interno, a escolha deve ocorrer em agosto do ano anterior ao início dos mandatos de dois anos.

Serão eleitos presidente, três vice-presidentes além de cinco secretários. Aliados apontam que o atual presidente não deve participar da composição após o desgaste provocado pelo acordo com o Ministério Público (MP), homologado pela Justiça, em que Traiano confessou a negociação e o recebimento de propina.

O atual presidente disse, em coletiva à imprensa, que o cotado à presidência é o deputado estadual Alexandre Curi (PSD) com a deputada Flávia Francischini (União) como vice-presidente e Gugu Bueno (PSD) como primeiro secretário, sem indícios de uma chapa concorrente à Mesa Diretora.

Presidência de 10 anos de Traiano na Alep é cercada por polêmicas

Traiano tem mais de 40 anos de vida pública e se diz orgulhoso por 11 eleições consecutivas: primeiro como vereador, depois prefeito na cidade de Santo Antônio do Sudoeste, no Sudoeste do Paraná e na sequência nove vezes deputado estadual. Chegou à presidência da Assembleia Legislativa do Paraná em 2015 e, apesar da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que limitou reeleições ao Legislativo, disputou a quinta eleição pelo comando da Casa se mantendo na função de 2023 até fevereiro de 2025, com a chancela do governador Ratinho Junior (PSD).

Nos bastidores, cogitava a disputa de um sexto mandato até final do ano passado, mas desistiu após a repercussão do caso do Acordo de Não Persecução Penal (ANPP), firmado com o Ministério Público do Paraná em 2022 e homologado pela Tribunal de Justiça do Paraná.

O caso estava sob sigilo e foi revelado em dezembro de 2023. No acordo, o deputado admitia ter recebido propina no valor de R$ 100 mil para renovar o contrato com a TV Icaraí para produção de conteúdo para a Alep, junto com o ex-deputado Plauto Miró que também teria participado do esquema. Cada um teve que pagar mais de R$ 700 mil aos cofres públicos entre ressarcimento e multas para não responder judicialmente, conforme o acordo.

O processo ficou conhecido após Traiano acionar o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar contra o deputado Renato Freitas (PT). Na sessão plenária do dia 9 de outubro do ano passado, Freitas chamou Traiano de “corrupto” depois de ter o microfone cortado durante pronunciamento. O presidente da Casa afirmou que “Freitas teria de provar que ele era corrupto” e em no seu processo de defesa, o parlamentar petista anexou o ANPP Ao chegar ao conhecimento da imprensa, o acordo chegou a ser alvo de censura em decisão judicial a pedido da defesa Traiano.

Nome do deputado apareceu em delações da Quadro Negro e Lava Jato

Em outro caso, desta vez envolvendo a operação Quadro Negro que apurou desvios de cerca de R$ 20 milhões que deveriam ter sido aplicados em obras e reformas de escolas estaduais, o nome de Traiano apareceu mais uma vez. Em colaboração premiada, um empresário ligado à Construtora Valor apontou Traiano como beneficiário do esquema com repasses financeiros.

Seriam recursos não declarados para a campanha de Traiano como deputado estadual em 2014. No fim do ano passado, o ministro do STF Dias Toffoli arquivou o processo contra o ex-governador Beto Richa (PSDB). Em julho deste ano, o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) anulou as ações.

O nome de Ademar Traiano também foi mencionado na operação Lava Jato, em delações que envolveram a Odebrecht. Segundo as denúncias, Traiano estaria vinculado a doações de caixa dois de campanha em 2010. O deputado chegou a assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com MP paranaense, em 2017, em que se comprometia a não participar mais de “eventual ilícito” e assim deixou de responder a um processo na Justiça por improbidade administrativa.

No alvo da apuração estava o pagamento de salários a servidores comissionado entre 2001 a 2006, acima dos tetos remuneratórios da administração pública. A nomeação do filho de Traiano no gabinete do parlamentar também foi investigado. No TAC, o deputado se comprometeu a devolver recursos públicos para não responder judicialmente.

Ademar Traiano foi procurado pela Gazeta do Povo para se manifestar sobre seu período no comando na Assembleia Legislativa e os casos polêmicos envolvendo seu nome, mas até a publicação desta reportagem não havia se pronunciado. O espaço segue aberto para as manifestações.

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