Residência oficial do governador do Paraná até 2010, a Granja Canguiri, em Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba, recebeu as primeiras adequações para ganhar uma nova função. A área de 27 mil metros quadrados em uma reserva ambiental está sendo reformada para sediar a Escola Agrícola 4.0 em 2022. Entre os recursos que a nova unidade educacional terá, estão drones, radares GPS, impressores 3D e outros equipamentos para medições agrícolas.
LEIA TAMBÉM:
>> “A variante Ômicron vai chegar ao Paraná, se já não chegou”, alerta Beto Preto
>> Gasolina mais barata do PR fica em Curitiba, revela ANP. Veja lista com preços nos postos
>> Internauta faz piada sobre radares em Curitiba e Greca responde na lata! Como não ser multado?
Com investimento de R$ 482 milhões, a primeira etapa da readequação da Granja Canguiri teve reparos e pintura, melhorias na sala de informática, na caixa d’água e na passarela que dá acesso ao vizinho Parque da Ciência. A estrutura vai servir de suporte para as atividades do Centro Estadual de Educação Profissional Newton Freire Maia, que fica no mesmo terreno e tem 550 alunos, sendo 150 internos de cidades mais distantes.
A Escola Agrícola 4.0 será o primeiro Centro de Tecnologia do Estado (Cetec), com ensino de disciplinas tecnológicas e de sustentabilidade. A proposta do governo é transformar a Granja Canguiri em um laboratório de práticas a serem replicadas nos outros 18 colégios agrícolas do estado.
No início do ano que vem, o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Educacional (Fundepar), responsável pelas obras na granja, vai abrir licitação para ampliação do colégio, além de instalação de painéis de energia solar, de captação e reutilização de água de chuva, de novas estufas.
Onze anos desocupada
A Granja Canguiri deixou de ser a residência oficial do governador em 2010, último ano da gestão de Roberto Requião à frente do estado. De lá para cá, o imóvel permaneceu desocupado, sendo usado esporadicamente para reuniões.
A propriedade do estado foi alvo de diversas especulações ao longo de mais de uma década. O ex-governador Beto Richa (PSDB) não quis morar no imóvel e tentou colocá-lo à venda. Diante da repercussão negativa, Richa desistiu de vender a Granja Canguiri.
Já o atual governador, Carlos Massa Ratinho Jr (PSD), também prometeu vender a propriedade na campanha eleitoral de 2018. O argumento era de acabar com “mordomias e desperdícios”. Porém, Ratinho Jr também foi demovido da ideia e em 2020 decidiu transformar a área na Escola Agrícola 4.0.
História
A Granja Canguiri tem quase um século. A residência foi construída no fim dos anos 1920 na gestão do então presidente do Paraná, Affonso Alves de Camargo – cargo equivalente ao de governador na época. Algumas das principais decisões políticas da história do Paraná foram tomadas na granja.
Pelo menos três governadores moraram no Canguiri: Jaime Canet (1975-1979), José Richa (1983-1986) e Roberto Requião em seus segundo e terceiro mandatos (2003-2010). Requião foi o que mais usou a Granja Canguiri para agendas políticas, recebendo na residência oficial deputados, prefeitos, governadores e até o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Requião também gostava de cavalgar pela propriedade nos momentos de folga.
Em 1969, o governador Paulo Pimentel teve que despachar por três dias da Granja Canguiri já que o Palácio Iguaçu havia sido cedido para abrigar o general Arthur da Costa e Silva, então presidente do Brasil.
Em 1964 foi construído na propriedade o Parque de Exposições Agropecuárias Marechal Humberto Castelo Branco. O parque recebeu por décadas as principais feiras e eventos agrícolas do estado. Com a construção de novas barragens em Pinhais para reforçar o abastecimento de água em Curitiba e Região Metropolitana, a área onde está a Granja Canguiri virou de preservação ambiental, o que impediu as exposições agropecuárias a partir de 1998. Em 2002, foi instalado na propriedade o Parque da Ciência Newton Freire.
Campo de concentração
A propriedade chegou a funcionar com uma espécie de campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1942, a lei de segurança nacional exigia que imigrantes do Japão, Alemanha e Itália – nações que formavam o Eixo – fossem retirados da faixa litorânea de todo o Brasil. A exigência era de que esses imigrantes fossem mantidos a pelo menos 100 quilômetros de distância do mar.
Com isso, 85 imigrantes foram retirados em setembro de 1942 de Antonina, no Litoral do Paraná. Eram 53 japoneses, 10 alemães e 22 italianos.
Os imigrantes japoneses foram levados inicialmente para uma chácara no bairro Mercês, em Curitiba. Na sequência, foram transferidos pelo Exército para estações agrícolas experimentais do estado, entre elas a Granja Canguiri. Lá, exerceram trabalho forçado. Já as crianças foram separadas dos pais e levadas para outra área agrícola em Castro, nos Campos Gerais. Os imigrantes teriam permanecido no Canguiri até o fim da guerra, em 1945.