No começo da semana, rumores sobre misteriosas marcas numa plantação de trigo na Colônia Zacarias, em São José dos Pinhais, levantou dúvidas em muita gente. Até dos ufologistas – os especialistas em ETs.
Os moradores da zona rural da cidade vizinha de Curitiba notaram que parte do trigo havia deitado, causando estranhos desenhos na vegetação. Houve quem comparou os desenhos com outros encontrados na Espanha e na Rússia. Mas, afinal, seriam os desenhos na lavoura e em São José dos Pinhais uma forma de comunicação de seres extraterrestres, os chamados agroglifos?
Os agroglifos são figuras geométricas regulares feitas supostamente por vidas de outros planetas em plantações. Esses desenhos são investigados por ufólogos, que associam o fenômeno bizarro a mensagens de ETs – bem no estilo da série Arquivo X.
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Foi pela manhã do dia 2 de outubro que o comerciante Elcio Negosek Junior, de 25 anos, percebeu que parte do trigo havia deitado. Na noite anterior, por volta das 2 horas da manhã, Junior acordou com um forte barulho…de chuva. “O pessoal colocou na cabeça que é alguma coisa. Mas tudo indica que não foi nada. Eu concordaria com a ideia [dos agroglifos] se eu não morasse aqui perto e se não tivesse chovido. Mas tinha muito vento, com certeza foi o vento”, é enfático o comerciante.
Segundo o professor Marcelo Yamashita, diretor científico do Instituto Questão de Ciência, os agroglifos são figuras geométricas regulares feitas em plantações que se originaram com uma brincadeira na década de 1970, na Grã-Bretanha. “Isso foi replicado ao longo do tempo em diversos lugares e a explicação é sempre a mesma: alguém que resolveu brincar de desenhista em plantações”, explica o cientista.
Os formatos na plantação de trigo em São José dos Pinhais também chamou a atenção de Ademar Gevaerd, um dos principais nomes da ufologia brasileira, diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores (CBPDV) e editor da Revista Ufo. Ele chegou a ir à plantação de trigo em São José dos Pinhais para investigar a situação com os próprios olhos e cravou: os desenhos não têm nada de fenômeno extraterreno.
“O que aconteceu lá foi ação do vento, mais nada. Nada de extraordinário. A gente gostaria que fosse um avistamento, um agroglifo verdadeiro, mas ali não tinha nada de ufológico”, afirma Gevaerd.
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No caso de um agroglifo verdadeiro, o ufologista diz que há interferência eletromagnética na região, avistamento de focos de luz, odores diferentes, sensações intensas, o que não foi presenciado em São José dos Pinhais. “Algumas sensações são subjetivas, outras muito objetivas, observáveis. Não tem o que comentar sobre o que aconteceu em São José dos Pinhais”, esclarece o ufologista.
Vento, chuva e prejuízos
Efeito da visita de ETs ou não, para o agricultor Valdomiro Nogas as misteriosas marcas só causaram prejuízo na sua plantação, como ainda tem que lidar com os curiosos que foram até a lavoura conferir pessoalmente as mascas no trigueiro.
“Queria descobrir quem está ganhando com essa história de extraterrestre pra eu também receber minha parte. Veio um monte de gente aqui, tirar foto. Agora temos que arcar com as consequências”, lamenta seu Valdomiro.
Por causa da quebra dos talos do trigo, a perda estimada é de 50% de toda a lavoura da região. O prejuízo financeiro exato ainda foi calculado. Isso porque vai depender se na hora da colheita a máquina vai conseguir aproveitar o trigo prejudicado. “Nas lavouras que o trigo estava mais novo, que ainda não tinha o grão, ele deitou e levantou de volta. Os que quebraram foram os mais maduros”, esclarece o agricultor.
A hipótese do agricultor é de que realmente a chuva teria deixado a planta mais pesada na parte de cima ao cair nas pétalas do trigo. O peso acabou forçando o talo, que estava seco por causa da estiagem, e quebrou com a ação do vento.
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Seu Valdomiro diz que não é a primeira vez que isso acontece. “Sempre vi isso acontecer. Aconteceu no ano retrasado, numa lavoura de cevada em Fazenda Rio Grande. Foram 15 alqueires, deitou tudo. Milho também já vi acontecer há 10 anos, em Quatro Barras. Deitou tudo com o vento”, lembra o agricultor.
Sobre a possibilidade de extraterrestres em seu terreno, seu Valdomiro reforça, “são coisas da natureza. O povo não tem o que falar. Tem uns e outros falando abobrinhas. Dá até dó do pensamento das pessoas”, critica.