Um longa-metragem que está sendo produzido e filmado em Curitiba contará a história de Ana Beatriz Fortes, irmã da líder estudantil Elisabeth Franco Fortes, que foi presa na capital paranaense durante a ditadura militar, nos anos 1970. Ana Beatriz sofreu abusos e torturas apenas por visitar a irmã e, com isso, levantar a suspeita de atuar como “pombo correio” de uma conspiração contra o governo, que queria obter informações sobre supostos guerrilheiros.

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O filme chamado “Entrelinhas” está nas últimas semanas de gravação. Embora seja uma ficção, ele é inspirado em uma história real e conta com 80% da equipe composta por paranaenses, inclusive os atores. A finalização está prevista para abril de 2023, quando a produção deve começar a ser inscrita em festivais internacionais. A previsão é de que o longa chegue aos cinemas no primeiro semestre de 2024. 

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O diretor do filme, o cineasta Guto Pasko, da produtora GP7 Cinema, de Curitiba, contou que o roteiro começou a ser elaborado em 2013. Mas a história das irmãs paranaenses que moravam em Curitiba chegou até ele ainda em 2005, durante a gravação de um documentário na Ucrânia. “Eu estava em Kiev. No mesmo hotel, por coincidência, estava hospedado o Vitório Sorotiuk, presidente da Representação Central Ucraniano-Brasileira. Eu o conhecia, combinamos um jantar e, durante um papo e outro, ele me disse que tinha uma história que poderia se transformar em filme”, contou Guto.

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O Vitório tinha sido preso junto com a Elisabeth Franco Fortes, na operação militar “Pente Fino”, ocorrida na Chácara do Alemão, no bairro Boqueirão, que na época prendeu 42 estudantes num congresso estudantil clandestino.

Mais tarde, já no Brasil, o diretor foi procurar as irmãs. “Conversamos e elas nos autorizaram a roteirizar a história. A ideia foi amadurecendo. Em 2013 começamos a desenvolver o roteiro em equipe e, agora, o filme está se tornando realidade. A Bia foi torturada apenas por visitar Elisabeth, semanalmente, no presídio do Ahú. Ela tinha 18 anos. Por acaso, o momento atual histórico em que vivemos torna o tema do filme impactante”, explicou Pasko. O roteiro também é assinado por Tiago Lipka, Rafael Monteiro e Sebástian Claro. A produção é de Andréia Kaláboa, com distribuição da Elo Company.

Personagens

Elisabeth Franco Fortes é jornalista, tem 73 anos, e foi presa em Curitiba durante a ditadura. Na época dos fatos, a irmã Ana Beatriz tinha 18 anos e Elisabeth 22 anos. “Minha irmã me visitava na cadeia. Ela foi presa quando estava indo para o trabalho. Sumiram com ela por uma semana. Meu pai e irmão desesperados por notícias, indo a hospitais e IML. Ninguém achava. Até que a trouxeram de volta. Bateram na casa do meu pai e, simplesmente, pediram desculpas e disseram que tinha sido um engano”, conta a jornalista, em entrevista concedida aos produtores do filme.

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Durante a semana que ficou presa, Ana Beatriz sofreu tortura com choque elétrico e foi ameaçada de ser jogada nas Cataratas do Iguaçu, do alto de um avião. “Ela tinha o cabelo comprido. Eles a penduravam no pau de arara, de cabeça para baixo, com os cabelos dentro de um balde de água. Aí, vinham os choques. Queriam que ela contasse uma coisa que ela sequer sabia. Isso é ditadura”, relembra a Elisabeth Franco.

Foto: Natasha Durski/Divulgação

Filmagens

As filmagens do longa-metragem “Entrelinhas”, que começaram em 19 de maio, estão previstas para seguirem até a segunda quinzena de junho. As gravações ocorrem em Curitiba, em locações produzidas para simularem a paisagem típica dos anos 1970. A responsável pela direção de arte é a Isabelle Bittencourt.

A protagonista do filme, Ana Beatriz, é vivida pela atriz Gabriela Freire. O elenco principal conta ainda com os atores Leandro Daniel, Daniel Chagas e Eduardo Borelli, na pele de agentes da ditadura militar. Os atores Mauro Zanatta e Patrícia Saravy interpretam os pais das duas irmãs.

O filme adota a tecnologia HDR, capaz de captar e exibir imagens de alta definição mais realistas e naturais. Presente em grande parte dos novos aparelhos de televisão e mesmo nas telas dos celulares, o HDR tem se tornado um padrão em grandes produções do exterior, seja no cinema ou no streaming, mas ainda é pouco adotado em obras nacionais, muito por conta do alto custo dos equipamentos e da adaptação dos sets de filmagem. 

Segundo GP7, a adoção da tecnologia foi possível por uma parceria com a Canon do Brasil. O filme conta não só com câmeras e lentes adaptadas para a tecnologia, mas também com monitores capazes de exibir, em tempo real durante a gravação das cenas, as imagens em HDR. Com isso, adianta-se inclusive o processo de pós-produção. Até por isso, a equipe de fotografia do filme conta com um colorista já no set de filmagem – profissional que, geralmente, participa apenas do processo de finalização do filme, após as gravações.

Foto: Natasha Durski/Divulgação

“Com a ajuda dessas ferramentas tecnológicas, conseguimos criar um universo de época como o visto em ‘Entrelinhas’ e transportar o público para aquela situação, para que ele tenha uma imersão maior e entre dentro da história. Isso ajuda para que o público mergulhe nesse universo dos anos 1970, se relacione com aquilo e, mais do que isso, se sensibilize”, relata o diretor de fotografia Alziro Barbosa. 

Equipe

Conforme explicou a produtora, a equipe técnica e artística do filme conta com aproximadamente 60 pessoas. O elenco principal, coadjuvante e pequenos papéis é de aproximadamente 39 atores.

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