A linha de ônibus do transporte coletivo Alferes Poli, em Curitiba, segue recebendo um título que não pode ser comemorado. É considerada a campeã de invasões por dia em Curitiba e, desde 2017, é tratada como a “linha do terror ou mesmo Alferes Nóia”. Moradores em situação de rua e usuários de drogas costumam pegar carona com o veículo que se desloca do Centro até o bairro do Parolin. A reportagem da Tribuna embarcou no microonibus e a experiência foi terrível. Ameaças, medo e incertezas fizeram companhia nessa viagem de apenas algumas quadras.
A Guarda Municipal tem realizado operações de rotina para evitar possíveis problemas dentro do micro-ônibus. Simulacros de arma de fogo (arma de brinquedo) e entorpecentes foram recolhidos nos últimos dias pelos agentes que chegaram a expulsar 30 pessoas em uma abordagem.
A reportagem da Tribuna do Paraná entrou no ônibus e percebeu que a linha é dedicada para quem não vai pagar a passagem. Aliás, quem cumpre a lei de efetuar o pagamento na Alferes Poli deveria ser recompensado, pois este parece não ser um comportamento comum naquela linha, que não tem cobrador por se tratar de um veículo pequeno.
A estratégia dos invasores é simples e nem precisa de um grande esforço. Esperam o “amarelinho” chegar no ponto e embarcam. No trajeto Centro-Bairro, a primeira invasão ocorre na Praça Rui Barbosa. A Alferes Poli estaciona e o motorista já recebe a pressão da turma que o espera. Ao abrir a porta, a pessoa entra carregando sacolas, carrinho de supermercado, pedaços de madeira, colchões, fogão, ou seja, tudo que for possível levar. Ah, sem esquecer do melhor amigo dos humanos, os cachorros. Em 2017, um toldo foi colocado em cima do ônibus para ser transportado.
O motorista do transporte coletivo tem noção do que pode ocorrer caso venha a enfrentar um invasor e prefere adotar a cautela no dia a dia. Sendo assim, ele não consegue cobra a passagem, muito menos proibir alguma atitude durante o percurso que se encerra na Avenida da República, no Parolin.
“Eles não fazem nada e posso dizer que aqui não tem roubo. Querem apenas de deslocar até onde eles moram, eu imagino. Nem pergunto se tem cartão, pois quem vai pagar já entra com o cartão na mão (a linha não aceita dinheiro). Digo que o pior horário é no fim da tarde, mas é o dia inteiro assim”, relatou o motorista que pediu para não ser identificado.
A condição interna do ônibus sofre com o abandono. As cadeiras são antigas, os tapetes estão descolando e o mau cheiro predomina mesmo com as janelas abertas. Segundo o Sindicato de Motoristas e Cobradores de Curitiba (Sindimoc), a situação é bem conhecida da categoria até pelas publicações de quatro anos atrás da Tribuna do Paraná.
O presidente Anderson Teixeira salientou que seguidamente vem pedindo apoio da Urbs para buscar uma solução de uma linha problemática. “Já perdi as contas das vezes que entramos em contato com a Urbs, a Guarda Municipal para resolver essa questão. Não vejo que acabar com a linha venha a solucionar a questão, pois pode prejudicar até os motoristas que trabalham na Alferes Poli. Nós orientamos ao trabalhador que não enfrente os invasores e não crie caso. Uma ideia é alterar um pouco a rota e aumentar a fiscalização”, alertou Teixeira.
Para quem precisa utilizar o transporte coletivo, a dica é utilizar a linha Guilhermina, que tem um trajeto semelhante ao “Alferes Nóia”.
Operações da Guarda Municipal
Nas últimas semanas, a Guarda Municipal de Curitiba vem realizando operações para retirar os invasores do ônibus e ainda buscar drogas e armas. No último dia 15 de maio, os guardas constataram que 22 pessoas entraram no coletivo sem pagar a passagem e encontraram um simulacro de arma de fogo embaixo de um dos bancos do ônibus. Vanderson Cubas, inspetor responsável pelo núcleo regional da Matriz da Guarda Municipal, reforça que o trabalho está sendo realizado para dar segurança para quem paga a passagem.
“Nas abordagens, paramos no meio do trajeto. Já chegamos a tirar 30 pessoas de dentro no ônibus. Fazemos a revista e a identificação e já recolhemos dois simulacros e drogas. Estamos fazendo esta operação de um pedido da Urbs e pela população. Eles moram no Parolin e outros são moradores em situação de rua e orientamos que qualquer situação de desconforto, entre em contato conosco pelo 153, telefone da GM”, comentou o inspetor.
E aí, Urbs??
A Tribuna do Paraná questionou a Urbs sobre a linha, bem como o motivo de manter um itinerário que praticamente só tem invasores, mas não obteve resposta até o prazo estipulado com a assessoria de imprensa.