O advogado Carlos Felisberto Nasser, ex-funcionário da Casa Civil do governo do Paraná, declarou ao Ministério Público Federal (MPF) que o dinheiro que recebeu da Rio Tibagi, subsidiária da concessionária de pedágio Econorte, foi destinado a campanhas eleitorais.
O MPF anota que, entre 2007 e 2015, segundo dados de quebra de sigilo bancário, a empresa Power Marketing Assessoria e Planejamento Ltda, que pertence ao ex-funcionário da Casa Civil, recebeu um total de R$ 2.155.543,60 da Rio Tibagi.
O próprio Nasser já admitiu, contudo, que a Power Marketing nunca registrou nenhuma atividade. A empresa, reforça o MPF, “não tem existência física, empregados ou sede, nem possuiu em qualquer momento estrutura que justificasse a efetiva prestação de serviços” à Rio Tibagi.
A informação consta na denúncia do MPF oferecida à Justiça Federal na segunda-feira (2), na esteira da Operação Integração, deflagrada em fevereiro no âmbito da Lava Jato. Mas, na peça, os investigadores não revelam se Nasser disse quais políticos e quais campanhas eleitorais exatamente teriam recebido o dinheiro.
Segue comissionado
Hoje com 78 anos de idade, Nasser foi nomeado em 2013 para um cargo comissionado na Casa Civil, na gestão de Beto Richa (PSDB). Logo após a deflagração da Operação Integração, ele foi exonerado. Nesta segunda-feira (2), o MPF acusou Nasser formalmente pelos crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Nesta terça-feira (3), a reportagem ligou para o escritório em Curitiba das advogadas de Nasser, Nicole Muffone e Elisa Blasi, mas não conseguiu contato. Também procurado pela reportagem, o Palácio Iguaçu não quis comentar o assunto.
Além de Nasser, outras 17 pessoas foram denunciadas. Entre elas, estão o presidente da Rio Tibagi, Leonardo Guerra, o presidente da Econorte, Hélio Ogama, e o ex-diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) Nelson Leal Júnior.
De modo geral, os investigadores apontam troca de benefícios ilegais entre a alta cúpula do DER e pessoas jurídicas ligadas ao Grupo Triunfo, controlador da Econorte, concessionária de pedágio que administra desde 1997 mais de 340 quilômetros de rodovias federais e estaduais no Paraná.
O Grupo Triunfo, por enquanto, não tem se manifestado à imprensa sobre pontos da investigação, embora alegue que está colaborando com as autoridades.
As defesas dos três – Nelson Leal Júnior, Hélio Ogama e Leonardo Guerra, todos presos preventivamente há mais de um mês – negam os crimes apontados pelo MPF. A denúncia ainda será analisada pela Justiça Federal, que pode acolher ou rejeitar a acusação.
Réu da Publicano, primo de Richa é mencionado na denúncia
Primo do governador do Paraná, Beto Richa, e considerado até 2015 um nome influente nos bastidores da gestão do tucano, o empresário Luiz Abi Antoun acaba aparecendo na denúncia oferecida pelo MPF na esteira da Operação Integração.
O nome de Abi, que é réu da Operação Publicano e da Operação Voldemort, é destacado pelo MPF porque foram identificadas ligações entre os telefones dele e de Nelson Leal Júnior, que ocupou o cargo de diretor-geral do DER entre 2013 até sua prisão, mês passado.
Dados telefônicos registram contatos no ano de 2014 entre Nelson Leal Júnior e um terminal que consta na agenda do celular de Leal Júnior como telefone do contato “Luiz Abi”. O MPF pontua que Abi “teve envolvimento com corrupção no governo do Paraná, sendo apontado como captador de propina e de recursos destinados à campanha eleitoral de Carlos Alberto Richa”.
O PSDB e o governador do Paraná sempre negaram “caixa 2” na campanha de reeleição. Nesta terça-feira (3), procurado pela Gazeta do Povo, o Palácio Iguaçu não quis comentar o assunto.
A reportagem também ligou para dois advogados de Abi, Antônio Carlos Coelho Mendes, de Londrina, e Roberto Brzezinski Neto, de Curitiba, mas ambos explicaram que defendem o primo de Beto Richa em processos específicos – não relacionados à Operação Integração – e que não possuem contato frequente com ele.
O advogado de Nelson Leal Júnior, Beno Brandão, informou que ainda não analisou integralmente a denúncia do MPF e que não tem conhecimento sobre ligações entre seu cliente e Abi.
Ao contrário de Nelson Leal Júnior, Abi não é alvo da investigação do MPF e não figura no rol de acusados na peça oferecida na segunda-feira à Justiça Federal.